Por Leonardo Martins Penna*
João chegou chorando
E todos sorriram
João ficou faceiro
Todos gostaram de João
E João gostou de todos
João ia ser ele mesmo
Mas não pôde ser
João tinha de seguir
Não faz isso, João
Faz aquilo, João
João não podia se expressar
João tinha de ficar quieto
Fica calado, João
João não podia ter opinião
Não podia ter sentimento
Sentimento não é coisa de homem
E homem não tem sentimento
João foi reprimido
Foi mal tratado
João era sozinho
Foi ignorado
Joga pedra no João
João é esquisito
João é estranho
João é diferente
João não se sente bem
Acha que não é daqui
João não é daqui
E João está perdido
Ninguém liga pro João
Ninguém gosta do João
Joga pedra no João
João, seu esquisito
Ninguém sorri para o João
João incompreendido
Ninguém entende o João
Tenta ser normal, João
João, seu esquisito
João não se sente bem
Quer ir embora
João quer voltar pra casa
Quer ser igual
João não aguenta mais
João se pendurou
E saiu voando
O mundo não quis João
Que só queria sorrir
Agora, João vai sorrindo
Vai sonhando
Vai flutuando
Porque agora é diferente
João é como a gente
João, João
Vai descansar, João
Porque hoje é teu dia
Hoje é dia de João
Vai, vai ser feliz
Vai ser João
*É ex-aluno do Colégio Politécnico da UFSM. Gosta de escrever pois acredita que é possível transformar em arte e criar coisas incríveis a partir do que o machuca. A poesia foi premiada com o segundo lugar no 36º Concurso Literário Municipal de Santa Maria
Ilustração: Filipe Duarte