A astrofotografia é um ramo da astronomia que permite revelar, por meio de fotografias do céu noturno, corpos celestes que muitas vezes estão invisíveis a olho nu, como constelações, planetas, galáxias e nebulosas – nuvens formadas por poeira cósmica e gases como Hidrogênio. O primeiro registro da atividade aconteceu em 1840, com uma foto da lua. Atualmente, a astrofotografia é feita tanto por profissionais, quanto por pessoas que a praticam como hobby.
Os equipamentos considerados acessíveis para o público amador variam de câmeras de celulares a telescópios. Contudo, a astrofotografia envolve alguns desafios técnicos – como o movimento aparente do céu, devido à própria rotação da Terra – que podem fazer com que as fotos capturadas podem ficar ‘borradas’. Por isso, precisa-se de ferramentas que movimentem a câmera fotográfica para realizar registros com boa qualidade. Porém, o custo desses equipamentos é elevado no Brasil, já que são importados, o que dificulta a prática da atividade.
Diante disso, o professor do Departamento de Processamento de Energia Elétrica da UFSM, Rafael Concatto Beltrame, propôs o desenvolvimento de uma ferramenta – plataforma equatorial – de custo acessível para a prática da astrofotografia como tema de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O discente do curso de Engenharia da Computação, Eugênio Piveta Pozzobon, na época graduando de Engenharia Elétrica, aceitou o desafio.
Equipamentos convencionais para astrofotografia
Outro objetivo do desenvolvimento da plataforma é ser de fácil utilização. Rafael explica que os equipamentos disponíveis no mercado são de difícil configuração, já que o posicionamento da plataforma precisa ser feito com o eixo de rotação da Terra. Além disso, as configurações para o alinhamento dependem da localização geográfica do fotógrafo. Os métodos mais comuns, por exemplo, são realizados por laser ou por luneta. A plataforma que sustenta a câmera precisa ser deslocada para acompanhar o movimento aparente do céu e tirar fotografias com qualidade.
Independentemente do método empregado, quem se encontra no hemisfério norte precisa alinhar a plataforma com o polo norte celeste, que tem como referência a estrela polar. Porém, o método pode não ser totalmente preciso, devido ao fato de a estrela não estar localizada no centro do polo. Já no hemisfério sul, deve-se alinhar a plataforma com o polo sul celeste, que não possui um ponto de referência central, o que dificulta o alinhamento, pois o fotógrafo precisa conhecer e localizar diferentes constelações no céu, como o Cruzeiro do Sul.
Desenvolvimento da plataforma equatorial
Tais métodos exigem conhecimento prévio sobre astronomia, o que dificulta a adesão à astrofotografia de quem não é da área. Neste sentido, a plataforma equatorial desenvolvida por Rafael e Eugênio, chamada de EasyTracker, apresenta inovações em relação aos equipamentos convencionais: “Quando propus a ideia para o Eugênio, pretendia desenvolver também um aplicativo para celular que guiasse o usuário na configuração da plataforma, sem que o fotógrafo precisasse possuir conhecimentos em astronomia”, comenta Rafael.
O modelo de rastreamento utilizado na plataforma é o equatorial, pois permite o movimento circular automático da câmera fotográfica – por meio de um motor -, na mesma velocidade da rotação aparente do céu. Apesar dessa facilidade, ainda é necessário que seja feito o correto alinhamento com o polo celeste. Assim, a inovação do EasyTracker é o sistema eletrônico que consegue comunicar-se com o celular por meio de um aplicativo para Android.
