Descarte: ato de descartar, de deixar de lado o que não tem serventia ou não se quer mais. Em uma sociedade industrializada o consumo em massa faz dos objetos que utilizamos hoje, o lixo de amanhã. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, entre 2010 e 2019, o Brasil registrou um grande aumento na geração de resíduos, em que passou de 67 milhões para 79 milhões de toneladas por ano. O estudo também mostrou que cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo anualmente. O reflexo disso pode ser visto nos danos crescentes à natureza, como alterações no clima e a poluição do ar.
Mas, poderia a arte ser uma ferramenta capaz de despertar a consciência das pessoas nesse contexto? Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais mostrou que sim. O trabalho de dissertação “Poética do desc-arte: fotografia e meio ambiente em Santa Maria”, desenvolvido por Jane Andiara Soares Zofoli e orientado pela professora e pesquisadora vinculada ao PPGART/UFSM, Darci Raquel da Fonseca, entre 2018 e 2020, buscou chamar a atenção para a problemática do descarte através da fotografia.
Sensibilizar olhares para mudar consciências
Em uma observação diária, no decorrer de dois anos, a autora buscou unir a arte às questões ambientais. Através do projeto, mapeou, fotografou e expôs à comunidade espaços de Santa Maria ocupados por sucatas. O trabalho se deu tanto em locais legalizados, mas também em lugares onde o descarte foi feito de forma clandestina, como riachos, rios e a natureza como um todo.
O estudo buscou problematizar as questões relativas ao consumo e descarte irresponsável por meio da visibilidade despertada pelos registros fotográficos. Além disso, enxergou na arte uma possibilidade de mudança. “O meu trabalho foi sensibilizar pessoas através da fotografia, para que elas ressignifiquem o seu pensar, o seu olhar, para não cometer esse tipo de ato”, ressalta a autora.
Para além de uma área de estudo, Jane é engajada na causa. A separação, a reciclagem, o reaproveitamento e a destinação correta de materiais fazem parte de sua rotina. De acordo com ela, a relação com a questão do descarte vem de muito tempo, herança do seus pais que tinham preocupação e envolvimento com a destinação adequada dos resíduos que geravam. Atualmente, ela também arrecada objetos como lacres e garrafas pet, e contribui com projetos locais como a ASMAR – Associação dos Selecionadores de Material Reciclável
Sustentabilidade como forma de expressão
A orientadora da pesquisa ressalta a capacidade que a arte tem, neste caso pela fotografia, de lançar um olhar sensível sob o tema e, ao mesmo tempo, denunciar as atitudes humanas em relação ao ambiente. “A arte tem esse poder, tendo em vista que ela revela com força o que muitos evitam abordar”, explica a professora Darci. Ela também afirma que dificilmente ficaremos neutros diante do que a fotografia nos revela, e por isso, associar esse recurso a outras áreas do conhecimento pode gerar mudanças significativas na sociedade.
O trabalho mostrou que a questão do descarte é um problema que envolve todos no mundo contemporâneo, em particular Santa Maria, onde o olhar fotográfico registrou o descarte em margens de rios, localidades urbanas e também no campo. Ao direcionar o olhar para o ambiente local, o estudo atuou como um meio de conscientização da população, além de servir como um alerta ao poder público para que se dedique ao desenvolvimento de políticas sustentáveis. “Se a fotografia revela ela indica, ao mesmo tempo, pistas para que este problema possa ser, no mínimo, amenizado”, ressalta a orientadora. Outros caminhos indicados pela autora para promover melhorias na questão do descarte inadequado é a educação para os cidadãos e a fiscalização por parte de órgãos administrativos.
Expediente
Reportagem: Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária
Ilustração: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista
Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Martina Pozzebon, acadêmica de Jornalismo e estagiária
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas