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Bustos da UFSM: 7 personalidades homenageadas pela instituição

Conheça o patrimônio histórico da Universidade em forma de bustos



O campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) é repleto de espaços verdes, prédios, esculturas e monumentos. Entre eles, há alguns bustos de personalidades históricas que, em algum momento, fizeram-se essenciais para o desenvolvimento da instituição.

Descrição da imagem: colagem horizontal e em preto e tons de cinza de sete bustos, de homens brancos, dispostos em formato de círculo. Todos tem expressões sérias, e cor verde acinzentada. O fundo é preto.

De acordo com o Dicionário Michaelis, os bustos são representações artísticas, desenhos, esculturas ou pinturas que apresentam a parte do corpo humano da cintura para cima. Essas obras de arte têm a finalidade de eternizar a lembrança de um rosto e exaltar a vida e as ações históricas de pessoas importantes para o local onde foram instaladas. No campus sede da UFSM, é possível encontrar três bustos de personalidades que contribuíram para a ciência e para a estruturação da Universidade. São eles:

Alberto Santos Dumont

Descrição da imagem: Fotografia vertical e colorida do busto de Alberto Santos Dumont, que tem a cor de chumbo e está instalado em um bloco de concreto. No fundo, detalhe do Planetário da UFSM, prédios do CCSH, árvores e o céu azul.
Busto de Santos Dumont. Fotografia: Luciane Treulieb.

De acordo com o professor e ex-diretor do Planetário da UFSM, Francisco José Mariano da Rocha, o busto de Alberto Santos Dumont foi doado pela Base Aérea de Santa Maria (BASM) para a Universidade. Ele foi inaugurado no dia 16 de outubro de 1972 e sua autoria é indefinida, apesar de ter,  na parte posterior da cabeça, uma assinatura na qual se lê “AZANI”.

Descrição da imagem: Fotografia quadrada e em preto e branco de 12 homens e duas mulheres, em pé, em formato de meia lua, estão em torno de um bloco pequeno de concreto, que está sobre o gramado. No fundo, detalhe da cúpula do Planetário da UFSM.
Inauguração do Busto de Dumont. Arquivo: DAG/UFSM

Conforme informações da Força Aérea Brasileira (FAB), Alberto Santos Dumont foi o primeiro homem a voar em um aparelho mais pesado que o ar. A partir de 1897, o brasileiro deu início aos testes no âmbito da aeronáutica. De sua autoria, os  aviões 14-Bis e Demoiselle serviram de base para a construção de outros aviões. Dumont é conhecido como o “pai da aviação” e é homenageado em diversas exposições e museus. Na UFSM, seu busto fica em frente ao Planetário da Universidade.

Marechal Rondon

Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida do busto de Marechal Rondon, na cor chumbo e instalado sobre bloco de concreto. A fotografia está em contra-ploungée. No fundo, copa de árvore em verde escuro e céu iluminado.
Busto de Marechal Rondon. Fotografia: Gabriel Escobar.

Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon foi engenheiro militar e sertanista (explorador do interior brasileiro). Segundo o Arquivo Público mato-grossense, Rondon foi responsável por construir uma linha telegráfica que liga Mato Grosso a Goiás, o que permitiu o contato da capital, Cuiabá, com um dos estados mais isolados do país na época. 

 

Em 1910, ele passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Em suas expedições, Rondon ficou conhecido por defender os direitos dos indígenas e batalhar para que a demarcação de zonas de proteção fosse assegurada. Ele atuou na integração do oeste e norte do Brasil, por isso hoje é homenageado com o nome de um estado: Rondônia. Além disso, o Projeto Rondon, uma parceria entre o Governo Federal e as universidades brasileiras, e que inclui a UFSM, também leva sua memória no nome.

 

Conforme a mestre em Patrimônio Cultural pela UFSM, Daiane Tonato Spiazzi, por meio da UFSM, o Rio Grande do Sul se fez presente na primeira Operação oficial do Projeto Rondon em 1968. Na época, foi criado um campus avançado da UFSM na cidade de Boa Vista, em Roraima, que hoje é a Universidade Federal de Roraima (UFRR). 

 

De acordo com Eugenia Barichello, a instalação do busto de Marechal Rondon no campus é uma forma de a Universidade homenagear a figura importante que ele foi para a valorização do interior do país e em reverência ao Projeto Rondon, que possibilitou a integração da UFSM com a Amazônia. O busto, inaugurado no dia 13 de setembro de 1973, está localizado em frente ao Centro de Tecnologia (CT) e em sua placa está escrito “Homenagem da UFSM ao patrono das comunicações”.

