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A crença de que é possível criar gasolina a partir de fósseis de dinossauros circula entre as pessoas há bastante tempo. Isso porque a palavra “combustível fóssil” remete aos fósseis e também porque, segundo algumas teorias, o petróleo é um derivado de restos de animais que viveram há milhões de anos na terra.
Mas será que isso é verdade? A Arco preparou um mitômetro para descomplicar o assunto, verificar se é realmente possível criar gasolina caseira com fósseis e se a origem do combustível está ligada aos animais.
Para isso, consultamos o professor Edson Müller, do Departamento de Química da UFSM, e o pesquisador Átila da Rosa, do Departamento de Geociências da UFSM.
Qual a origem do petróleo?
De acordo com Edson Müller, docente do Departamento de Química da UFSM, a teoria de que o petróleo é originário dos fósseis de dinossauros é equivocada. “O petróleo é um combustível fóssil e a origem da etimologia está relacionada com resquícios de animais e plantas. Ele acaba sendo produzido a partir da degradação desses animais e plantas quando são submetidos à alta temperatura e à alta pressão. Então obviamente pode estar relacionado com a questão de restos de dinossauros, mas não só restos de dinossauros”, explica.
O pesquisador Átila da Rosa, do Departamento de Geociências da UFSM, completa explicando que o petróleo é formado pela maturação da matéria orgânica existente no plâncton marinho – organismos microscópicos, de origem animal (zooplâncton) e vegetal (fitoplâncton), que flutuam na superfície do mar.
“Quando morrem (os organismos microscópicos) seus corpos são depositados no fundo lamoso (do mar). Depois de soterrados, ocorre o processo de maturação da matéria orgânica e transformação em querogênio (parte insolúvel da matéria orgânica modificada por ações geológicas), que, por sua vez, se transforma em petróleo. Os dinossauros, ou quaisquer vertebrados marinhos, ocorrem em menor número, e embora sua matéria orgânica também se degrade, são insuficientes para formar tanto petróleo”, afirma o especialista.
Ok, a origem do petróleo está, em parte, ligada aos dinos, mas eu posso produzir gasolina caseira com os fósseis desses animais?
Não. O pesquisador Átila da Rosa ressalta que a finalidade dos fósseis, atualmente, está no aprendizado sobre os ambientes e climas do passado. “Servem para auxiliar a entender como e porque aconteceram transformações climáticas e ambientais em tempos remotos, e quais suas repercussões para a extinção de algumas espécies e surgimento de outras”, defende.
Ainda, segundo o especialista em química Edson Muller, o combustível é feito a partir da prospecção do petróleo (etapa de localização dos depósitos em bacias sedimentares a partir de análises e observações do subsolo na região), que é submetido a um processo de refino (feito por meio de processos químicos com a finalidade de melhorar o produto).
Geralmente, utiliza-se uma torre de destilação e é possível produzir os diferentes derivados de petróleo: nafta (fração líquida do petróleo), gasolina e óleo diesel. Ou seja, é um processo complexo, não envolve fósseis de dinossauros e só um especialista pode realizá-lo.
“A gasolina é uma mistura bastante complexa. São adicionados antidetonantes para não comprometer o funcionamento do motor do automóvel e ela tem todo um controle de qualidade. Tem que tomar bastante cuidado com os vídeos da internet. Nós dependemos da produção da gasolina a partir do petróleo, o resto é um risco muito grande”, ressalta Muller.
Veredito final: Mito!
Não podemos fazer gasolina caseira com fósseis de dinossauros. A origem está ligada a animais e plantas, mas não significa que podemos produzir o combustível em casa. O processo de produção de gasolina é delicado e complexo e só pode ser realizado por especialistas!
Expediente:
Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Design gráfico: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Ludmilla Naiva, acadêmica de Relações Públicas e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;
Relações Públicas: Carla Isa Costa;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.