Dificuldades de atenção, inquietude motora e impulsividade. Esses são alguns dos sintomas de quem apresenta o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Conforme informa Mauricio Moller Martinho, professor e integrante do Departamento de Neuropsiquiatria da UFSM, o TDAH é “um transtorno do neurodesenvolvimento, de origem multifatorial, e causa prejuízos nos âmbitos social, familiar, acadêmico e ocupacional”.
Rafael Vaz, professor do Departamento de Clínica Médica e coordenador do curso de Medicina da UFSM, tem TDAH. Ele descobriu a doença na fase adulta – algo atípico. “Uma das coisas que mascarou bastante é que eu sempre fui um dos melhores da turma desde a escola, depois na faculdade. E isso também é um perfil do diagnóstico tardio: você estuda mais do que os outros, tem algumas técnicas indiretas para corrigir algumas falhas, e dá certo”, destaca.
O docente relata que começou a perceber melhor os sintomas durante a faculdade, quando começou a apresentar sinais de desatenção: “Aconteceram algumas coisas anedóticas, como deixar as pessoas falando sozinha; colocar a xícara de café na cafeteira, preparar o café e não tomar; perder o carro, coisas do tipo”, conta. Até que, com a sobrecarga do trabalho, resolveu consultar um psiquiatra e fazer uma avaliação.
“Tudo que eu falo eu aprendi com os psiquiatras. Eu faço tratamento farmacológico e faz bastante diferença. Eu tenho um padrão mais desatento. Eu não tenho aquela hiperatividade, apesar de ter um pouquinho às vezes, de fazer várias atividades ao mesmo tempo”, explica Vaz.
O professor, que assumiu a coordenadoria do curso de Medicina da Universidade em agosto deste ano, enfatiza que falar sobre o problema em ambiente universitário é importante para que mais pessoas, principalmente alunos, saibam que podem tê-lo e possam tratá-lo. Além disso, o professor faz um alerta para pessoas que fazem autodiagnóstico da doença: “Quando eu fui ao psiquiatra, ele fez vários testes para confirmar se aquilo me trazia dano, porque a ideia do diagnóstico é essa: você pode ser desatento, mas, para você ter TDAH, você tem que ter dano”, destaca.
Como diagnosticar o transtorno na infância e na fase adulta?
Segundo o professor do Departamento de Neuropsiquiatria da UFSM, Maurício Martinho, para um correto diagnóstico do TDAH na infância, é essencial entender a distinção entre o comportamento típico para a idade e o comportamento em que o ‘limiar patológico foi ultrapassado’: “Conhecer o desenvolvimento humano típico é necessário para o diagnóstico. É importante entender que, mesmo crianças e adolescentes sem TDAH podem ter algum grau de desatenção, hiperatividade ou impulsividade”, relata.
Além disso, Maurício salienta que dois terços das crianças diagnosticadas com TDAH na idade escolar continuam com sintomas na vida adulta, mas que, em adultos, os sintomas apresentam-se de forma diferente: o nível de hiperatividade muitas vezes diminui, enquanto os sintomas de desatenção tornam-se mais evidentes.
“No adulto, a hiperatividade costuma se manifestar como uma sensação subjetiva de inquietude. A impulsividade pode se apresentar como impaciência, falar em excesso, e ‘agir sem pensar’. Alguns sintomas podem resultar em conflitos nos relacionamentos, instabilidade em empregos e envolvimento em situações perigosas. A desatenção pode ser identificada pelo comprometimento da capacidade de manter a atenção, esquecimento de compromissos e perda frequente de objetos”, explica Maurício.
Com relação ao tratamento da doença, o especialista destaca que ele deve ser ‘multimodal’, ou seja, integrar psicoeducação sobre a doença com a família e a escola, suporte acadêmico, psicoterapias, treinamento de habilidades parentais e farmacoterapia. Para ele, a ideia corrente de que o diagnóstico de TDAH seja um prenúncio definitivo de fracasso escolar e acadêmico é algo que prejudica o paciente. Da mesma forma, o receio das famílias quanto aos efeitos da medicação sobre as crianças muitas vezes atrasa ou impossibilita o início do tratamento.
Expediente:
Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Design gráfico: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb, jornalista.