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Empoderamento feminino no campo

Pesquisas indicam que presença de mulheres cresce no agronegócio brasileiro e mundial. Da mesma forma, interesse por tecnologia e agricultura de precisão também aumenta



No campo, na lida com o gado, na gestão técnica ou na supervisão de lavouras, as mulheres quebraram o tabu no universo agrícola. Esse ambiente, que antes era dominado por homens, agora também tem mulheres no comando. 

Os resultados gerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no final de 2017, das 18 milhões de pessoas ligadas ao agronegócio no Brasil, havia cerca de 11,9 milhões (65,8%) de homens e apenas 6,2 milhões (34,2%) de mulheres. Um número pequeno, mas que representa um avanço de 13% em comparação ao levantamento anterior, feito no início do século 21. 

Apesar dos desafios que persistem, as estatísticas mostram que a presença feminina cresce na agricultura brasileira e mundial. Ao analisar a participação feminina, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) constatou que, atualmente, cerca de 60 milhões de mulheres da América Latina trabalham no campo e cumprem papel central no abastecimento de insumos. A FAO considera que pelo menos 60% a 80% dos alimentos são produzidos pelas mãos de mulheres.

Descrição da imagem: ilustração horizontal e colorida em tons de rosa e roxo com duas mulheres no centro e em primeiro plano. A da esquerda da imagem tem cabelos cacheados e escuros, pele escura, olhos pretos; veste camiseta de manga comprida em tom de salmão e segura, nas mãos, um controle remoto preto com uma luz azul acesa na extremidade. A mulher do lado direito da imagem tem cabelos ondulados, compridos e escuros, pele clara, olhos escuros; veste camiseta listrada em tons de roxo e segura, nas mãos, um tablet que emite uma luz azulada. Ela está com a cabeça abaixada. Ao fundo, plantação em duas montanhas que se encontram no centro da imagem. No céu, um drone roxo que emite uma luz azulada. O céu é rosa bebê.

(R)evolução

O trabalho no campo é, normalmente, influenciado por questões familiares. Pais agricultores tendem a incentivar os filhos a prosseguir com o trabalho. É o caso de Daiane Ross, que cresceu no meio rural e cursou a faculdade de Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com o objetivo de se qualificar para  seguir vivendo da agricultura. Daiane comenta que, mesmo com receio, adaptou-se ao meio e buscou espaço na agricultura digital. Hoje ela presta suporte a produtores rurais que estão implementando tecnologias no campo. É pelo trabalho dela que muitos homens e mulheres aprendem a fazer a gestão da propriedade rural, aumentar a produtividade das culturas e otimizar o tempo. 

 

Daiane vê o futuro no agro como promissor. Apesar dos preconceitos ainda enfrentados, ela acredita que é possível conquistar um espaço igualitário no agronegócio. O crescente número de estudantes mulheres em cursos de ciências rurais representa, para ela, um avanço. 

Jéssica Boelter é outro exemplo de quem buscou espaço no agro. Também formada em Agronomia pela UFSM, ela decidiu seguir as novas tendências do mundo agro através do geoprocessamento – uma análise de dados e informações geográficas, por meio de cálculos e softwares específicos. Hoje, ela é analista digital. Responsável pelas ferramentas digitais da empresa que trabalha, Jéssica oferece suporte técnico no campo para milhares de outras mulheres que, assim como ela, sonham com o reconhecimento.

Ellas no Comando

Para incentivar a valorização do trabalho da mulher no ambiente agrícola, a UFSM realizou, em agosto de 2022, o evento Ellas no Comando. A atividade  reuniu acadêmicas dos cursos das Ciências Rurais e também outras mulheres para discutir a participação feminina na agricultura de precisão. O evento teve duração de dois finais de semana e contou com palestras e oficinas que mostraram exemplos de mulheres que hoje são protagonistas na área. Juntas, elas conversaram sobre drones na agricultura, maquinários, automação agrícola e plataformas digitais. 

 

Segundo a comissão da Crop Júnior – empresa vinculada ao curso de Agronomia da UFSM e organizadora do evento, o Ellas no Comando surgiu com a ideia de incentivar mulheres a serem protagonistas das soluções sustentáveis do agronegócio. Para a empresa, há um aumento significativo no número de graduandas interessadas em pautas que envolvem tecnologias. A ação foi pensada como forma de incentivo ao mercado, que tende a exigir o conhecimento sobre as principais tendências.


Jéssica e Daiane participaram do Ellas no Comando como palestrantes. Para elas, as atividades foram importantes para promover trocas de experiências. “Discussões como essa realmente trazem um sentido diferente para a agricultura. Trazer essa visão para as alunas foi bom para acalmar as dúvidas e a preocupação de como se inserir no mercado”, afirma Jéssica.

Representatividade e inspiração

Um passo importante para entender o papel da mulher na transformação da agropecuária no Brasil é perceber que, ao incluir a força feminina nos trabalhos do campo, abrem-se espaços para novas formas de pensar e agir. “A nossa participação no campo estimula mais meninas a seguirem o mesmo caminho, a repensarem e verem esperanças no agro.”, afirma Daiane.

 

A mulher sofreu e ainda sofre discriminação nas várias áreas em que se insere na sociedade. Relatos de abuso psicológico, moral e sexual ainda são comuns nos ambientes de trabalho. Para Jéssica e Daiane, novas políticas públicas podem ser importantes para o fomento ao empreendedorismo feminino e para facilitar o acesso à tecnologia no campo.

Donas do Agro

Outra iniciativa realizada por e para elas é o evento Donas do Agro. Em sua 5ª edição, realizada em 19 de outubro, o evento reuniu cerca de 70 pessoas. Sete mulheres fizeram parte da banca de palestrantes. O Donas do Agro é realizado anualmente e promovido pelo grupo Encorte UFSM. Durante a programação, foram discutidas práticas de sucesso no agronegócio e a importância da participação feminina no universo agro.

Expediente:
Reportagem: Tayline Alves Manganelli, acadêmica de Jornalismo e voluntária;
Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb, jornalista.
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