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Envelheçamos rindo

Idosos vêm à UFSM para praticar exercícios, fazer amigos e melhorar a qualidade de vida



Os cabelos, brancos ou acinzentados, muitas vezes estão molhados. As mãos carregam bolsas com apetrechos pessoais, como toalhas e garrafas d’água. As marcas profundas no rosto e pescoço indicam que a juventude já não está presente, mas que eles  fazem parte de outro ciclo da vida, a velhice. Caminhando em grupos ou pegando o ônibus para irem embora do campus, eles deixam a dúvida por onde passam: o que estarão fazendo na Universidade?

Desde meados de 1984, a UFSM, através do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), investe em programas de atividades físicas voltados aos idosos, ou seja, àqueles com mais de 60 anos. Essa inclusão dos mais velhos na Universidade se dá principalmente pela falta, em Santa Maria, de lugares públicos de lazer destinados aos que já não têm um corpo tão flexível.

Pensando em ampliar os horizontes dos idosos, o Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (Nieati), coordenado pelo professor Marco Aurélio Acosta, é um exemplo dos projetos da UFSM voltados aos mais velhos. Existente há 30 anos, surgiu com o intuito de incluir os idosos na prática da educação física, já que, na época, foi comprovado que as atividades eram voltadas essencialmente aos esportes que priorizavam a juventude, como o futebol.

Desde então, foram surgindo projetos de extensão na Universidade que visavam trazer os idosos para o campus ou, ainda, levar os esportes até eles. A UFSM oferece as aulas de natação e hidroginástica, que atendem cerca de 900 idosos de segunda-feira a sábado no ginásio do CEFD, a dança na terceira idade, o coral e os ciclos de cinema. Dentro dessa gama de projetos, o mais antigo é o de grupos de atividades físicas: “Geralmente os idosos se reúnem nos salões de igrejas, que são um ponto de referência do bairro, e praticam exercícios físicos duas vezes por semana com o auxílio de monitores, estudantes do curso”, explica Marco Aurélio. O projeto acaba trazendo ainda uma série de benefícios para a vida dos mais velhos, como, por exemplo, o convívio em sociedade. “Eles começam a conviver com pessoas que apresentam as mesmas características, como baixa escolaridade e problemas de saúde. São pessoas que, em uma certa dimensão, possuem semelhanças com os adolescentes, já que têm aquele discurso de que não são amados, que não gostam da aparência física. Assim, as pessoas se encontram como iguais nos grupos” ressalta o professor. Os grupos estão presentes em distintos bairros da cidade, como Camobi, Centro, Medianeira e Passo D’Areia.

Por se tratar de um projeto tão antigo, Marco Aurélio, juntamente com Ariane Pacheco, na época mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizaram uma pesquisa para entender o porquê de os “velhos” – como os chama o professor – interessarem-se tanto por fazer atividades físicas. Em Lazer e Envelhecimento: Olhares que Entrelaçaram a Cidade e o Envelhecer, eles procuraram compreender certas transformações no cenário urbano e, em particular, nos espaços de lazer, sob o olhar de pessoas que viveram essas mudanças e, atualmente, encontram-se dentro das universidades em programas voltados aos idosos.

 

Há pouco tempo – cerca de 30 anos –, existiam distintas opções para se descansar e passar o tempo. As crianças podiam brincar na rua até tarde, jogar futebol no campinho na frente de casa, tomar banho de rio. Os idosos podiam sentar em frente à casa e cevar um amargo até altas horas, ou participavam de domingueiras em clubes especializados. Atualmente, a mudança dos espaços e a falta de segurança acabam prendendo todas as classes sociais e faixas etárias em casa após o entardecer e até mesmo nos finais de semana. Essas mudanças do espaço físico, segundo Marco Aurélio, não alteram apenas a configuração física de um lugar, mas também as dimensões da vida. É o que acontece com os idosos de Santa Maria, que antes tinham inúmeras opções de entretenimento e, agora, buscam por outras formas para terem momentos de lazer e distração.

A pesquisa, que levou em conta opiniões de 5 homens e 5 mulheres que vivem em Santa Maria desde 1964, fichou, principalmente, os espaços de lazer e atividades das igrejas e clubes que existiam na cidade. Havia clubes como o Esportivo e o Grêmio dos Ferroviários, e cinemas como o Independência e o Glória, além de peças de teatro, programas de auditórios de emissoras de televisão e atividades desportivas, como, por exemplo, o futebol. Atualmente, com a falta de lugares, os encontros com semelhantes nos salões de igreja ou ginásios de bairros se tornaram a alternativa dos idosos, que criaram laços de amizade, além de melhorarem a qualidade de vida com os exercícios.

Uma vez por mês, em uma pequena sala do CEFD, o professor Marco Aurélio se reúne com os presidentes dos grupos de atividades físicas. Em uma reunião descontraída, os “velhos” têm a possibilidade de convidarem para as tradicionais domingueiras nos seus bairros. Uma das presidentes, dona Maria Portela da Silva, no auge dos seus 69 anos, é encarregada do grupo que realiza os encontros na Vila Medianeira há dois anos, porém já faz 18 anos que participa das atividades desenvolvidas pelo CEFD. Duas vezes na semana, a senhora de cabelo na altura dos ombros se encontra com mais 15 companheiros para se exercitar. Com um sorriso faceiro no rosto, diz que sua vida melhorou muito desde que pratica os exercícios. Além disso, criou um grande círculo de amizades. “Tudo melhorou, e as amizades, então, em 100%”, comenta.

Adepta da hidroginástica e das aulas de dança que ocorrem na piscina e nos ginásios da UFSM, outra beneficiada com os projetos é dona Edi Charão Gonçalves, que aos 79 anos esbanja simpatia e vitalidade: “Eu adoro isso aqui, eu sempre digo que é minha segunda família. Se não fosse por esses exercícios, estaria entrevada, em uma cadeira de rodas há tempos.”

A falta de locais públicos de lazer para quem está na velhice é uma lástima para a cidade. Por outro lado, os idosos acabaram encontrando o caminho da Universidade e dos grupos de atividades, que, além de entretenimento e diversão, possibilitam uma melhora na qualidade de vida desses eternos jovens de alma.

 

Repórter: Andréa Ortis
Fotografia: Daniela Pin Menegazzo
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