Que atire o primeiro meteorito quem nunca teve curiosidade em saber como são as coisas a alguns quilômetros daqui – mais especificamente a 100 km de altitude da terra -, no espaço. Alguns astronautas e estudiosos estão sempre atrás de novos saberes e, até agora, muita coisa já foi descoberta. Porém, ainda surgem dúvidas e o que sabemos é uma gota perto da imensidão que é o espaço.
Nesse sentido, a Arco apresenta algumas curiosidades sobre o espaço e os astronautas que realizam estudos por lá – sim, existem astronautas em órbita neste momento! Para isso, contamos com as explicações dos professores do curso de Engenharia Aeroespacial da UFSM Marcelo Serrano Zanetti e Eduardo Escobar Bürguer.
1- Desde o dia 17 de junho de 2021, 10 astronautas ocupavam duas estações espaciais distintas em órbita: sete na Estação Espacial Internacional (ISS) e três na Estação Espacial Tiangong (China) – esses últimos retornaram na sexta-feira (17).
2 – Na ISS, são dois astronautas da Corporação Estatal de Atividades Espaciais (ROSCOSMOS/Rússia), três astronautas da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA/EUA), um astronauta da Agência Espacial Europeia (ESA/UE) e um da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA/Japão). Já em Tiangong, eram três astronautas da Administração Espacial Nacional da China (CNSA/China).
3 – Astronautas de origem russa ou da extinta União Soviética são chamados de cosmonautas, enquanto os de origem chinesa são chamados de taikonautas.
4 – O nome formal da roupa dos astronautas é Unidade de Mobilidade Extraveicular (EMU – Extravehicular Mobility Unit). O seu uso é necessário pois existe uma grande variação térmica no espaço que, a depender da iluminação solar, pode ir de -150ºC a +120ºC em questão de minutos. Além disso, os trajes espaciais protegem contra a radiação, luz do sol, lixo espacial e fornecem água e oxigênio. Ele é composto por numerosas peças que permitem que ele seja reutilizado por até 6 anos.
5 – As estações espaciais possuem um ambiente totalmente controlado de umidade, pressão, contaminação do ar e temperatura (sempre em torno de 24 ºC). Por isso, é seguro estar nas estações sem o traje.
6 – O motivo pelo qual as coisas flutuam no espaço é porque, na verdade, elas estão constantemente caindo e, dessa forma, aparentam não ter peso. A gravidade as puxa em direção ao centro da Terra – inclusive as estações espaciais e os astronautas.
7 – Para tomar banho, os astronautas utilizam pequenas toalhas umedecidas, um sabão e um xampu especial. A água para o banho é provida em pequenas bolsas e, assim como a água da urina e da umidade da respiração, é capturada e reciclada pelo “sistema de suporte à vida e controle ambiental”, recondicionada e reutilizada.
8 – Até 93% de toda a água utilizada é recuperada para uso – aproximadamente 6 mil litros de água por ano. A água é reciclada com o uso de destiladores rotacionais, filtros, e um processo de catálise de alta temperatura que remove microorganismos e outros contaminantes. De acordo com o professor Eduardo Escobar, apesar de o sistema reaproveitar a água utilizada para higiene e da própria urina dos astronautas, ela se torna mais pura que a de torneira que tomamos diariamente em nossas casas.
9 – Para ir ao banheiro, os astronautas precisam se amarrar para evitar flutuar. O vaso sanitário possui uma abertura muito menor com relação ao daqui, possuindo aproximadamente 20 centímetros. Os dejetos são coletados por um saco plástico que fica dentro de um pequeno contêiner metálico trocado eventualmente.
10 – Os astronautas comem, principalmente, alimentos desidratados. São três refeições diárias: café da manhã, almoço e jantar. Nutricionistas garantem que eles tenham a ingestão balanceada de todos os nutrientes, assim, podendo escolher entre vários tipos de alimentos como frutas, oleaginosas, frango, bife, entre outros.
11 – De acordo com European Space Agency (ESA), os astronautas se exercitam duas horas por dia para compensar a perda de massa óssea e muscular de viver em “ausência de peso” – lembrando que as pessoas continuam com o mesmo peso, elas só aparentam não tê-lo porque estão em queda livre constantemente (item 6). E, para ajudar a quebrar a monotonia do treino diário, alguns laboratórios, como a NASA, utilizam o experimento de exercício imersivo com realidade virtual.
