Em 16 de setembro de 1987, o Protocolo de Montreal foi adotado com o objetivo de combater a destruição da camada de ozônio. Assinado por diversos países, o acordo se propôs a controlar e banir os clorofluorcarbonos (CFCs) – substâncias químicas que estavam enfraquecendo o ozônio na atmosfera. O Protocolo entrou em vigor em 1989 e, em 2008, foi o primeiro e único acordo ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) a ser ratificado por todos os países do mundo. Por isso, na próxima sexta (16), comemora-se o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio.
Conforme destaca a professora e coordenadora do Programa de Monitoramento de Ozônio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Damaris Kirsch Pinheiro, a camada de ozônio está localizada em uma região da atmosfera – a estratosfera – que fica a aproximadamente 20 quilômetros da superfície da Terra. Descoberta no século 20, é uma região na qual existe uma maior quantidade de moléculas de ozônio (O³) – e essa camada é extremamente importante para a vida no planeta. Ela é responsável por filtrar cerca de 95% dos raios ultravioleta (UV) oriundos do sol, impedindo que a maior parte desses raios atinja a superfície terrestre.
“A camada de ozônio é um filtro natural da radiação ultravioleta. Ela bloqueia totalmente a ultravioleta C (UVC), que é a mais perigosa. Da ultravioleta B (UVB) passa uma partezinha, e é essa que causa vários problemas, como câncer de pele, catarata e, inclusive, interfere no crescimento das plantas. Também passa um pouco da radiação que chamamos de ultravioleta A. Essa, por outro lado, é benéfica, por isso a gente deve tomar sol”, explica Kirsch.
Cloro, Flúor e Carbono: os maiores vilões da camada de ozônio
A camada de ozônio tem um buraco que se localiza na Antártida e sua abertura varia de ano para ano, por ser fortemente influenciado por eventos climáticos na atmosfera. Normalmente, o buraco abre em meados de agosto e fecha entre outubro e novembro. Neste momento, ele se encontra aberto.
No ano passado, a área máxima do buraco foi de cerca de 24 milhões de km². Segundo a professora Damaris, ele varia bastante por conta das temperaturas da Antártida e porque a região tem muitas nuvens. “A tendência é ele diminuir. Se está mais frio lá e tem mais nuvens, tem mais destruição de ozônio. Se está uma temperatura mais quente, vai gerar menos destruição de ozônio, porque tem menos nuvens”, argumenta.
Além das mudanças climáticas, a abertura recorrente também é resultado da excessiva emissão de produtos químicos destruidores da camada usados durante grande parte do século 20, os chamados CFCs. Eles são gerados por aerossóis e aparelhos como refrigeradores de geladeiras e ares-condicionados.
“O que está na atmosfera agora é o que foi lançado anos atrás. Os CFCs têm um tempo de residência na atmosfera muito longo, por isso ainda estão lá. A cada ano, eles começam a destruir a camada de ozônio de novo. O cloro que está lá vai continuar destruindo o ozônio ano que vem e no outro ano. Por isso, a gente espera que o buraco não abra mais lá pela década de 60 [do século 21], 2060 mais ou menos. São as previsões”, destaca Damaris.
Dados da ONU, de novembro de 2018, apontam uma recuperação da camada de ozônio, em partes da estratosfera, com taxas de 3% a 13% por década desde 2000. O órgão considera que “o Protocolo de Montreal foi um dos acordos multilaterais mais bem-sucedidos da história”. Apesar disso, de acordo com a professora Damaris, após o protocolo ter proibido a fabricação de CFCs, foram criados gases substitutos.
Primeiro, criaram-se os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs). “Esse hidrogênio que foi adicionado evita que o cloro solte mais fácil da molécula, mas mesmo assim ainda tem cloro e esses gases ainda destroem o ozônio. O protocolo diz que esses gases podem existir até 2040, então foi feita uma corrida para substituir o substituto. Do CFC passou para o HCFC e do HCFC passou para o hidrofluorcarbonetos (HFC). Esse último não tem cloro, não destrói mais a camada de ozônio”, afirma.
Os novos ares-condicionados e geladeiras são fabricados com novos produtos que não destroem o ozônio, mas causam aquecimento global, como é o caso dos HFCs. Segundo a professora Damaris, eles têm um poder de efeito estufa 12 mil vezes maior que os CFCs. Por conta disso, o protocolo de Montreal começou a monitorar a produção desses gases através da “Emenda Kigali”, que coloca os HFCs na lista de substâncias controladas.
Atualmente, já existem pesquisas com o objetivo de substituí-los. Segundo a ONU Meio Ambiente, as nações que ratificaram a emenda Kigali comprometem-se a reduzir em mais de 80% a produção e consumo desses gases. Se isso acontecer, será possível reduzir o aquecimento global futuro se houver uma diminuição de HFCs em cerca de 50% entre hoje e 2050.
Destruição da camada de ozônio resultaria na destruição da humanidade
De acordo com a ONU, recuperar a camada de ozônio pode prevenir até dois milhões de casos de câncer de pele por ano. Um mundo sem camada de ozônio seria um mundo em que os seres humanos desenvolveriam diversos problemas de saúde, como cataratas e sistemas imunológicos debilitados. As plantas e os animais também seriam afetados. Sem essa proteção natural, estaríamos expostos a uma intensa radiação ultravioleta destrutiva que emana do sol.
“Na Antártida, por exemplo, houve uma redução do crio (camarão pequeno), que é a base da cadeia alimentar de toda vida marinha. Diminuindo a produção do crio – que tende a morrer com a radiação (do buraco sobre a Antártida) – diminui uma série de outras coisas, como a pesca, por exemplo”, destaca a professora Damaris.
Apesar de a camada estar em recuperação, Damaris alerta que é preciso se manter vigilante: “Há poucos anos, houve emissões proibidas de CFC. Ele é um gás muito barato, qualquer químico consegue produzi-lo. Por isso, se alguém chegar para consertar seu ar-condicionado e perguntar se você quer colocar um gás mais caro ou mais barato, é porque o mais barato é um CFC”.
Expediente:
Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Camilly Barros, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb, jornalista;