As árvores possuem o tronco geralmente retilíneo e cilíndrico e a copa quase sempre é rala e alongada. Vastas extensões de terra, com um eucalipto alinhado metodicamente ao lado do outro, constroem a paisagem de muitas viagens pelas estradas do Brasil e de outros países. Os eucaliptos chegaram ao Brasil em 1825, como plantas ornamentais no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e são, no cenário atual, relevantes economicamente devido à capacidade de adaptação às mais diversas condições de clima e solo, além da importância ambiental.
Nativos da Austrália e de outras ilhas da Oceania, onde constituem parte dominante da flora, os eucaliptos são árvores — em casos raros, arbustos — de rápido crescimento e ampla diversidade — ao todo, são mais de 700 espécies. No Brasil, o eucalipto é uma das principais fontes de matéria-prima de produtos como celulose, carvão vegetal, móveis, compensados e postes. As folhas das árvores permitem que se extraia um óleo, que aparece no dia a dia em forma de chás, balas, sabonetes, perfumes, produtos de limpeza e xaropes.
A manutenção da diversidade das espécies em florestas naturais, a contenção do desmatamento e a busca por madeiras que gerem alto lucro industrial são demandas dos cenários ambiental e econômico e colaboram para que o eucalipto seja significativo nesses dois espaços. A silvicultura desse gênero, isto é, os métodos implantados para recuperar e aperfeiçoar a povoação florestal, tendo em vista a necessidade de mercado e o uso racional das árvores, está presente no Brasil há mais de cem anos.
Devido à tamanha importância do eucalipto, o professor do Departamento de Ciências Florestais da UFSM Mauro Schumacher e o professor do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental Márcio Viera organizaram um livro a respeito do tema. “Este livro tem muitas dicas técnicas para estudantes, pesquisadores e empreendedores da área florestal, e não apenas grandes empresas, mas também pessoas da comunidade em geral, que lidam com bosques ou áreas de eucaliptos para lenha, por exemplo”, comenta o professor Mauro Schumacher.
A ideia inicial era a produção de um material didático menor, de circulação interna, mas foi expandida e gerou a obra Silvicultura do Eucalipto no Brasil, lançada em 2015 pela Editora UFSM, que reúne artigos escritos por professores e técnicos ligados à área. Em 308 páginas, o livro tem como propósito esclarecer aspectos técnicos e científicos sobre as atividades e processos produtivos envolvidos na silvicultura do eucalipto.
“O que valoriza esse livro é o fato de não ser produzido apenas por pesquisadores da Universidade. A obra reúne vários especialistas, que tratam de temas como a origem do eucalipto, as primeiras sementes, melhoramento genético, escolha do solo, colheita, sistemas agroflorestais. Ou seja, tem uma gama muito grande de professores e profissionais que contribuíram em diferentes vertentes”, ressalta o professor Mauro Schumacher.
Melhoramento genético e incentivo estatal
O crescimento da utilização de produtos de origem florestal tem estimulado a criação de programas de reflorestamento no Brasil, assim como projetos de melhoramento genético, o que é comum quando se desenvolve uma espécie longe do seu centro de origem. “Creio que o próximo passo no desenvolvimento da espécie seja a seleção de materiais genéticos mais específicos para determinados usos, sejam novos clones ou cruzamentos com finalidades específicas para as nossas condições, como materiais mais apropriados para madeira serrada e para condições de cultivos diferentes dos utilizados tradicionalmente até então”, observa o engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) Regis Pereira Venturin.
A professora da Faculdade de Ciências Biológicas e Agrárias da Universidade Federal do Estado de Mato Grosso Juliana Garlet afirma que o Brasil é o grande detentor mundial da tecnologia de produção dessa espécie e por isso também é o maior produtor de eucalipto do mundo. “Sem dúvida, uma das principais perspectivas de avanço tecnológico é a liberação do eucalipto geneticamente modificado ocorrida em 2015, em que o Brasil é o primeiro país a possibilitar que isso ocorra e que dá a previsão de aumento de 20% na produtividade. Além da transgenia, o aumento da mecanização no processo de produção, a intensificação da silvicultura de precisão e melhorias no monitoramento florestal com o uso de Vants (veículos aéreos não tripulados) são outras perspectivas a serem citadas”.
A redenção do “deserto verde”
As primeiras tentativas de reflorestamento do eucalipto — isto é, a regeneração natural ou intencional de florestas e matas — aconteceram no início do século 20 e não obtiveram sucesso no Brasil, devido ao equivocado modo de implantação da técnica. No entanto, a demanda de mercado fez com que a lei 5.106, do ano de 1966, propusesse uma série de incentivos fiscais a empreendimentos florestais, o que gerou o aparecimento de pessoas contrárias ao método e às isenções conseguidas, baseando seus discursos no insucesso inicial. De acordo com o professor Schumacher, a obra desmitifica essas declarações. “Afirmações como as de que eucalipto seca e degrada o solo, que destrói a fauna e a flora, faz com que se perca a biodiversidade são falácias, sem respaldo científico algum”, assegura Schumacher.
Regis Venturin, pesquisador da EPAMIG e co-autor de um capítulo sobre agrossilvicultura no livro Silvicultura do Eucalipto no Brasil, complementa: “Isso é um mito que vem sendo desmentido ao longo do tempo. A planta de eucalipto é extremamente eficiente em captar e armazenar nutrientes e recursos que ela necessita, assim é muito competitiva enquanto está estabelecida. Todavia não é diferente de outras tantas espécies cultivadas ou nativas do Brasil. O que observamos é que dentro de um plantio de eucalipto temos um sub-bosque diverso [que pode abrigar outras espécies vegetais] e, a partir da retirada da espécie, se não for mais cultivado, temos uma rápida recuperação da condição original, obviamente com os impactos normais de qualquer cultivo”.
O livro Silvicultura do Eucalipto no Brasil possui nove capítulos, contou com a colaboração de 21 profissionais da área e aborda assuntos como produção de mudas, desbastes e derramas, manejo de solos, insetos-praga na cultura, exportação e ciclagem de nutrientes, agrossilvicultura e melhoramento genético. A obra, que também está disponível na versão digital, pode ser obtida na Livraria UFSM ou através do site da Editora UFSM (editoraufsm.com.br).
Repórter: Bernardo Zamperetti
Diagramação: Juliana Krupahtz