Professor Francisco da Rocha

Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida do busto de Francisco da Rocha, que tem cor chumbo sobre bloco de mármore cinza. O fundoé um ambiente de hall, com paredes e pilares brancos, cadeiras pretas e detalhe de planta folhagem em vaso de barro.
Busto de Francisco da Rocha. Fotografia: Isadora Pellegrini

Eugenia conta que Francisco Mariano da Rocha, que é tio de José Mariano da Rocha Filho (fundador e primeiro reitor da UFSM), foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina de Santa Maria, em 1930. Posteriormente, com a oficialização da profissão  de farmacêutico, em 1931, foi registrado o documento que criava a Faculdade de Farmácia e Odontologia, que deu origem ao primeiro curso da UFSM, fundado por Francisco e seus irmãos.

 

Em 1945, Rocha assumiu a direção do curso de Farmácia, que contava com apenas cinco alunos. “Até então, os professores viviam em uma sede emprestada e trabalhavam de graça para fomentar o núcleo de ensino superior em Santa Maria”, conta Eugênia sobre  os primeiros anos do curso pioneiro da UFSM. O busto de Francisco, inaugurado em março de 1963, está no Hall do Centro de Ciências da Saúde e tem a intenção de homenagear o primeiro diretor da faculdade. Não se tem informações de quem foi o autor da escultura. Em sua placa constam apenas os dizeres: “Homenagem das faculdades federais, dos seus professores e da Reitoria da UFSM por iniciativa da Faculdade de Farmácia.”

Descrição da imagem: Fotografia quadrada e em preto e branco de um grupo de cerca de 50 pessoas, formada em sua maioria por homens, em um círculo amplo. Também há presença de mulheres, entre elas, duas freiras, e também uma criança. Todas as pessoas estão voltadas para o fundo central da imagem, onde está um busto sobre uma base retangular. O fundo da imagem é composto pelo teto e pelas paredes, ambos claros.
Inauguração do busto Francisco da Rocha. Arquivo: DAG

Bustos do Museu Gama D’Eça

O Museu Educativo Gama D’Eça, vinculado à UFSM, foi criado em 23 de julho de 1968, na gestão do reitor José Mariano da Rocha Filho. Nele estão localizados os bustos de Gaspar Silveira Martins, Assis Brasil e de José Maria. Os três bustos foram doados pelo Museu Victor Bersani, da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV). Confira:

Gaspar Silveira Martins

Descrição da imagem: Fotografia vertical e colorida do busto de Gaspar Silveira Martins, em tom de chumbo, sobre base branca. O fundo é uma parede de tijolos a vista.
Busto Gaspar Silveira Martins. Fotografia: Gabriel Escobar

Gaspar Silveira Martins foi advogado e atuou como político no Rio Grande do Sul. Era liberal e monarquista e foi um dos criadores do Partido Liberal Histórico (PLH). Segundo o Arquivo Nacional do Governo, ele foi fundador do jornal “A Reforma” (1892), veículo que divulgava os ideais federalistas gaúchos. Martins também teve importante papel na liderança da Revolução Federalista (1893-1895), que defendia o sistema de governo parlamentarista e opunha-se ao presidente do estado do Rio Grande do Sul, Júlio Prates de Castilhos.

Assis Brasil

Descrição da imagem: Fotografia vertical e colorida do busto de Assis Brasil, que tem cor marrom sobre uma base branca. No fundo, parede de tijolos a vista.
Busto Gaspar Silveira Martins. Fotografia: Gabriel Escobar

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), Assis Brasil foi o advogado responsável por fundar o partido Libertador, além de ter sido deputado e  Ministro Plenipotenciário – chefe de missão diplomática e relações exteriores – do Brasil em Buenos Aires. Era um grande defensor da Revolução Farroupilha e foi responsável por lançar e dirigir a Revista Federal. Além disso, ficou conhecido como Patrono da agricultura gaúcha, por ter trazido ao Brasil as primeiras raças de gado matrizes para o estado: Devon e Jersey. Ainda, a Granja de Pedras Altas foi o grande projeto pessoal de Assis Brasil. Em 1999, ela foi tombada, por razões históricas, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). 

José Maria

Descrição da imagem: Fotografia vertical e colorida do busto de José Maria, na cor marrom escuro, sobre base turquesa. O fundo é uma parede de tijolos a vista.
Busto de José Maria. Fotografia: Gabriel Escobar.

José Maria da Silva Paranhos Junior foi advogado, político, jornalista e diplomata. Foi responsável pela consolidação das atuais fronteiras do Brasil por meio da diplomacia. De acordo com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), ele escreveu na imprensa em seu nome e sob vários pseudônimos, dos quais são conhecidos: Nemo, Kent, Ferdinand Hex/(F.H.), Bernardo de Faria, J. Penn, Brasilicus, J. Reporter.

