O professor do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da UFSM Gustavo de Oliveira Duarte pesquisa sobre homens que dançam e a relação deles com a sexualidade e o processo do envelhecimento. Sua tese, defendida em 2013 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem como título O Bloco das Irenes: articulações entre amizade, homossexualidade(s) e o processo de envelhecimento, e faz uma paráfrase a Caio Fernando de Abreu, uma vez que “Irenes” era o termo que o escritor usava para se referir à “bicha velha”.
Já em 2017, no pós-doutorado que Gustavo realizou na Universidade Federal da Bahia (UFBA), foram realizadas duas exposições fotográficas chamadas Masculinidades dançantes para apresentar os resultados de sua pesquisa. A abertura da mostra ocorreu no ano passado, na Escola de Dança da UFBA, e, no dia 13 de agosto de 2018, a exposição foi exibida no hall do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM.
“Às vezes, na nossa sociedade, há um apagamento. Onde estão os homossexuais mais velhos?”, questiona o professor. Gustavo explica que as pessoas tendem a relacionar a velhice com uma fase da vida a partir dos 60 anos, mas o foco da sua pesquisa é o processo do envelhecimento e quais são as transformações que ocorrem com o corpo dos homens ao longo do tempo.
Durante a realização do pós-doutorado, Gustavo esteve em Portugal, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, onde começou a coleta de dados se baseando em dois grupos: a Companhia Maior de Artes Cênicas e a Companhia Nacional de Bailados de Dança Clássica. O professor acompanhou os bailarinos e deu aulas na graduação e pós-graduação da universidade portuguesa, buscando conhecer a realidade no exterior e apresentar sua pesquisa feita em Salvador.
Grande parte da coleta de dados para o pós-doutorado, contudo, foi realizada na Escola de Dança da UFBA, que é a primeira graduação de Dança do Brasil. As fotos que foram apresentadas na exposição não são de autoria de Gustavo, mas sim dos bailarinos entrevistados por ele. O artista explica como foi o processo de escolha das imagens: “Pedi que eles [os bailarinos] selecionassem de três a cinco fotos mais significativas da sua trajetória artística, então é um acervo riquíssimo. Dialoga com a história da dança da Bahia e do Brasil”.
Juntamente com a exposição de fotos, o professor apresentou, no CAL da UFSM, uma coreografia de sua autoria. A dança tem o nome 4222:DziOhno e foi inspirada no grupo DziCroquettes e no artista Kazuo Ohno. Em Salvador, Duarte dançou junto com seu aluno Bruno Parisotto. Na sua reprodução realizada na UFSM, o professor dançou sozinho ao som de Homem com H, música gravada por Ney Matogrosso: “a recepção foi bem afetiva, ainda que com um certo estranhamento pela temática”. Ele afirma que vai fazer a exibição novamente em diferentes centros, como o CEFD e o Centro de Educação, e pretende levar a apresentação para as escolas.
A ideia é expandir os conhecimentos também para fora da UFSM, ao oferecer oficinas sobre dança, sexualidade e gênero em escolas. O professor comenta sobre a importância da temática apresentada: “A gente começa a trabalhar essa perspectiva e paradigma da inclusão e diversidade – que é um ganho do gênero, sexualidade, negritude, deficiência – desde a graduação. Se o professor artista não tocar nisso, quem vai tocar? A questão de reflexão crítica sobre corpo, sociedade e mundo, de certa forma, é uma função do artista”.
Reportagem: Martina Irigoyen. acadêmica de Jornalismo
Edição: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo
Fotografia: Rafael Happke