Os sensores da plataforma se conectam com o smartphone por uma uma rede bluetooth – que permite que os dois aparelhos troquem informações entre si sem o uso de cabos. Após parear os dispositivos, o aplicativo determina automaticamente a latitude na qual o fotógrafo se encontra para começar o alinhamento. Ademais, tendo por base os dados da bússola eletrônica e dos sensores de posicionamento da plataforma, guia o usuário durante o processo de alinhamento. Eugênio produziu um tutorial, em formato de vídeo, para demonstrar as instruções de uso, que deve ser acessado antes de iniciar o rastreamento do céu:
Além disso, em comparação com equipamentos disponíveis no mercado – que custam de 650 a 2 mil reais –, o EasyTracker vai ser mais acessível: em torno de 400 reais. Eugênio destaca outro ponto importante sobre a plataforma: “o motor possui um erro periódico natural, ou seja, pode acontecer algumas vezes de girar mais rápido ou devagar, mas todos os equipamentos comerciais analisados também possuem esse problema. Nos testes, chegamos a resultados interessantes. Alguns dos produtos profissionais com custo mais elevado que o nosso apresentaram um erro médio maior em relação ao EasyTracker”.
Durante o desenvolvimento, Eugênio disponibilizou um formulário para analisar se a proposta da plataforma estava de acordo com as exigências de quem pratica ou se interessa por astrofotografia e também surgiu a ideia de convidar profissionais para testarem o equipamento. Neste contexto, Rafael e Eugênio comentaram que a intenção é disponibilizar o projeto do aplicativo gratuitamente após a defesa do TCC, que deve ocorrer em 2022.
Dicas para praticar a astrofotografia
Rafael e Eugênio deram algumas sugestões aos interessados em começar a praticar astrofotografia, confira:
1) Deve-se utilizar uma câmera digital com configurações manuais, além de um tripé para fixação, pois é necessário um longo tempo de exposição para o sensor do aparelho receber luminosidade suficiente. Além disso, é possível fazer astrofotografia com a câmera do smartphone. Rafael e Eugênio indicam este vídeo para quem quiser praticar com o dispositivo móvel:
Rafael explica com um exemplo, “Quando se fotografa esportes com a pessoa em movimento, o tempo de exposição para fazer a foto precisa ser curto, senão os braços e as pernas vão aparecer borrados. Mas essa imagem vai ser feita em um dia de sol, com bastante luz. No caso de fotografias à noite [astrofotografia], não se pode ter um período de exposição muito pequeno, porque a foto vai ficar escura”. Neste viés, precisa-se adaptar as configurações para o propósito da foto.
2) O céu precisa estar limpo durante a noite, não pode estar nublado. Ademais, para realizar as fotos com qualidade, é necessário se afastar dos centros urbanos, devido à ‘poluição luminosa’, como luzes de edifícios e das ruas. Quanto mais afastado desses locais, melhor para a atividade.
3) Cuidado no inverno!. Alguns problemas podem acontecer durante noites frias, como o sereno cair na lente do dispositivo fotográfico. Isso vai deixá-la úmida e, assim, a imagem capturada pode ficar embaçada.
4) A astrofotografia pode ser realizada sem equipamentos, como a plataforma equatorial, mas o tempo de exposição deverá ser menor, devido ao movimento aparente do céu.
Dessa maneira, algumas informações não serão capturadas na imagem. Nesse caso, pode-se utilizar técnicas avançadas de processamento, como o empilhamento de imagens: são capturadas várias fotografias e depois é realizada a edição delas, em softwares, combinando as suas melhores partes para gerar uma imagem final. Assim, esse resultado poderia ser obtido diretamente com o uso da plataforma.
6) A última dica é para quem tem interesse em usar os aparelhos e se aprofundar na fotografia do céu noturno. O vídeo indicado é para conhecer sobre cinco ferramentas de astrofotografia:
Expediente
Reportagem: Eduarda Paz, acadêmica de Jornalismo e voluntária
Créditos das imagens: Rafael Beltrame e Eugênio Pozzobon
Tratamento de imagem: Yasmin Faccin, acadêmica de Desenho Industrial e voluntário
Mídia Social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Caroline de Souza, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Alice Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Martina Pozzebon, acadêmica de Jornalismo e estagiária
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas