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Controle remoto ou remoto controle?

Professora pioneira em estudos de internet, Liane Margarida Rockenbach Tarouco, analisa a Internet das Coisas



No início deste ano foi lançado algo revolucionário, ou que pretendia ser: o Juicero – uma máquina inteligente de fazer sucos, com acesso à internet. A startup de São Francisco, Estados Unidos, desenvolveu esta máquina, vendida por 399 dólares, como também os sacos de porção única de frutas e vegetais orgânicos para serem espremidos na Juicero. Na prática, o produto se tornou obsoleto e virou motivo de questionamentos na internet, já que as porções de sucos poderiam ser espremidas manualmente e de forma muito fácil, sem necessidade de utilização da caríssima máquina.

No mesmo período de tempo, circula nas esquinas da rede mundial de computadores vídeos de bebês que operam touchscreen, mas quando são apresentados às boas e velhas revistas não conseguem folheá-las. Qual a relação entre esses dois fatos? A resposta começa em uma pequena sigla, utilizada há pouco mais de duas décadas, a IoT (Internet of Things), ou Internet das Coisas, e passa por questões tecnológicas, econômicas, sociais e culturais. Será o desenvolvimento tecnológico realmente o arauto da saída para nossos problemas? Ou será que estamos solucionando com a tecnologia problemas que a própria tecnologia acabou por criar? Será que a revista não passa de um tablet estragado?

A IoT é o desenvolvimento da capacidade computacional de comunicação de objetos do cotidiano das pessoas. Esses objetos coletam e compartilham informação na internet através de sensores e essa conexão faz com que possamos operá-los remotamente. O primeiro dispositivo criado em IoT foi no ano de 1990, por John Romkey, e era uma torradeira que podia ser ligada e desligada pela internet. O autor apresentou o invento na INTEROP ’89 Conference, porém, até o ano seguinte, o pão ainda devia ser colocado na torradeira manualmente. A partir daí, várias pesquisas nesse sentido foram desenvolvidas. As criações vão muito além de máquinas de fazer sucos ou torradeiras. As aplicações da IoT podem permear várias áreas da vida diária humana, inclusive a educação.

No Brasil, a pioneira em estudos deste tipo é a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dra. Liane Margarida Rockenbach Tarouco. Ela publicou o primeiro livro sobre redes de computadores no país em 1977 e esteve na UFSM na 15ª Escola Regional de Redes de Computadores (ERRC) ocorrido em setembro. Esse evento acontece anualmente, é promovido pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e tem como objetivo discutir percursos e percalços na área técnico-científica em redes de computadores.

A Arco conversou com a Prof.ª Liane sobre o tema de sua palestra “Internet das Coisas no campus: desafios e soluções”, como também sobre possibilidades e o futuro. Um bálsamo para os entusiastas de internet e tecnologia:

ARCO: Como é possível a existência, hoje em dia, da Internet das Coisas?

Profª Liane: Bem, com a redução do custo do hardware foi possível incorporar inteligência aos objetos do nosso dia a dia. Hoje, por exemplo, você pode adquirir um sensor por 20 reais e com ele desenvolver um dispositivo que pode ser usado na sala de aula para avaliar a qualidade do ar. Já existe uma quantidade imensa de carros que são controlados por processadores embarcados. Existe sapatos que controlam a pisada das pessoas… Então, em todo o lugar estamos cercados de dispositivos de baixo custo que facilitam a nossa vida. Eu por exemplo, controlo quanto eu caminho por dia. Isso é possível pela capacidade de transmissão por redes sem fio, que podem mandar os dados que estão sendo monitorados por algum sistema, que vai começar a juntar e calcular médias, desvio padrão, padrões. Isso nos ajuda a perceber que o padrão percebido não é o padrão esperado para poder tomar medidas imediatas para evitar prejuízos maiores. Essa é a Internet das Coisas.

A: E como isso pode ser usado nas universidades?

L: De diversas maneiras. Há desde coisas mais sofisticadas, como controlar o estacionamento, até mesmo a utilização para segurança, envolvendo a participação do usuário por meio da estratégia chamada sensoriamento participativo. Todo mundo na universidade tem um celular com GPS, capacidade de fotografar, capacidade de rede, então, existem anormalidades pelas quais as pessoas são melhores perceptivas do que sensores. Se todo mundo estiver atento, olhando e avisando, fica mais fácil de gerir o campus. E assim a gente tem uma série de soluções que, pouco a pouco, vão se tornando factíveis dentro do campus.

A: Qual a dificuldade da implementação dessas soluções?