12 – Quando se fala em tempo no espaço, o professor Marcelo Zanetti explica que duas teorias são abordadas: a Especial da Relatividade e a Geral da Relatividade, ambas postuladas por Einstein.
Na primeira, o físico explica que o tempo não é absoluto, ou seja, um observador estacionário vai perceber o tempo passar de forma diferente em relação a um observador em movimento. Dessa forma, os relógios em velocidade orbital – no espaço – irão estar atrasados em relação ao relógio na Terra.
Já com a Teoria Geral da Relatividade, Einstein mostra que o tempo desacelera na presença de objetos massivos, pois a massa afeta a estrutura do Espaço-Tempo. Assim, um relógio em altitude orbital avançará com relação a um relógio na superfície da Terra (ou de outro planeta).
Relógios em órbita então combinam esses dois efeitos relativísticos: atrasam com a velocidade na qual se deslocam em órbita, mas avançam devido à sua distância da superfície da Terra.
13 – A diferença resultante entre o que acontece em órbita com relação à Terra é muito pequena para ser percebida por seres humanos, mas pode afetar os sistemas espaciais de forma significativa, principalmente aqueles que funcionam com base na sincronização de tempo, envolvendo a interação entre sistemas orbitais e sistemas terrestres, como é o caso do conjunto, ou constelação, de satélites do Sistema de Posicionamento Global (GPS).
14 – Boa parte das atividades dos astronautas em órbita estão relacionadas à manutenção de sistemas e estações espaciais. Outras observações estão ligadas à análise do corpo humano e do comportamento dos sistemas biológicos em ambiente espacial, buscando formas de mitigar problemas fisiológicos durante uma missão, e prever possíveis consequências que afetam a saúde dos astronautas mesmo após o retorno à Terra.
15 – Até então, nenhuma forma de vida extraterrestre foi identificada nesses estudos, nem em amostras colhidas por astronautas, nem em amostras colhidas por sondas robóticas – naves espaciais não tripuladas. Porém, muitos experimentos são feitos, os quais vêm mostrando que a vida pode existir mesmo no vácuo do espaço – o que abre novas possibilidades para a busca por vida extraterrestre.
16 – O recorde de estadia ininterrupta em ambiente espacial é do cosmonauta Valeri V. Polyakov, que permaneceu na estação espacial soviética MIR por 437 dias e 18 horas. A MIR, cujo nome significa “paz” em Russo, foi a primeira estação orbital projetada para ser montada em órbita, com o processo de montagem tendo sido realizado através de múltiplos lançamentos orbitais enviados entre 1986 e 1996. Ela foi desativada em 2001.
17 – Conforme comenta o professor Marcelo Zanetti, a última vez que foram abertas seleções para virar astronauta no Brasil foi em 1998. A Agência Espacial Brasileira (AEB) selecionou Marcos Pontes, atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), para se tornar o primeiro astronauta brasileiro, através de um convênio com a NASA. Desde então, não foi aberta mais nenhuma seleção. Mas, para quem tem interesse – e dupla cidadania -, Zanetti comenta que existe a possibilidade de participar da seleção de outros países. Ele recomenda entrar no site dessas agências e conferir os principais requisitos.
18 – O professor Eduardo Escobar conta que entre os principais requisitos para se tornar um astronauta estão: graduação e, no mínimo mestrado, nas áreas de ciências, engenharias, física, matemática ou ciências biológicas e medicina. Anos de experiência profissional, ser fluente em inglês, ter alguma experiência em pilotar aeronaves e ter treinamento em natação, mergulho e técnicas de sobrevivência. Além da parte técnica, o processo seletivo também leva muito em conta capacidades pessoais e interpessoais.
19 – Na UFSM, o curso de Engenharia Aeroespacial qualifica o aluno para trabalhar em sistemas tanto aeronáuticos quanto espaciais. O curso possui disciplinas específicas sobre sistemas aeronáuticos, veículos lançadores (foguetes) e sistemas espaciais (sondas e satélites). De acordo com o professor Marcelo Zanetti, o curso oferece uma formação bem sólida para início de carreira.
Expediente
Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Ilustração: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e voluntário
Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; e Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas