O marfim é um dos produtos mais exóticos do mundo. Extraído dos dentes de elefantes, o produto é objeto de desejo dos seres humanos há séculos. Dados publicados pelo jornal sul africano African Independent estimam que nos dias de hoje, no mercado negro, a tonelada de marfim seja comercializada por cerca de 2.100 dólares. Mesmo com seu comércio proibido desde 1989, mais de 30 mil elefantes são mortos, todos os anos, para que suas presas se transformem em produto de troca – e algumas estimativas apontam que entre 2010 e 2012, mais de 100 mil desses animais foram sacrificados em função da extração de marfim.
Mas o interesse pelas presas desses animais tem uma história longa. No Brasil, por exemplo, houve uma grande demanda por marfim durante o período colonial, em especial, na região de Minas Gerais, quando o ouro era abundante e a importação de produtos da África não se limitava ao escravo para a mão de obra no campo. Nesse período, o marfim podia custar aos mineiros o equivalente ao ouro que abastecia a Coroa Portuguesa e enriquecia os moradores das Gerais.
Desde o descobrimento do Brasil, no século XV, diversos produtos começaram a circular na colônia portuguesa, muitos destes oriundos da Europa, Ásia e Africa. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais traça um panorama do comércio de marfim vindo da África para atender a demanda do estado mineiro no século XVIII. A origem do produto, a manufatura em território nacional e as especificidades de um material tão nobre causam diversos questionamentos em um campo ainda pouco explorado na história brasileira.
Para entender o uso do marfim no Brasil Colônia, e mais especificamente no estado de Minas Gerais, os pesquisadores enfrentaram algumas dificuldades. Isso porque os documentos que registram a posse e a circulação do marfim na época são escassos. Os testamentos deixados por pessoas falecidas são documentos de suma importância. Outro recurso explorado pelos pesquisadores foram os documentos presentes em museus e igrejas do Estado de Minas Gerais.
No Brasil colonial, o marfim foi empregado em arte sacra, na produção de santos, santas, crucifixos e cortadores de hóstias; utensílios para repartições administrativas, como sinete, matriz sigilográfica para selo-tinta; utensílios domésticos de luxo como colheres, cabos de faca e de revólver, bastões e penas; utensílios para boticários como almofarizes e agulhas; e também joias e pentes. Em 1987, o Museu de Arte-Sacra da Bahia, localizado em Salvador, publicou um catálogo a partir de uma mostra do próprio acervo. “Embora, seja atribuída origem asiática à maioria das peças, algumas diferem totalmente das normas da manufatura indiana, e podem ter sido fabricadas na Bahia ”, dizem os pesquisadores.
Reportagem: Eduardo Tesch e Kauê Flores
Infográfico: Juliana Krupahtz