Meu nome é Nicásio Gouveia, tenho 33 anos, e sou natural de Bolama, Guiné-Bissau, África. Desde a infância, meu maior sonho era ser jogador de futebol, porém, por falta de um empresário para fazer a apresentação em um clube de Portugal, o projeto da minha vida tomou outros caminhos. Em 2009, surgiu a possibilidade de fazer o processo de admissão do Programa de Estudantes – Convênio de Graduação (PEC-G) na Embaixada do Brasil em Guiné-Bissau. Após prestar o processo, fui aprovado para uma vaga no curso de Bacharelado em Estatística na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul.
Cheguei ao Brasil em março de 2010, aos 22 anos, com o sonho de cursar Estatística na UFSM. No primeiro dia em Santa Maria, era necessário fazer os documentos na Polícia Federal para legalizar a minha estadia no Brasil. Além disso, me deparei com a dificuldade de encontrar uma casa para morar. Consegui um quarto na Pensão do Alemão, que fica na Avenida Roraima, em Camobi, próximo à UFSM. No dia seguinte, o Paulo (que era responsável do Departamento de Registo e Controle Acadêmico da Universidade) me indicou a pensão da Dona Sônia Behr. Quando cheguei na casa da Sônia, encontrei ela e o marido, Severo, que me receberam. Disse que estava à procura de uma casa para ficar durante o tempo de estudos na Universidade. Entretanto, não havia vaga naquela casa. Diante disso, ela me orientou a continuar pela procura de um outro local e, caso não encontrasse até o final do dia, poderia voltar a procurá-la.
Depois de caminhar por quase todo Camobi, voltei a falar com ela. Ela me acolheu por uma semana, sem cobrar um centavo. Depois disso, consegui outro local, mas a Sonia me disse que, quando liberasse uma vaga, seria avisado para retornar. Depois de três meses, um quarto finalmente foi liberado. Imediatamente fiz a mudança e foi onde fiquei por oito anos. Não tenho palavras para descrever o que Sônia e Severo fizeram por mim. Desde o primeiro dia que a encontrei, me tratou como um filho, até os dias de hoje. Ela, sem dúvida, é minha mãe adotiva no Brasil, e agradeço muito por tudo.
Na época, tudo era novo para minha adaptação. A cultura da cidade, os hábitos, o clima, a gíria gaúcha, entre outras coisas. Quando comecei o curso de Bacharelado em Estatística, tive muitas dificuldades, que não cabem mencionar aqui. Pensei em desistir e trocar pelo curso de Administração, mas a professora Luciane Jacobi, na época a coordenadora do curso, me incentivou a não desistir e me deu todo o suporte para seguir. Ela foi fundamental para a minha formação, tanto em relação aos estudos, quanto financeiramente para minha estadia nos primeiros seis meses. Devo muito a ela, e também à secretária do Departamento, Rosa, e demais professores do Departamento de Estatística. Vale ressaltar também um agradecimento ao professor Marcio Miotto, do Departamento de Matemática, que sempre me incentivou nesta jornada.
Tentei resumir aqui a minha história ao longo dos oito anos em Santa Maria, mas o que vivi na cidade, especialmente na Universidade, poderia render um livro! A UFSM foi muito importante na minha formação acadêmica, pessoal e profissional: abriu-me portas e proporcionou-me novos horizontes e conhecimentos. Atualmente, sou doutorando no Programa de Pós-Graduação em Estatística e Experimentação Agronômica na Universidade de São Paulo, no Campus Luiz de Queiroz.
Ilustração e diagramação: Cristielle Luise