As eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, e de 2018, no Brasil, levantaram a discussão – e também a preocupação – sobre a proliferação das fake news. Segundo artigo publicado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Identidades e Fronteiras, do Departamento de Ciências da Comunicação do campus sede da UFSM, o fenômeno das notícias falsas ocorre a partir de dois fatores: a quebra da credibilidade da mídia de referência, junto com o avanço da produção e compartilhamento de conteúdos nas redes sociais. No Brasil, as notícias falsas tomaram as redes e atingiram grandes proporções em dois momentos no último ano: após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em março, e durante as eleições presidenciais, ocorridas em outubro.
Ainda são poucas as pesquisas acadêmicas sobre o assunto, assim como as soluções para o problema. Foi nesse cenário que o projeto de extensão Compreender os Letramentos Locais para (in)formar novos leitores, do curso de Jornalismo da UFSM do campus de Frederico Westphalen, aplicou um estudo de percepção de fake news na cidade, com alunos do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual de Educação Básica Sepé Tiaraju.
O projeto de extensão, que iniciou em 2017, tem a intenção de proporcionar uma compreensão mais ampla da leitura, que vá além dos textos escritos e possibilite uma interpretação ou uma ressignificação da realidade social e local. Segundo a coordenadora do projeto, a professora Marluza da Rosa, a iniciativa não objetivava saber se o público lê ou não. A preocupação sempre foi compreender o que o público está lendo e como ele está lendo, motivando-o a interpretar os textos de forma crítica. Assim, as pessoas deixam de se apropriar das notícias apenas para se informar, mas as utilizam para sua formação como cidadãos e sujeitos sociais.
Nota baixa na percepção de fake news
A pesquisa foi ancorada na leitura, pelos participantes, de manchetes de notícias em redes sociais, na intenção de fazê-los identificar se os conteúdos eram falsos ou não. Ao final, o desempenho de cada um era avaliado pelos índices baixo, regular ou bom, de acordo com os acertos.
Dos 20 alunos participantes – com idades entre 14 e 17 anos -, 11 apontaram que, além de estudar, também trabalham, e 14 têm renda familiar igual ou superior a dois salários mínimos vigentes (R$ 954,00/julho de 2018).
Quanto à percepção de fake news, o índice da turma foi classificado como baixo. Houve uma média de sete acertos em relação às 17 manchetes apresentadas a cada aluno. Avaliando individualmente cada participante, apenas três tiveram índice bom, seis obtiveram regular, e onze, baixo. Para a professora Marluza, os resultados talvez estejam associados à falta de familiaridade dos alunos com um letramento crítico, assim como pelo hábito de pensar que “as coisas são como são” ou que “se está na internet é verdade”. Ela também ressalta que, conforme os resultados, os alunos que afirmavam gostar de ler estavam mais propensos a identificar de forma correta os textos que receberam.
Os dados foram obtidos no final do primeiro semestre de 2018. Após avaliação e sondagem dos resultados, foram realizados encontros com os alunos para mostrar a importância de consultar vários veículos de informação, de valorizar as mídias locais e de se inserir na mídia. Além disso, um dos principais pontos, segundo a coordenadora do projeto, é a necessidade de as pessoas interpretarem de forma menos ingênua a realidade midiatizada na qual estão inseridas. Segundo Wellington Felipe Hack, integrante do projeto, a educação midiática nas escolas serve para evitar a propagação de fake news.
Os resultados já foram publicados em vários eventos acadêmicos. Para 2019, a meta do grupo é se dedicar a uma análise mais aprofundada dos dados e publicá-los para que o estudo alcance mais pessoas.
Como identificar uma notícia falsa?
A egressa Tainara Liesenfeld, do curso de Jornalismo do campus sede da UFSM, produziu uma série de conteúdos sobre fake news e desinformação no formato de newsletter. O material fez parte de seu trabalho de conclusão, defendido em dezembro de 2018. Um dos conteúdos é um passo a passo a ser seguido antes de compartilhar qualquer informação. Você só vai precisar de alguns minutinhos para aprender. Confira:
Além das iniciativas acadêmicas, a UniFM estreou o programa Pega na Mentira no dia 11 de março de 2019. Apresentado pelo locutor Marcelo De Franceschi dos Santos, o programa busca divulgar, entre blocos musicais, notícias checadas que desmintam outras notícias falsas e apontem fatos calcados na realidade. Além disso, sana dúvidas e faz com que os ouvintes duvidem dos conteúdos recebidos através de aplicativos e sites de redes sociais. Pega na Mentira vai ao ar de segunda a sexta-feira entre 14h e 15h, na frequência 107.9 FM ou pela internet.
Reportagem: Cristina Haas, acadêmica de Jornalismo
Edição: Andressa Motter e Taísa Medeiros, acadêmicas de Jornalismo
Ilustração: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial