“Realização pessoal”, descreveu o professor Otavio Acevedo sobre ser contemplado com o Prêmio Pesquisador Gaúcho 2021 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Ele conta que foi através de um telefonema do diretor científico da Fapergs, no dia 13 de setembro, que recebeu a notícia.
Vinculada à Secretaria Estadual de Inovação Ciência e Tecnologia (SICT), a edição deste ano da Fapergs teve como tema “A Ciência a serviço da Sociedade”, destacando a contribuição da ciência no combate à pandemia e o seu potencial em gerar inovação, riquezas e bem-estar, contribuindo para uma sociedade melhor. Os nomes dos agraciados com o prêmio foram selecionados com a participação do comitê de assessores científicos da fundação e do comitê especial.
Indicado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP) da UFSM, Otavio se destacou na área de Geociências e Oceanografia. Também foram evidenciados na edição pesquisadores de outras oito áreas: Artes, Letras, Linguística; Arquitetura, Urbanismo e Design; Ciências Agrárias; Ciências Biológicas; Ciências da Saúde; Educação; Engenharias; e Economia e Administração. Nesta última, a também docente da UFSM Kelmara Mendes Vieira foi a premiada.
A cerimônia de entrega do prêmio será no domingo (17), às 19h e será exibida no canal do YouTube da Fapergs. A Revista Arco conversou com o professor Otavio Acevedo para conhecer um pouco sobre sua paixão pela área que estuda e sua trajetória acadêmica até chegar ao prêmio.
ARCO – Por que você escolheu ser pesquisador?
Eu sempre soube que queria ser pesquisador, mesmo antes de saber o que significava “pesquisador”. Eu adorava aprender e entender ideias desde pequeno, e sempre tive claro que iria fazer isso na vida. Já na área em que eu iria estudar, isso veio depois, e foi meio por contingência do destino.
ARCO – Quando você começou na área?
Tendo nascido e passado minha juventude em Pelotas, havia lá um curso de Meteorologia na UFPel, no qual eu entrei para conhecer. Acabei gostando do curso, mas me fascinando mesmo pela atividade de pesquisa, e pela ideia de estudar e aprender sobre conceitos novos.
Fiz mestrado em Meteorologia na USP e doutorado na mesma área na Universidade de Albany, nos Estados Unidos. Lá tive contato com os grandes projetos de pesquisa e grandes pesquisadores da minha área. Em 2001, terminei o doutorado e vim para Santa Maria trabalhar como recém-doutor do Programa de Pós-Graduação em Física, no grupo dos professores Gervásio Degrazia e Osvaldo Moraes – que pesquisavam na minha área e haviam sido meus orientadores de iniciação científica e mestrado.
Em 2003, me tornei professor da UFSM e, em 2004, nós criamos o curso de Bacharelado em Meteorologia, que começou a operar em 2005, e do qual fui o coordenador nos primeiros quatro anos de existência. De lá para cá, crescemos, já somos mais de 10 professores na área, e temos nosso próprio programa de pós-graduação, com mestrado e doutorado.
Não tenho a menor dúvida que essa estrutura toda que tenho na UFSM é essencial para a qualidade da pesquisa que desenvolvemos.
ARCO – Qual a sua área de pesquisa?
Eu estudo Meteorologia de camada limite planetária, também chamada Micrometeorologia, que se refere aos processos físicos que acontecem na parte mais baixa da atmosfera – onde nós vivemos. Minha pesquisa tem aplicações na área ambiental, e também para a previsão do tempo nessa região junto à superfície.
No primeiro caso, pesquisa ambiental, tenho trabalhos que mostram como ocorre as trocas de gases e energia entre a superfície e a atmosfera em condições que esse processo não é facilmente explicado. Um exemplo é a floresta Amazônica, onde há 20 anos eu participo de grandes projetos com objetivo de entender esses mecanismos de transferência.
Agora, em anos mais recentes, minha pesquisa tem se voltado para propiciar aprimoramento dos modelos usados para previsão do tempo nessa região perto da superfície, especialmente durante a noite, que é quando esses modelos mais erram devido à maior complexidade dos processos físicos que ocorrem. Também tenho trabalhos aplicando essas ideias para a previsão de qualidade do ar.
ARCO – Qual foi sua primeira reação ao receber a notícia do prêmio?
Muita alegria e felicidade, com certeza. Há uma componente de realização pessoal, e também a importância que o prêmio tem para a divulgação do trabalho que fazemos, no nosso grupo de Micrometeorologia, e nos Programas de Pós-Graduação de Meteorologia e Física. Também ajuda a mostrar a importância e qualidade da UFSM como instituição de produção de conhecimento.
ARCO – Por fim, após ganhar esse prêmio tão importante, o que você diria para os brasileiros que estão sem esperança em um futuro que valoriza a ciência?
Nada é mais importante para a humanidade que o conhecimento. A ciência é o que possibilita esse conhecimento, com seus métodos, seus avanços e até suas incertezas. Em um momento que se fala tanto em liberdade, nada possibilita mais a liberdade que o saber – e o saber envolve passar conhecimento, e também descobri-lo, compreendê-lo.
É uma pena que hoje a discussão sobre ciência sequer seja sobre o quanto se investe nela, mas sobre o quanto se acredita nela. Ao mesmo tempo, a vacinação no Brasil dá uma ideia de que há, sim, em nosso país, entendimento da importância do conhecimento científico, com poucas exceções. Acho que podemos acreditar que essa lição tenha ficado deste momento difícil, e torço que isso ajude na valorização e investimentos em ciência no futuro.
*Fotografia disponibilizada no site da UFSM
Expediente
Reportagem: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Ilustração: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista
Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes, estagiária de Jornalismo e bolsista; e Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas