O alimento orgânico é aquele produzido a partir de uma agricultura natural, sem agrotóxicos, pesticidas ou qualquer aditivo químico. Esse tipo de produção, ainda que cada vez mais demandada pelos consumidores, exige o comprometimento dos produtores com a qualidade no manejo do solo e no tratamento das plantas. Em reconhecimento a esse compromisso é que, no ano passado, a agrônoma brasileira Ana Maria Primavesi, de 92 anos, ganhou o “One World Award”, principal premiação da agricultura mundial.
Ana atua há 65 anos na área e luta pelo bem estar na natureza, principalmente pela saúde do solo. Ela é autora do livro Manejo Ecológico do Solo (Editora Nobel), seu trabalho de maior influência.
Ela conta que a planta, quando desenvolvida em um solo sadio, cresce forte e saudável, e que as pragas não a atacam. Para ela, existe todo um controle ecológico possível de ser feito sem a necessidade de venenos, afinal, durante milhares de anos só existiram produtos orgânicos. Foi o foco na produtividade que acelerou o uso de agentes químicos na produção de alimentos, de um curto período da nossa história de tempo para cá. As consequências para a saúde do solo e das pessoas, porém, já começaram a aparecer.
Há também a questão dos transgênicos, quando um alimento é geneticamente modificado. Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), os transgênicos são definidos como alimentos com alteração do código genético. Isso acontece quando são inseridos, em certo organismo, genes provenientes de outro. A semente transgênica fica protegida de certos tipos de agressores naturais, definidos pela empresa que faz a alteração genética, e que, por isso, tem os direitos de patente do produto. A patente garante que apenas aquela empresa poderá comercializar as sementes, de modo que o agricultor que as utilizar terá que pagar por elas. Para garantir seu rendimento, as empresas modificam as sementes para que elas sejam estéreis, ou seja, não poderão ser plantadas novamente.
O IDEC alerta, também, para os diversos danos que os alimentos transgênicos podem causar à saúde do consumidor: aumento de alergias, da resistência aos antibióticos, concentração de substâncias tóxicas no organismo e aumento da quantidade de resíduos de agrotóxicos no meio ambiente.
Ana Maria Primavesi destaca que é urgente que se volte a fazer uma agricultura o mais natural possível, para se reverter, aos poucos, os danos causados ao solo e à saúde do consumir, porque o alimento produzido com agrotóxicos não tem a qualidade nutricional e não corresponde às carências biológicas das pessoas. “O valor nutritivo que um alimento tinha antes [como orgânico] não se tem mais”, explica Ana.
Um Brasil de agrotóxicos
Os agrotóxicos foram introduzidos no Brasil a partir da década de 1950, para controle de pragas e doenças das plantas na agricultura. Para promover a “Revolução Verde”, que tinha como objetivo acabar com a fome no planeta no período após a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro impôs que os agricultores só pudessem comprar sementes se comprassem, também, o adubo químico e o agrotóxico.
Entidades ligadas à Agricultura defendem que essa política resultou em um grande desequilíbrio ambiental: não extinguiu a fome no mundo e ainda afetou a saúde dos seres humanos – as doenças do mundo moderno, em especial o câncer, estão diretamente ligadas com o consumo dos agrotóxicos, segundo a Organização Mundial da Saúde. A OMS realiza uma campanha permanente contra o uso de agrotóxicos na produção de alimentos, que já completou cinco anos.
Desde 2008, o Brasil está em primeiro lugar na lista dos países que consomem agrotóxico no mundo. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um terço dos vegetais consumidos pelos brasileiros contêm níveis inaceitáveis de agrotóxicos. Entre os alimentos mais contaminados estão o pimentão, o morango, o pepino, a cenoura, o alface e o abacaxi.
A higienização do alimento é importante, embora não elimine os pesticidas: a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) afirma que, como eles são colocados na planta ainda durante o crescimento, não se concentram só na superfície do fruto. Para fugir dos tóxicos, é cada vez mais comum que as pessoas busquem feiras alternativas de hortifrúti nas suas cidades, em que se pode comprar direto do produtor. As hortas comunitárias e hortas caseiras também são alternativas interessantes.
Reportagem: Luiza Tavares e Jéssica Loss Barrios
Fotografia: Pixabay
Gráficos: Nicolle Sartor