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Estratégias de ensino para alunos com surdez

Dissertação de mestrado trata de técnicas que devem ser utilizadas com acadêmicos surdos, estimulando a inclusão



Entender de que forma as estratégias de ensino empregadas pelos docentes contribuem para acadêmicos surdos nos cursos de graduação da UFSM é o enfoque da dissertação da pós-graduanda em Educação Juliana Corrêa de Lima. A pesquisa de Juliana, que também é tradutora e intérprete de Libras na instituição, foi realizada por meio de entrevistas mediante a análise de conteúdo, a partir dos discursos das pessoas pesquisadas durante o questionário. O uso dessas técnicas proporcionou uma observação mais ampla quanto às questões de inclusão, acessibilidade e às diferentes maneiras que visam auxiliar na permanência e assistência dos estudantes surdos no ensino superior, garantindo-os maior qualidade na aprendizagem.

De acordo com Juliana, a organização do sistema educacional é pautada pela leitura e pela escrita e, mesmo com a presença de um intérprete de Libras em sala de aula, o curto espaço de uma hora-aula pode prejudicar a compreensão de alunos com surdez. Pessoas surdas se utilizam muito das estratégias visuais para perceber o mundo. Daí a sugestão, vinda dos próprios estudantes surdos na Educação Superior, de utilizar outras estratégias que podem colaborar ainda mais para a aprendizagem”, analisa a pesquisadora.

Mas, afinal, que estratégias são essas?

Para além da presença de um intérprete, a mestranda apresenta outras opções que podem ser testadas em sala de aula. A apresentação de filmes está entre uma delas. Conforme a pesquisa, os vídeos devem ser passados sempre com legendas. Caso o material não seja legendado, existe a possibilidade do uso de softwares, como o Windows Movie Maker, por exemplo. Sempre que o conteúdo permitir, o professor pode usar o quadro para desenhar, fazer detalhes ou esquematizar suas ideias. Sugere-se, da mesma forma, a utilização de cores diferentes, setas e símbolos que auxiliem os alunos no entendimento da matéria.

Durante a aula, os conceitos podem ser passados por apresentações de imagens. Estas, se em meio digital, podem ser reproduzidas com a ajuda de um projetor multimídia. Outra opção é usá-las de forma impressa. Segundo o estudo, o emprego de slides para a aula é, talvez, a estratégia mais aplicada atualmente. Contudo, recomendam-se alguns cuidados. A exagerada utilização de textos está entre um dos aspectos que devem ser evitados. Os slides devem ter o máximo de detalhes de informações visuais possíveis, como imagens, desenhos e figuras, além de frases curtas, preferencialmente associadas com as ilustrações.

Atividades práticas, com dinâmicas de interação que sejam relacionadas ao conteúdo, tornam-se uma possibilidade de integração do estudante com surdez. A pesquisa também expressa que a pessoa surda entende a partir do olhar aquilo que deve ser feito. Assim, não é necessária permanentemente a presença de um intérprete, o que acaba favorecendo a autonomia acadêmica. Sempre que possível, os professores podem se adequar aos seus alunos surdos, frequentando os cursos de Libras oferecidos pela instituição, ou até mesmo buscando sinais básicos, exclusivamente destinados à disciplina desenvolvida. Com antecedência, deve ser disponibilizado o conteúdo impresso para o acadêmico reproduzir em ambiente virtual. Dessa forma, o acompanhamento fica mais fácil, sem a perda do foco no intérprete para copiar o conteúdo.

Falando em ambiente virtual, a plataforma Moodle é essencial para a aprendizagem dos acadêmicos surdos. Ela facilita ao estudante com surdez um acompanhamento mais compreensível sobre o assunto passado em aula, tendo a oportunidade de interagir diretamente com os seus colegas e professores, independentemente da presença do intérprete em Libras.  

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, estes são os números de acadêmicos surdos matriculados no Ensino Superior; os dados são de 2017, os mais atualizados até agora

 

O estudo

Durante o desenvolvimento de sua investigação, Juliana considerou o número de acadêmicos surdos matriculados regularmente nos cursos da UFSM. “A verificação da situação acadêmica foi feita recorrendo aos relatórios anuais da instituição, de ações educacionais e de um projeto de extensão desenvolvido em 2015 e 2016”, explica. O projeto de extensão ao qual Juliana se referiu foi proposto pela Coordenadoria de Ações Educacionais (Caed) e se chamava Projeto de Desempenho Acadêmico. Nele, realizaram-se técnicas de apoio e acompanhamento pedagógico para os discentes com surdez da UFSM, que foram feitos por intérpretes em Libras da instituição.

