Se você frequenta a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), já deve ter reparado nas placas coloridas, uma ao lado da outra, que estão na Avenida Roraima, perto do arco de entrada. Instaladas em outubro de 2013, é provável que elas fiquem até 2023 naquele local, pois fazem parte de uma pesquisa a longo prazo do Grupo de Estudos e Pesquisa em Pavimentação e Segurança Viária (GEPPASV) da UFSM. O experimento serve para constatar o tempo que uma placa de sinalização de trânsito se mantém em boas condições na rodovia, mesmo depois de exposições ao sol, à chuva e a gases poluentes liberados pelos veículos.
Em obras! O fator da retrorrefletividade
Para entender como a placa de trânsito funciona é necessário levar em conta a sua característica de retrorrefletividade, ou seja, a capacidade que a placa tem de refletir a luz em várias direções, principalmente para os olhos dos usuários da rodovia. Há uma película, na placa, que é responsável por refletir essa luz. É por isso que, no período da noite, essa característica se destaca devido aos faróis dos veículos incidirem diretamente sobre a superfície da placa.
O projeto do GEPPASV visa avaliar essas películas para delimitar a quantidade de luz refletida para os olhos do usuário e o tempo que ela se mantém habilitada a isso. A partir disso, busca-se melhores condições para visualizar a sinalização de trânsito – o que pode evitar um número maior de acidentes e possíveis mortes.
Até agora, o grupo de pesquisa já fez algumas constatações: a influência do custo da película na sua qualidade, e as melhoras na capacidade das películas em refletirem luz quando realizada a limpeza da placa de trânsito.
Pare! e conheça os fatores levados em conta no Projeto
As cores, por natureza, refletem a luz com intensidades diferentes. Por exemplo, o branco reflete muito mais do que o azul. As cores que mais estão presentes nas placas de trânsito nas rodovias são amarelo, vermelho, verde e azul. Os pesquisadores e alunos envolvidos no projeto buscam, então, descobrir se a cor da película influencia na perda de retrorrefletividade. Foi verificado que o comportamento em questão de perda de eficiência é uniforme em relação a todas as cores de película analisadas.
Além disso, o projeto visa atestar se o desempenho de uma película a longo tempo está ligada ao seu custo. Dentro desses quatro anos de estudo, a retrorrefletividade continua dentro do limite de qualidade exigido para as placas na rodovia. Foram colocadas películas que variam de valor, mas que perdem o potencial de retrorrefletividade na mesma velocidade. O que acontece é que as películas com qualidade mais baixa, ou seja, mais baratas, têm sua vida útil mais curta.
Os órgãos que administram e gerenciam as rodovias e seus editais de manutenção não dão prioridade à limpeza das placas. Diante disso, o projeto se propôs a identificar uma relação entre a limpeza e a melhora na retrorrefletividade. Periodicamente, há uma manutenção, na qual as placas são limpas com sabão neutro e uma esponja não abrasiva. Para acompanhar o processo e fazer comparações, há placas que são limpas e outras não.
Por exemplo, uma película mais barata de cor branca perde 26% de qualidade sem a limpeza, sendo que quando ocorre a limpeza, somente 6% de qualidade é perdida. O mesmo processo ocorre em uma película branca de maior valor, que ao receber a manutenção perde 6% de qualidade, enquanto sem manutenção perde 17% de qualidade.
Um ano após o início do projeto, percebeu-se que a chuva poderia auxiliar na limpeza das placas, pois as avaliações feitas após períodos de chuva indicavam que as placas estavam mais limpas. Isso seria útil para o projeto, caso houvesse condições de aplicar um produto que evitasse a formação de gotículas de água, e a consequente aderência da sujeira; proporcionando assim, uma limpeza uniforme. Uma das perspectivas futuras é, portanto, pensar em um produto que possibilite uma placa auto limpante.
Siga em frente! Os próximos passos da pesquisa
Em Rio Grande e Pelotas, há um processo semelhante há três anos, em conjunto com a concessionária Ecosul, responsável por rodovias da região. Nesse projeto, há mais cores e mais películas sendo analisadas, como também a contagem de tráfego, pela proximidade de uma praça de pedágio. Já existe um Banco de Dados dessa área e de Santa Maria, mas as comparações e resultados ocorrerão somente após a finalização dos projetos. Para Deividi da Silva Pereira, professor do Departamento de Transportes do Centro de Tecnologia da UFSM e integrante do GEPPASV, para conclusões mais específicas, é necessário esperar mais alguns anos: “Nós só vamos ter um modelo de degradação quando essas placas chegarem ao fim de sua vida útil, pois esse modelo exige que saibamos a durabilidade das placas e quais são os aspectos que influenciam nessa questão”. Posteriormente, os resultados devem servir para conscientizar os órgãos e as agências responsáveis pelas rodovias pela determinação desses serviços.
Reportagem: Bibiana Pinheiro
Fotografia: Rafael Happke