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A periferia toca Mozart

Projeto de extensão muda a vida de crianças e jovens carentes através da música



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O termo spalla surgiu na Itália para se referir à escada que apoia o ator principal em uma peça. Em uma orquestra, o spalla é responsável pela primeira afinação dos instrumentos no palco, e é o apoio do músico principal, o maestro. O Projeto Orchestrarium, que promove a inclusão social através da música, de forma gratuita, pode ser considerado o spalla na vida de dezenas de crianças e jovens da periferia de Santa Maria.

O projeto de extensão, vinculado ao Centro de Artes e Letras da UFSM, surgiu em abril de 2013 na região norte da cidade e foi idealizado pelo professor do curso de Música da UFSM Marco Antônio Penna. Através da arrecadação de instrumentos pelas redes sociais, as primeiras crianças e jovens, de seis a 29 anos, tiveram contato com violinos, violas e violoncelos. O projeto, que começou com 15 alunos, atendeu cerca de 150 novos músicos em 2016.

As aulas acontecem no turno inverso da escola e contemplam diversas artes, como a música, a dança e o teatro, e até mesmo a matemática e o português. Aos sábados, há aulas de reforço para quem está com alguma dificuldade na escola, já que o bom desempenho é requisito básico para tocar na orquestra principal. Além disso, as coordenadoras do projeto prezam por trabalhar junto com as famílias, devido à realidade delicada de algumas crianças, que enfrentam abandono, abuso e violência.

Para a coordenadora geral, Mirian de Agustini Machado, o Orchestrarium é um projeto de inclusão e integração social. Independentemente de classe social, a integração se faz para que as pessoas não percebam no momento de ensaio ou apresentação quem é o filho de quem tem um pouquinho mais de condição e daquela família que não tem dinheiro para a comida.

Durante o ano, diversos acadêmicos da UFSM compartilham seus aprendizados com as crianças e jovens. Segundo Mirian, alunos de bacharelado e licenciatura da Música, das Letras, e da Dança trabalham de forma voluntária e constituem a grande família que é o projeto Orchestrarium. Para a gestora, o contato com os universitários cria nos pequenos músicos a perspectiva de também entrar em uma universidade no futuro, principalmente no curso de Música.

Para o violista Luan Levi, 15 anos, a principal mudança que o projeto proporcionou está na família. “As pessoas começam a te ver diferente, porque tu começa a abranger outros conhecimentos que eles não têm”. Já Hemelayne Lima, que toca violoncelo, sonha em entrar na faculdade de Música e não quer se desvincular do projeto quando chegar nessa fase. Ela explica que quer continuar para ajudar os novos alunos que chegam, assim como a ajudaram quando iniciou.

Diante das dificuldades de arrecadar instrumentos e de levar os alunos até os locais de ensaios e apresentações, o Orchestrarium encontra apoio em editais de recursos públicos e na ajuda financeira de pais e colaboradores. O principal objetivo é permanecer interferindo na vida de crianças e jovens, para que cada vez mais eles tenham a oportunidade de pisar em um palco ou atravessar o arco da universidade pela primeira vez.

Repórter: Andressa Foggiato
Diagramação: Kennior Dias
Locução: Marcelo De Franceschi

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