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O autoteste para covid-19 é confiável?

Condições adequadas para coleta de material e tempo correto para testagem podem interferir no resultado



O debate sobre a adoção do autoteste de Covid-19 permeia as redes sociais desde as festas de final de ano. Pessoas que viajaram ao exterior e adquiriram autotestes relatam sobre a praticidade de realizar a testagem, uma vez que é feita pelo próprio indivíduo. Além disso, nas redes sociais, principalmente no Twitter, houve questionamentos acerca de o autoteste não ser vendido no Brasil.

Ilustração horizontal e em tons de azul e cinza. No centro, detalhes de uma mão que segura um teste de antígeno e um cotonete. A mão tem pele branca e unha comprida. O teste é cinza, horizontal, com um visor em que aparece uma linha vermelha abaixo da letra "C". Ao lado, há a letra "T". Ao lado do visor, um círculo. O cotonete é comprido e branco. O fundo é azul pastel.

Disponível nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, os autotestes são iguais aos demais testes de antígeno disponíveis nas farmácias do Brasil ou fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Neste tipo de testagem, não é necessário o auxílio ou supervisão de um profissional de saúde. No Brasil, não há liberação de autotestes para doenças infectocontagiosas passíveis de notificação compulsória, classificação em que se encontra a Covid-19. Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou que não está totalmente segura quanto à precisão dos resultados apontados em autotestes. Segundo o órgão, alguns critérios devem ser analisados, como medidas de segurança, observação de limitações, advertências, cuidados e condições para o armazenamento e intervalo de leitura para o resultado. Na categoria dos autotestes, há tipos permitidos no país, como os para diabetes, HIV e gravidez.

 

O médico infectologista e docente na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Alexandre Vargas Schwarzbold, defende a adoção dessa nova maneira de testagem, que pode auxiliar inclusive na triagem de possíveis casos positivos. “A capacidade de a pessoa se autodiagnosticar é muito bem-vinda em saúde pública”. Alexandre pondera, no entanto, que pode haver dificuldade na realização do teste, uma vez que, nos casos em que é preciso fazer swab – tipo de cotonete esterilizado que é usado para a coleta de material para a realização do exame -, o incômodo pode prejudicar a coleta correta do material. O infectologista aponta ainda que, se não é liberado pela Anvisa, há motivo prudente, uma vez que o órgão tem laboratórios e comissões técnicas especializadas para avaliar a qualidade dos autotestes. “Eu acho que é um erro não adotar, mas não da Anvisa, provavelmente do Ministério da Saúde por não ter isso como estratégia”, complementa Alexandre. No Reino Unido, o governo implementou o autoteste como política pública por meio da distribuição gratuita. Os kits podem ser retirados em farmácias, mas os indivíduos também podem receber em casa por meio de pedidos na internet ou por telefone. Há instruções de realização do teste, e os resultados positivos devem ser registrados em um site ou aplicativo em até 24 horas.

Como funciona o autoteste:

O autoteste de Covid-19 é uma testagem de antígeno, isso significa que ele detecta proteínas produzidas pelo Sars-CoV-2, e é similar ao chamado teste rápido, feito em farmácias. O kit do autoteste costuma conter  um swab nasal estéril, que serve para coleta do material, o tampão de extração, a tampa do filtro, o dispositivo de teste e o reagente – líquido que apresenta resultado positivo ou negativo a partir do contato com o material genético do vírus.

Infográfico vertical e em tons de azul pastel e cinza. Os testos estão em caixa alta e em preto. No centro superior, o título "Como funciona o autoteste de Covid". Abaixo, no lado esquerdo, o número um e, ao lado, imagem de uma mulher de pele parda e cabelos rosa inserindo um cotonete no nariz. Ao lado, o texto "retirada da amostra". Abaixo, o número dois e, ao lado, o texto "processo químico". Ao lado, imagem de um cotonete dentro de um recipiente com um líquizo azul. Abaixo, o número tres; ao lado, uma plaquinha em que o líquido pinga sobre um círculo azul; ao lado, o texto "testagem". Abaixo, o número quatro e, ao lado, na horizontal, a plaquinha cinza, que tem um visor abaixo das letras "C" e "T" e um círculo; abaixo, o texto "resultados possíveis". Abaixo, ilustração de três visores da plaquinha de testagem: com duas linhas vermelhas, é positivo; com uma linha vermelha no "C", é negativo; e com uma linha vermelha no "T", é inválido. O fundo é azul pastel.

Diferenças entre o teste PCR, o teste de antígeno e o autoteste de antígeno

Teste PCR: considerado o teste ‘padrão ouro’ na medicina, o Polimerase Chain Reaction – reação em cadeia da polimerase, em português – é considerado o modelo mais adequado de testagem. Alexandre explica que o PCR é o teste que permite o melhor resultado e é o mais confiável, uma vez que ele é o mais sensível dentre os tipos disponíveis. “Ele é um teste molecular, é aquele que identifica o material genético do organismo. Nesse caso, do vírus que está ou não no organismo”, afirma. Por isso, quando apresentar resultado positivo, é indicativo de que a pessoa está contaminada com Covid-19. O infectologista exemplifica que a identificação segue a mesma lógica de um teste de DNA: não há como identificar o material genético de um organismo em outro. No caso da variante ômicron, a identificação do resultado positivo é confiável até mesmo no primeiro dia após contato com pessoas contaminadas.

 

Teste de antígeno: encontrado facilmente nas farmácias, o teste de antígeno é menos sensível que o PCR. De acordo com Alexandre, quando o resultado revela um quadro positivo, as chances de condizer com a realidade são muito altas. Já quando o teste mostra negativo, há possibilidade de ocorrência do que os especialistas chamam de “falso-negativo”, quando a testagem não foi feita no tempo correto de espera e, por isso, não descarta a chance de a pessoa estar infectada. “A grande e única vantagem do teste de antígeno é que, além de barato, ele pode ser feito em qualquer local. O resumo da ópera é: se os dois [antígeno e PCR] deram positivo, confie no resultado, os dois são positivos sempre. Agora, o teste de antígeno feito muito cedo com resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção”, afirma Alexandre.

 

Autoteste de antígeno: Sua metodologia de funcionamento é igual ao teste de antígeno realizado em farmácias. A diferença é que neste há um kit para que as pessoas levem para casa. Alexandre frisa que este tipo de testagem é um dilema, uma vez que não há garantia quanto à técnica de sua realização. O autoteste de antígeno necessita de uma coleta adequada para ter resultados confiáveis. No caso de coleta por swab nasofaríngeo – em que um cotonete é introduzido através do nariz e que é muito incômodo e pode gerar ardência – há dificuldade de a pessoa realizar a coleta de material em si mesma. No entanto, existem autotestes que utilizam a saliva como material para a coleta, a chance de ter uma boa evidência é bem maior. A venda deste tipo também não é permitida no Brasil.

Ilustração quadrada e colorida de um cotonete sendo inserido pelo nariz de uma pessoa. O desenho do rosto da pessoa não tem detalhes, apenas o caminho do nariz, nasofaríngeo, faringe, etc. O cotonete branco entra no nariz e vai até o final do canal, antes de dobrar no caminho que segue para a garganta. Esse é o local em que fica o nasofaríngeo. O fundo é azul pastel.
O cotonete é inserido pelo nariz até atingir o nasofaríngeo.

Vantagens do autoteste de antígeno

 A indicação é que o autoteste seja feito entre o quarto e o quinto dia dos sintomas e/ou do contato com pessoas positivadas. A vantagem, segundo Alexandre, diz respeito a não circulação do vírus, uma vez que as pessoas não precisam sair de casa para fazer o teste. Ele pode ser comprado antecipadamente pelo indivíduo que armazena o teste para quando precisar. Esses testes poderiam gerar maior autonomia às pessoas perante manifestação dos sintomas ou após o contato com alguém que testou positivo para a doença, evitando assim filas e esperas longas por um teste. A Anvisa, em sua nota técnica, fala que a simplicidade da execução do teste não garante a segurança da utilização e dos resultados. Em janeiro deste ano, o órgão se reuniu para discutir sobre os pedidos de liberação da ferramenta, feitos pelo Ministério da Saúde. A primeira reunião da pauta ocorreu no dia 19 de janeiro. No entanto, a Anvisa decidiu pelo pedido de mais informações sobre a forma da inclusão do autoteste nas políticas públicas contra a Covid-19. 

Veredicto final: Depende

 

A confiabilidade do autoteste de antígeno para a Covid-19 depende das condições de coleta de material para a análise e do tempo certo em que a testagem deve ser feita, que, segundo especialistas, é de quatro a cinco dias após o início dos sintomas ou o contato com pessoas positivadas.

Ilustração vertical e colorida de uma escala em formato ondulado, com ilustrações circulares nas extremidades inferior e superior. Na ilustração superior, roxa, mulher com cabelos brancos, lisos e compridos usa capuz roxo escuro; ela tem pele parda e um olhar sério. Abaixo da ilustração, há uma nuvem de fumaça roxa. Na escala, os elos coloridos se intercalam com os elos transparentes. Há quatro elos coloridos, de cima para baixo: roxo, bordô, marrom forte e marrom fraco. Abaixo do último elo, ilustração circular de uma cientista de dele branca, cabelos curtos e ondulados, que usa óculos redondos e segura nas mãos um frasco transparente com fumaça verde saindo.
Expediente:
Reportagem: Tayline Alves Manganeli, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Design gráfico: Joana Ancinelo, acadêmica de Desenho Industrial e voluntária;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário; e Martina Pozebon, acadêmica de Jornalismo e estagiaria;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.
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