O cultivo de plantas na água, sem contato algum com o solo ou substrato, e em ambiente protegido, é chamado de hidroponia (hydro = água, ponos = trabalho) ou ainda sistema NFT (Nutrient Film Technique). A maioria das hortaliças pode ser cultivada neste sistema, especialmente as folhosas, como alface, rúcula, salsa e cebolinha.
O jeito mais fácil de identificar uma planta hidropônica na prateleira do supermercado é observando a embalagem, que normalmente contém uma unidade da hortaliça e está devidamente identificada, ou pela presença da raiz (no caso da alface), em tonalidade clara. Além disso, as hortaliças hidropônicas geralmente apresentam boa aparência, sendo o aspecto visual do produto bastante levado em conta pelo consumidor na hora da compra. Mas é possível que hortaliças hidropônicas sejam orgânicas?
A professora de Olericultura do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais da UFSM, Natalia Teixeira Schwab, explica que, se levado ao pé da letra o que diz a legislação para a produção orgânica no Brasil, seria difícil enquadrar a produção hidropônica em um sistema orgânico certificado. “Muitas pessoas pensam que a produção orgânica é aquela que não utiliza agrotóxicos, mas não é só isso. Existem diferenças no processo de preparação do solo – no caso da produção convencional no solo, na seleção dos adubos, que devem ser oriundos de fontes renováveis [aquelas que se regeneram espontaneamente ou através da intervenção humana] e no controle de doenças e pragas”, explica Natalia.
No entanto, para sanar completamente a questão, é necessário antes conhecer mais sobre a hidroponia. A técnica é bastante antiga, contudo chegou ao Brasil somente na década de 1980. Surgiu inicialmente com o sistema de floating (flutuante, em português), também conhecido como DFT (Deep Film Technique ou técnica de filme profundo, em português) ou piscina. Nele não existem canais de cultivo, mas sim uma mesa na qual permanece uma lâmina de solução nutritiva em contato com as plantas. O sistema evoluiu até chegar ao formato utilizado atualmente, conhecido por NFT, no qual um filme de água nutritiva passa pela raiz da planta através de calhas.
Segundo a professora Natalia, o sistema de hidroponia, por ser conduzido em ambiente protegido (estufas), possibilita o controle de todo o processo produtivo, desde as condições ambientais, como a temperatura e a umidade do ar, até a quantidade de nutrientes recebida pelas hortaliças. Com isso, é possível cultivar plantas em um ciclo mais curto, aumentando a produção por área, além de garantir a qualidade visual do produto, tornando-o mais valorizado no mercado.
Porém, apesar dos benefícios da produção hidropônica em estufas, esta é uma das características que dificultam a execução da lei para a produção orgânica, que preconiza o emprego de recursos renováveis, e a estufa, por ser de plástico, e este derivar do petróleo, vai contra o determinado. Além disso, muitos dos adubos utilizados nesse sistema não são derivados de fontes renováveis. O que o cultivo em estufa permite, segundo Natalia, é a redução ou substituição de agrotóxicos por outros insumos e técnicas – cumprindo parte da lei. Uma delas é realizar o controle de insetos por meio de iscas entomológicas – placas coloridas que atraem e capturam tais pragas – o que resulta em uma produção mais limpa.
O sistema, se comparado ao convencional, possui custo mais elevado, especialmente na fase de instalação, nas manutenções da estrutura física e na compra de adubos – mais caros que os utilizados no cultivo convencional no solo. Além disso, é altamente dependente de energia elétrica – na falta dela, a produção é perdida – e exige conhecimento técnico elevado. Contudo, a hidroponia, se bem manejada, proporciona todas as condições que a planta precisa para crescer, de acordo com Natalia, que complementa: “É um sistema muito interessante, uma fábrica de alimentos. Acredito que a tendência da produção de hortaliças seja ir para a hidroponia”.
Neste sentido, refinamentos da técnica já foram desenvolvidos: a aquaponia, na qual é consorciada a criação de peixes com o cultivo de hortaliças; e a aeroponia, que, em vez de filme de água com nutrientes, ocorre a aspersão de nutrientes nas plantas, reduzindo o consumo de água. No entanto, ainda não existem linhas específicas de incentivo governamental à produção de hortaliças e, por consequência, da produção hidropônica.
Agora, no supermercado, você já sabe: hortaliças hidropônicas não são necessariamente orgânicas. De qualquer forma, são alimentos extremamente saudáveis e devem ser consumidos sem moderação.
Reportagem: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo
Edição: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo
Ilustração: Juliana Krupahtz, acadêm ica de Desenho Industrial
Fotografia: Arquivo pessoal