Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a 8ª posição no ranking do número absoluto de fumantes. No entanto, políticas públicas e leis antifumo têm colaborado para a diminuição do número de fumantes nos últimos 25 anos. Uma dessas políticas são os Grupos de Controle e Cessação de Tabagismo (GCCT), executada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Santa Maria é uma das cidades brasileiras beneficiadas por essa iniciativa.
No município, há seis Grupos de Controle e Cessação de Tabagismo, um deles com as atividades desenvolvidas pelo Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). O Grupo do Husm teve início em 2015, com a capacitação dos profissionais para a atuação. Na época, participaram das ações um médico do corpo clínico, dois residentes e duas enfermeiras. A aplicação do projeto piloto teve início em julho de 2016.
Inicialmente, foram reunidos 30 pacientes, indicados pela equipe da Pneumologia, e posteriormente encaminhados para uma triagem. A maioria dos pacientes apresentava sinais de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e alguns deles já tinham diagnóstico de câncer. Dos 30 selecionados, 20 compareceram à primeira sessão e 13 concluíram o tratamento; 7 pararam de fumar definitivamente e os demais reduziram significativamente o consumo. Em sua maioria, fazem parte do grupo pessoas com faixa etária acima dos 40 anos, idade em que as complicações do tabagismo começam a aparecer.
O tratamento tem duração de um ano e é dividido em duas etapas: os três primeiros meses exigem encontros presenciais do grupo; já os nove meses restantes são de acompanhamento por parte da equipe de profissionais. Teodora Alves, enfermeira do Serviço de Pneumologia do Husm e uma das coordenadoras do GCCT, explica que “uma parte do tratamento é medicamentoso e a outra parte é a terapia cognitiva comportamental. As medicações utilizadas no tratamento são a bupropiona, adesivos e gomas de mascar com nicotina. Elas são indicadas nos primeiros três meses”.
Teodora destaca que a caminhada ao longo dos 12 meses é árdua, mas que os participantes motivam uns aos outros. “O que dá apoio aos participantes é o próprio grupo. Quando um para de fumar, acontece um efeito dominó: aquele que parou contagia a todos os outros”, compartilha a enfermeira. O Grupo busca aprimorar a forma de acompanhar os pacientes, por considerar que ainda é difícil manter contato com todos ao longo de um ano.
As recaídas e o abandono do tratamento também fazem parte do processo. Assim que iniciam o tratamento, os pacientes são convidados a parar de fumar, o dia da mudança é o chamado “Dia D”. Por pararem de fumar ainda durante o tratamento e, por se considerarem prontos, acabam desistindo antes de completar os 12 meses. O abandono do tratamento também facilita a ocorrência de recaídas, que costumam ocorrer por volta do sexto mês de tratamento, geralmente com pacientes que já possuem alta carga tabágica, ou seja, fumam de duas a três carteiras de cigarro por dia. “A recaída acontece e, de acordo com as pesquisas, uma pessoa precisa entre três e quatro tentativas para parar de fumar definitivamente”, enfatiza Teodora.
Atualmente, o segundo grupo do projeto está em tratamento, com encerramento previsto para setembro deste ano. Teodora destaca que um dos fatores de sucesso das atividades foi a parceria com outros cursos, como Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Nutrição, Educação Física e Farmácia. “A multidisciplinaridade faz toda diferença no projeto. Enriquece muito ter abordagens diferentes”, destaca a profissional.
Atualmente, o projeto passa por momentos de incerteza. Devido ao cenário político do país e aos recentes cortes de verbas, o Inca não tem como garantir o fornecimento dos medicamentos para o início de um novo grupo. O tratamento tem custo total de cerca de R$547,00 por pessoa, e é responsabilidade do Ministério da Saúde realizar o orçamento e encaminhar a verba para a compra dos remédios necessários. Mesmo com as indefinições, o GCCT já realizou a seleção dos pacientes para um terceiro grupo.
Uma das diretrizes do projeto prevê que a unidade onde o tratamento é oferecido seja livre de fumantes. “Isso inclui toda a comunidade acadêmica e os profissionais do Husm. Começamos aos poucos, com os profissionais da Pneumologia”, explica Teodora. Foram selecionadas 20 pacientes, sendo 10 funcionários do Hospital e da Universidade. Todos já realizaram consultas e exames e aguardam para iniciar o tratamento.
Ainda para 2018, uma das propostas do Grupo é tornar o projeto objeto de estudo, registrando-o como projeto de pesquisa e extensão. A intenção é possibilitar a captação de recursos, além do envolvimento de mais cursos e, futuramente, oferecer assistência para a comunidade acadêmica.
A política de controle do tabagismo no Brasil
Desde o final da década de 1980, o Ministério da Saúde, através do Inca, tem trabalhado no controle do tabagismo no país, com a criação de ações em âmbito nacional promovidas pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT). O objetivo é reduzir o número de fumantes e a consequente mortalidade associada ao consumo do tabaco, utilizando de ações educativas, de atenção à saúde, de prevenção e de comunicação.
Em novembro de 2005, o Brasil ratificou a Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT), o primeiro tratado internacional de saúde pública visando conter a epidemia global do tabagismo. Concomitante à isso, o CQCT passou a fazer parte da Política Nacional de Controle do Tabaco, com forte apoio do Inca, responsável por organizar a participação e alinhamento de todos os setores do Governo às resoluções firmadas no tratado internacional.
O Inca e o Ministério da Saúde atuam em conjunto, de forma a promover ações junto às Secretarias Estaduais de Saúde e Educação, as quais, por sua vez, mantêm contato com as Secretarias Municipais de Saúde das áreas, visando promover ações de prevenção e combate ao Tabagismo.
Reportagem: Mariana Machado
Ilustração: Pollyana Santoro