Os efeitos negativos do anti inflamatório em relação ao novo coronavírus não estão comprovados, mas pesquisas recentes levantam esse questionamento e formulam algumas hipóteses. Portanto, faltam evidências.
O ministro da Saúde da França, Oliver Véran, alertou, em seu Twitter no dia 14 de março, que medicamentos como ibuprofeno podem agravar a infecção do coronavírus. No dia 17 de março, a Organização Mundial da Saúde declarou que não é recomendado utilizar o remédio como tratamento para Covid-19.
De fato, a Revista Científica The Lancet publicou um artigo, no dia 11 de março deste ano, sobre comorbidades e coronavírus. Ou seja, o texto trata da relação entre doenças crônicas preexistentes, como hipertensão e diabetes, em pacientes que contraíram Covid-19. A pesquisa ainda cita os possíveis efeitos prejudiciais do ibuprofeno.
O que ibuprofeno, diabetes e hipertensão têm em comum?
O ibuprofeno tem ação analgésica e antiinflamatória. Por isso, é indicado para febre, dor de cabeça, dor nas costas, dor muscular, dor de dente, artrite e processos inflamatórios. Existe uma série de remédios com ibuprofeno, como Advil, Alivium, Buscofem, Doraliv, Ibuflex, Ibufran, Ibuliv, Lombalgina e Nimesulida.
Assim como os remédios para diabetes e hipertensão, o ibuprofeno aumenta a produção de uma enzima, a ECA-2. Essa substância age, por exemplo, no relaxamento dos vasos sanguíneos, o que reduz a pressão arterial.
Segundo o estudo da Lancet, o aumento dessa enzima agravaria a infecção por Covid-19 e aumentariam as chances dos quadros severos do novo coronavírus.
A pesquisa menciona brevemente o ibuprofeno. O foco do estudo está nas comorbidades e no efeito da enzima.
Cientistas precisam de mais evidências
É importante ressaltar ainda que essa foi uma revisão de literatura de pesquisadores suíços e gregos a partir de três estudos anteriores – um com 1099 pacientes, outro 140 pacientes e outro com 52 pacientes com Covid-19 na China.
As pesquisas sobre os efeitos do ibuprofeno nos infectados com o novo coronavírus estão em fase inicial e carecem de mais evidências. Neste sentido, a própria a OMS voltou atrás e retirou sua recomendação de não utilizar o remédio no tratamento da pandemia, por não ter “conhecimento de relatos de efeitos negativos” do medicamento.
Para além das questões apresentadas pelos artigos recentes, a professora Ana Catharina Nastri, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, desaconselha por outra razão. O ibuprofeno pode ocasionar problemas renais e linfáticos em pacientes com o novo coronavírus, segundo a professora.
Mitômetro Coronavírus é um projeto de checagem de fatos da revista Arco voltado para a temática da pandemia com o objetivo de combater a desinformação.
Compreenda os selos:
Comprovado – fato com evidências científicas e que pode ser explicado a partir de relatórios, documentos e pesquisas confiáveis e com metodologias factíveis.
É possível – selo para uma checagem com elementos reais. Não há comprovação 100% em função de determinados indícios, detalhes ou situações.
Depende – é o meio termo entre o que é mito e a verdade. Não existe um consenso entre as fontes e os especialistas. Também usado para quando faltam evidências ou para destacar que o fato pode ocorrer em uma determinada situação.
Improvável – refere-se a uma situação com pouquíssima possibilidade de ser real.
Mito – não existe possibilidade alguma de ser verdade. Existem evidências que provam o contrário. Enquadram-se aqui as teorias da conspiração, as lendas da internet e as noticias falsas.