Em um segundo momento, a pós-graduanda fez contato com sete alunos selecionados por mensagem eletrônica, para uma entrevista individual. “Após o aceite dos participantes, foi realizada a entrevista individual em Libras. As entrevistas com os acadêmicos surdos foram filmadas para a análise final”, elucida a intérprete. Com os três professores que participaram da conversação, o procedimento de seleção daqueles que fizeram parte da pesquisa foi utilizando o critério de indicação. Assim, foram escolhidos os docentes recomendados pelos acadêmicos na entrevista.

Ao fazer as entrevistas com os discentes, Juliana também conseguiu dar a eles a oportunidade de se manifestarem a respeito do percurso acadêmico. Um dos alunos com quem Juliana conversou para a dissertação afirmou que “se fosse professor, faria atividades com mais acessibilidade, atividades práticas que os surdos possam participar e entender olhando o que deve ser feito, daí não precisa estar sempre com o intérprete. Eu também gostaria que os professores aprendessem mais alguns sinais básicos que eu preciso no curso para eu poder me comunicar diretamente com eles”, manifesta.

Uma das constatações é que os acadêmicos surdos não se sentem plenamente incluídos e não conseguem aprender. Os alunos têm interesse em permanecerem no ambiente universitário, mas, ao mesmo tempo, alguns fatores dificultam a manutenção dessas pessoas nas instituições de ensino superior, como o isolamento e a discriminação. “Eles percebem atitudes segregacionistas dos ouvintes. Porém, o surdo sente orgulho por estar neste nível de ensino, que favorece a conquista da autonomia pessoal e profissional”, expõe a pós-graduanda.

O estudo manifesta que há, até agora, certos empecilhos em relação à acessibilidade comunicacional, até porque os acadêmicos relatam que os professores não se adaptam, não utilizam legenda e empregam os mesmos recursos usados com os alunos que são ouvintes. Segundo a pesquisadora,  “a relação dos estudantes com os professores podem ser marcadas por desrespeito e distanciamentos, sendo essa situação motivada pelo desconhecimento da cultura surda”. Juliana complementa dando algumas opções básicas para um melhor entendimento dos alunos. “Ações que a equipe da Caed já vem ofertando aos estudantes com surdez, como acompanhamento do desempenho acadêmico (atendimento individualizado durante o semestre), oferta do português para surdos, curso de Libras e Atendimento Educacional especializado”.

A importância de um tradutor/intérprete em sala de aula

As dificuldades não são propriedade exclusiva dos acadêmicos surdos. Elas acabam se somando a outros contratempos, como, por exemplo, a dependência de um tradutor/intérprete, o que limita, mais ainda, a comunicação com o docente. Além disso, a instituição não possui um intérprete para cada discente, tendo, portanto, que se adequar aos horários deles. São 14 intérpretes ao total. “Acadêmicos surdos e seus professores podem demonstrar insatisfação quanto a uma possível dependência ou invasão do tradutor/intérprete, do ponto de vista da relação de aprendizagem e seus vínculos”, justifica a autora.

Apesar de ser importante a presença do tradutor/intérprete em sala de aula, alguns estudantes preferem não ficar dependentes somente deste profissional, a fim de obterem suas próprias interpretações sobre o que está sendo passado, e se relacionarem com os ouvintes ao redor. “A proposta de inclusão na Educação Superior para a surdez ainda é distante. Há muitas barreiras de acessibilidade aos conteúdos e pouca inclusão no espaço acadêmico”, mostra.

Dicas para aprender o básico de Libras

1 – A Universidade de São Paulo (USP) oferece, desde 2015, em sua plataforma digital, um curso sobre a Língua Brasileira de Sinais. As aulas são organizadas pelo professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLHC/USP), Prof. Dr. Felipe Venâncio Barbosa. Como parte da formação, existem videoaulas, material didático e atividades direcionadas a não-surdos. Para ter acesso ao conteúdo, não é necessário ter qualquer cadastro.

2- Se quiser mais auxílio sobre as Libras, pode chamar o Hugo. Sim, ele é um intérprete em 3D e apresentador do aplicativo Hand Talk (em português, “conversa de mão”), por meio do qual é possível fazer tradução de texto e voz para Libras. O aplicativo está disponível nas plataformas Android e IOS.

3- No Youtube também existem canais interessantes para o aprendizado das Libras com aulas ministradas por pessoas com fluência na língua. É o caso da Universidade das Libras,  Incluir Tecnologia, Danrley Oliveira, Libras Pernambuco, Éden Veloso e Paula Maria Markewickz.

Reportagem: Guilherme de Vargas, acadêmico de Jornalismo

Edição: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo

Ilustrações: Deirdre Holanda, acadêmica de Desenho Industrial

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