Há mais de uma década, uma campanha tenta conscientizar homens a fazerem algo que deveria ser básico: cuidar da própria saúde. O Novembro Azul surgiu na Austrália, em 2003, com o intuito de informar sobre a prevenção e o diagnóstico de doenças que atingem o público masculino.
A campanha, que em inglês se chama Movember (junção das palavras bigode e novembro), conseguiu fazer com que muitos homens adotassem o bigode durante o mês. Com a decisão de manterem seus pelos sobre os lábios superiores, eles passaram a divulgar a campanha que alerta os perigos do câncer de próstata, segundo mais comum entre os homens e ainda cercado de muitos tabus.
A falta de cuidado com essa glândula afeta a saúde masculina de diferentes formas. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 14 milhões de brasileiros, por volta dos 45 anos, sofrem com a Hiperplasia Prostática Benigna (próstata aumentada). O tratamento é seguro e costuma dar bons resultados, mas, para isso, é preciso ir ao médico.
Tabu do exame
O preconceito em torno do exame do toque ainda é recorrente entre a comunidade masculina. Homens, a partir dos 40 anos, devem começar a se preocupar com esse problema e procurar um médico urologista para realizar o exame do toque retal. De acordo com especialistas, ele dura cerca de 7 segundos e é o principal meio utilizado para identificar eventuais problemas que possam acometer a próstata.
Mesmo com a rapidez do exame, o número de vítimas mostra que o cenário não é nada bom. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, um homem morre a cada 38 minutos de câncer de próstata no Brasil. Histórico familiar, obesidade e idade avançada são três fatores importantes associados à incidência da doença.
No estágio inicial, o paciente com câncer de próstata pode apresentar: dificuldade para urinar, presença de sangue e diminuição do jato da urina, e necessidade ir várias vezes ao banheiro. Outras doenças consideradas benignas costumam apresentar os mesmos sintomas.
“O Novembro Azul está aí para levantar uma bandeira que é a falta de cuidado com a saúde masculina. Mas sobre o câncer, os homens precisam entender que ele não é um bicho de sete cabeças. Ele é simples e praticamente indolor, além de não afetar em nada a masculinidade deles”, explica o médico proctologista Eduardo Rodrigues, do Hospital de Caridade de Santa Maria.
Eduardo aponta ainda que é a partir do toque na próstata que o médico pode analisar se a glândula apresenta alguma irregularidade. “As chances de cura do câncer de próstata são enormes, mas a maioria dos casos que resulta em óbito acontece devido a um diagnóstico totalmente tardio.”
Diagnóstico
Como a próstata fica abaixo da bexiga e à frente ao reto, o exame de toque permite ao médico apalpar a glândula e perceber se há nódulos ou tecidos endurecidos, o que, se houver, pode indicar o estágio inicial da doença. O exame é rápido e indolor. Além disso, também existe a dosagem de Antígeno Prostático Específico (PSA), uma testagem complementar de sangue.
Conforme o membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), José de Almeida, a prevenção do câncer de próstata se divide em duas frentes: os homens que já tem histórico familiar para o câncer de próstata e aqueles que não têm histórico familiar. “A maneira mais segura de curar o câncer de próstata é descobrindo-o precocemente, ou seja, fazendo os exames preventivos,” ressalta José Almeida, no Portal da Urologia.
Militar da reserva, Sérgio Florez, descobriu que tinha câncer de próstata aos 75 anos. O diagnóstico aconteceu de forma não tão precoce, mas em um estágio que permitiu o controle da doença. “Eu confesso que fui resistente em fazer o exame. Eu pensava que isso não era coisa para homem e que a medicina deveria ter outro método para dar o resultado. Mas, como eu sempre zelei pela minha saúde, me conscientizei e fiz. Hoje posso dizer que estou praticamente curado”, relata Sérgio.
Estágios do Câncer de Próstata
Conforme o médico proctologista Eduardo Rodrigues, é possível identificar quatro estágios no câncer de próstata.
De acordo com o Eduardo, os efeitos colaterais de alguém que possui a doença são incontinência urinária e impotência sexual. Quando o câncer está localizado na próstata, o procedimento mais comum é a realização de cirurgia e depois radioterapia. Já quando há metástase apenas a radioterapia é indicada para tratar.
A masculinidade e seus tabus
A masculinidade encontra-se presente há algumas décadas no meio das discussões da sociedade. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou, em 2019, que a expectativa de vida é de 80 anos para mulheres e 73 para homens. Ela tem como principais fatores o fato de que os homens possuem comportamento mais violento; vão menos ao médico; fumam, bebem e se alimentam de maneira errada com maior frequência.
A psicóloga Ivete Beltrame explica que ser homem e viril é uma construção embasada na alta resistência às doenças, menos cuidado consigo e práticas sexuais de risco, justificadas pelo maior número de parceiros ou parceiras e sentimento de autoproteção. “Conhecer o seu corpo e reconhecer sua fragilidade também são coisas de homem”, destaca.
Repórter: Pablo Iglesias, acadêmico de Jornalismo
Ilustração: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial
Mídias Sociais: Nataly Dandara e Nathalia Pitol, acadêmicas de Relações Públicas
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