L: Há duas grandes dificuldades. A primeira é econômica porque, apesar do barateamento dos hardwares, instalar todos esses dispositivos custa caro; dessa forma, é preciso começar devagar e aos poucos expandir. E o segundo aspecto é um aspecto técnico; é a questão de dispositivos que sejam capazes de transmitir dados captados por um fornecedor diferente; isso acontece porque é muito comum que os fornecedores de soluções para internet das coisas forneçam uma solução do tipo “pacote fechado”. Assim, tu compra os sensores e compra o programa deles, o aplicativo deles e, então, você fica com uma espécie de ilha. Isso não é o ideal.

A: De que forma a Internet das Coisas pode melhorar a aprendizagem na relação do professor com o aluno?

L: A gente sabe hoje que um dos grandes fatores que leva à motivação é a contextualização. O aluno precisa sentir que aquilo que ele está aprendendo é relevante, dado o contexto em que ele vive. Então, com o uso de smartphones para coletar dados, medidas, etc, é possível contextualizar o ensino, porque o processo de aprendizagem não termina quando o professor transmite o conhecimento para os alunos. Eles têm que ser capazes de analisar, sintetizar o que ouviram e, principalmente, recontextualizar. Com a Internet das Coisas, é possível a criação de novas formas de ver o mundo, e de atuar sobre o mundo.

A: Como você vê o avanço do conceito e da aplicação de internet ao longo desses anos?

L: Olha, mesmo nos países mais desenvolvidos, essa tendência ainda está na rampa de crescimento. Em todos os países em que já visitei, se fala em Internet das Coisas. Todos falam que agora, em 2017, seria um ano de virada, no sentido de que há mais coisas ligadas à internet do que pessoas. Em 2020, a expectativa é de que haja quatro vezes mais. O que eu vejo são protótipos que estão sendo testados, são novas ideias.

A: Como você vê o interesse de alunos de outras áreas do conhecimento por esse tipo de pesquisa?

L: Eu analiso a própria internet e a Internet das Coisas fazendo uma analogia com o carro. Os engenheiros mecânicos acham lindo olhar o motor, como funciona por dentro, mas as outras pessoas não se interessam por isso; elas querem entrar, sentar, dar a partida e andar. Os estudantes não precisam saber como são os protocolos da internet; eles só querem que funcione. Então, isso é um serviço, que aos poucos se torna invisível, no sentido de que ele está ali, ajudando, mas a gente não precisa percebê-lo. Esse é o ideal, quando a tecnologia está devidamente inserida no ambiente e atuando sem ser percebida. Ela simplesmente está.

A: A gente percebe quando estraga.

L: Sim, risos.

A: Quais são as áreas do conhecimento mais afetadas?

L: A área da computação em si, porque está ajudando a desenvolver. Mas hoje a gente fala em automação das casas. Sensores de movimento, de luz, energia, isso tem a ver com arquitetura, engenharia. Na agricultura, tem um grande espaço para o desenvolvimento do sensoriamento. Na área da medicina também, com medidores não intrusivos. Tem muitas áreas que irão se beneficiar com esse desenvolvimento da tecnologia.

A: Imaginando cenários, como você vê o futuro?

L: A computação de vestir. Vai ser um máximo: tá na tua roupa, tá nos teus óculos. Tu não precisa mais usar o celular. Tu vai ter lentes polarizadas. Tu fala e um microfone vai te ouvir. Assim como hoje tem a Siri no IOS. Vamos levar conosco a internet.

A: O que você diria aos estudantes da UFSM sobre esse novo mundo possível?

A gente está vivendo um tempo muito interessante. As coisas que temos pra fazer são infinitamente divertidas. Não estão prontas. Então, tem muita coisa por fazer, muito espaço para a criatividade, para experimentar, para criar soluções. Seria muito chato se tudo já estivesse pronto. É um mundo atual que está em mudança, em processo, não está estável, está crescendo. Uma sucessão de tentativas. Uma fase cheia de oportunidades.

A: O que você diria às pessoas que são avessas à tecnologia?

L: Eu entendo a preocupação das pessoas, na criação das crianças, por exemplo. Mas é o século 21. O cidadão do século 21 tem que ser fluente digitalmente. O que eu quero dizer é que as pessoas, para viver no mundo de hoje, precisam se adaptar. Elas não podem mais viver como era antigamente. Tudo tem novas possibilidades e novas facilidades. O mundo está mudando, a gente tem que pegar o melhor do mundo com sabedoria.

Repórter: Vitor Rodrigues

Fotografia: Rafael Happke

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