José Mariano da Rocha Filho

Descrição da imagem: Fotografia horizontal e colorida do busto de José Mariano da Rocha Filho, na cor prata, sobre base de mármore em marrom escuro. Atrás, tronco de árvore grossa, que se divide em uma forquilha e tem várias raízes.
Busto de José Mariano da Rocha Filho. Fotografia: Gabriel Escobar

O médico e professor José Mariano da Rocha Filho foi o fundador da UFSM. Mariano da Rocha, que sempre esteve presente na luta pelos estudantes e pela educação superior, enfrentou diversas barreiras para que pudesse ser criada a primeira Universidade Federal no interior do país. Ele  também foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina de Santa Maria. 

 

Para a filha dele, Eugenia Barichello, o pai foi o responsável por criar as condições para emancipar a Universidade, que teve sua oficialização em 1960.  Previamente, alguns cursos, como o de Medicina e de Farmácia, eram anexados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), antiga Universidade de Porto Alegre, e outros eram financiados pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição (FIC), hoje conhecida como Universidade Franciscana (UFN).

 

Eugenia relatou que a família de Mariano da Rocha realizou um grande projeto para o Memorial do fundador, que fica hoje ao lado da Reitoria da UFSM. Apesar de sua estrutura ter sido implementada de acordo com o planejamento, o interior do memorial segue vazio. Segundo a filha do professor, a ideia era que o busto de José Mariano ficasse dentro do espaço. Ela contou ainda que houve um projeto, realizado pelo professor já aposentado do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM, Juan Amoretti, de elaborar um monumento de corpo inteiro do primeiro reitor. Eugênia lamenta que muitos planos de homenagear José Mariano não tenham sido executados com sucesso. O busto do reitor fundador encontra-se na praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, e não há informações sobre a autoria e quando a escultura foi feita. Para suas filhas, Eugênia e Maria Izabel, o busto deveria estar no campus da Universidade.

A importância do patrimônio histórico do campus

Na correria do dia a dia, os bustos existentes no campus podem passar despercebidos. 

 

Eugenia acredita que a valorização de personalidades, em especial o fundador, é essencial. “Numa instituição, a questão do fundador é muito importante, o pessoal da administração diz que é o DNA, ele deixa marcas, tanto no setor público quanto no privado”, pontua a docente. Para ela, iniciativas de arquivistas da Universidade, como o projeto “Retalhos de Memória de Santa Maria”, do Departamento de Arquivo Geral (DAG), devem ser enaltecidas. A atividade busca difundir imagens do acervo da cidade e atua com acadêmicos dos Cursos de Arquivologia, Jornalismo, História e Desenho Industrial. “Resgatar a memória é reconhecer pessoas que trabalharam muito, para que elas sejam um exemplo e um estímulo para a juventude. A narrativa proporcionada pelos monumentos reforça a identidade, ela também traz um legado, uma história, dá exemplos e forma todo um laço para a aceitação e união da comunidade com a Universidade. Essas pessoas nos ligam a outras comunidades como seres humanos”, acrescenta Eugenia, sobre a relevância da comunicação institucional pelo patrimônio histórico em forma de bustos na UFSM, que tem a grande capacidade de legitimar as instituições.

 

Para a pesquisadora, o envolvimento dos estudantes para manter a imagem e a trajetória dessas pessoas é fundamental, afinal a Universidade é para eles. “Sem a memória, a gente não só perde a história, a gente perde a raíz, reconhecimento e identidade”, comenta a filha do primeiro reitor.

Raízes de uma sociedade colonial

Existe uma problemática que se faz presente não só nas representações em forma de monumentos na UFSM, mas de forma geral no Brasil: a maioria das pessoas homenageadas por bustos são homens brancos de classe média alta. Isso ocorre pois o ensino universitário teve seu início em um meio elitizado, branco e composto majoritariamente por homens. 

 

A historiadora gaúcha Giovanna Jung Luvizetto realizou uma pesquisa em relação à monumentalização da branquitude em formato de estátuas na cidade de Porto Alegre. “Torna-se inegável que os monumentos foram instrumentos ideológicos preciosos e largamente utilizados por essas elites no intuito de perenizar seus valores, bem como silenciar os que com eles não condizem”, pontua a autora sobre a hegemonia de homens brancos ricos no patrimônio histórico porto-alegrense, o que pode ser aplicado concomitantemente para os bustos de Santa Maria.

 

Sobre os monumentos na UFSM, a professora Eugênia Barichello expressa a expectativa de que a memória da Universidade possa ser representada de forma mais plural: “Espero ver, no futuro, bustos que homenageiam seus alunos e os esforços que eles fizeram para entrar e permanecer na Universidade”.

 

Expediente:

Reportagem: Isadora Pellegrini e Gabriel Escobar, acadêmicos de Jornalismo e bolsistas;

Fotografias: Isadora Pellegrini, Gabriel Escobar, Luciane Treulieb e Departamento de Arquivo Geral (DAG/UFSM);

Design gráfico: Julia Coutinho, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes e Gabriel Escobar, acadêmicos de Jornalismo e bolsistas; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.

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