Uma pesquisa realizada por estudantes da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) demonstra que a homofobia normalmente começa dentro da própria casa. Os dados apontam que 60% das pessoas entrevistadas conhecem alguém que foi expulso de casa por ser homossexual. A mesma pesquisa relata também que 55,5% das pessoas acolheriam uma pessoa homossexual em situação de abandono familiar. Os resultados da pesquisa foram o impulso que um grupo de jovens da UFPE precisava para colocar em prática uma ideia: uma plataforma para transformar essas duas realidades em ações afirmativas. O MonaMigs está disponível no Facebook e é inspirado em projeto de hospedagem solidária, o Couchsurfing, ou seja, hospedar-se gratuitamente nas casas de moradores locais, a prática de “surfar em sofás”, em tradução literal.
A Arco conversou com um dos desenvolvedores do MonaMigs, Wallace Soares. Conheça mais sobre o projeto com a gente:
Como e quando surgiu a ideia de criar o Mona Migs?
A ideia surgiu algumas semanas antes do evento “Startup Weekend” realizado na Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) há alguns meses. O evento tem como objetivo criar um MVP – Menor Produto Viável de uma Startup. O conceito [do aplicativo] surgiu quando um conhecido de um dos integrantes passou pela situação que a Mona Migs aborda: foi expulso de casa pelos pais por ser homossexual. Houve toda uma mobilização dos amigos para encontrar um lugar para ele, que felizmente conseguiu. Então na Startup Weekend nós pensamos: por que não criar um startup que conecte as pessoas que querem ajudar com as que precisam? Assim surgiu o Mona Migs, composto por quatro desenvolvedores, três designers e uma administradora, todos estudantes da UFPE.
Como a plataforma funciona?
Neste momento, ainda em fase de testes, funciona basicamente em dois modos: “Quero ajudar” e “Preciso de ajuda”. Mas, quando entrar em funcionamento definitivo, terá algumas funcionalidades extras, que ainda não podemos revelar. Atualmente, no site, por questões de segurança e legais, estamos realizando somente pré-cadastro. Se você quer acolher alguém é só preencher nosso formulário no site no campo “Quero ajudar” com os seguintes itens: nome, e-mail, CEP e tempo disponível para receber alguém, que assim que alguém pedir nossa ajuda entraremos em contato.
Se você precisa de ajuda, é só entrar em contato conosco através do campo “Preciso de ajuda”, responder aos itens: nome e depoimento, ou nos enviar uma mensagem. Até o momento, contamos com um total de 1049 pessoas cadastradas na plataforma, entre acolhedores e acolhidos.
Como a plataforma se mantém financeiramente?
A plataforma conta com apoio de algumas parcerias, Diretoria LGBT da UFPE e ONG Recife Livre, que busca fortalecer o combate ao preconceito na capital de Pernambuco, mas também continuamos em procura de outras novas parcerias.
Como está sendo a fase de testes? Tem previsão para funcionamento definitivo?
Estamos primeiramente modelando nosso site, medindo algumas estatísticas importantes para o desenvolvimento. No começo queríamos lançar somente para nosso estado, mas após ver a grande demanda do país, isso não seria mais possível, então resolvemos atender ao chamado de todos. As dificuldades estão sendo principalmente jurídicas, para garantir a ambas as partes os seus direitos e deveres, e também de segurança, queremos oferecer uma plataforma que seja segura para ambos os lados, e isso demanda muitos testes e tempo. A previsão que temos agora, de funcionamento definitivo, é final de agosto e começo de setembro.
Qual é a importância desse tipo de plataforma no Brasil contra a homofobia?
Nós achamos que na sociedade atual, não só brasileira, o grupo LGBT ainda está sofrendo muito com o preconceito, já tínhamos uma noção que acontecem casos desse tipo, como de abandono familiar. Mas após o lançamento do cadastro, os números infelizmente foram muito maiores, a repercussão foi enorme, recebemos diariamente mensagens de apoio e agradecimento pela iniciativa tomada. Está sendo incrível o feedback, no sentido do apoio, e um pouco triste no sentido da necessidade de uma plataforma como essa na sociedade.
Reportagem: Nathalie Martins
Fotografias: Facebook do Mona Migs