Um ambicioso projeto, apresentado ao reitor Paulo Burmann no dia 27 de janeiro deste ano, elevou ao nível profissional a equipe de futsal da Universidade Federal de Santa Maria. O projeto é encabeçado pelo professor Antônio Schmitz Filho, e abrigará uma equipe principal, uma equipe de base e uma comissão técnica completa. O grande objetivo é reviver glórias esportivas distantes, da década de 1980, quando alunos da Universidade, através da Associação Desportiva Universitária (ADUFSM) formaram a base da Seleção Brasileira de Handebol.
Montando o time
Há dez anos, um grupo de ex-alunos da Universidade calçava pela primeira vez os tênis e dava início ao que hoje é a base do time treinado por Bráulio Machado, presente em diferentes momentos da equipe, como jogador e técnico, em sua trajetória. A base da comissão técnica do projeto, lá em 2005, formou o time com jogadores e alunos da UFSM, para a disputa dos Jogos Universitários de Santa Maria daquele ano. Após a criação do Núcleo Universitário de Esporte, em 2006, a partir do Programa do Governo Federal de Incentivo à Prática Esportiva nas instituições federais de ensino, o recém-nomeado Futsal UFSM, composto majoritariamente por alunos da Educação Física, passou a disputar torneios citadinos, estaduais e também continentais de nível amador e universitário.
Em 2007 e 2008, por exemplo, a equipe foi bicampeã do Torneio Universitário do Mercosul, a Copa Unisinos; depois, conquistou por duas vezes o título dos Jogos Universitários Gaúchos. No ano de 2015, participou de competições estaduais, porém sem um grande triunfo para o time santa-mariense.
No seu aniversário de 10 anos, a disputa da Série Bronze de futsal do Rio Grande do Sul (equivalente à terceira divisão) e a profissionalização do time se tornaram realidade. A Série Bronze do Campeonato Gaucho 2016 conta com 25 equipes, divididas em três grupos regionalizados – para atenuar os custos. O time da UFSM está alocado na Chave 1 da competição, ao lado de sete adversários.
Contexto da Bronze
Para o jornalista Sandro Gonçalves, especialista no futsal gaúcho, a competição e a modalidade como um todo ainda são muito amadoras. “No futsal gaúcho, em geral, não existe salário mirabolante. São poucas as equipes que realmente investem em jogador”. Apesar de a competição ser considerada profissional, a realidade mostra que o amadorismo faz parte do contexto especial da Bronze. Os treinamentos, base fundamental para qualquer atleta de alto rendimento, são prejudicados pela falta de exclusividade profissional dos atletas.
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“Os jogadores, em sua maioria, trabalham durante o dia e treinam em algumas noites na semana. Todos têm seu trabalho, treinam à noite para jogar no fim de semana. Eles jogam por amor à camisa” relata Sandro Gonçalves. |
Na divisão logo acima, a Série Prata, dentre os atletas mais rodados, que já atuaram em divisões superiores ou fora do estado, a renda pode chegar a R$ 3.000,00 por mês. No entanto, estes são minoria dentre os demais. Como na Bronze, é comum que os atletas exerçam outra atividade profissional, visto que somente uma ajuda de custos é disponibilizada pelas equipes, como verba para cobrir os gastos com o deslocamento para jogadores vindos de cidades vizinhas.
A Série Ouro, maior nível do futsal estadual, conta com equipes profissionais – os jogadores possuem uma rotina totalmente voltada para o alto rendimento: controle alimentar, acompanhamento psicológico, aprimoramento físico, sessões de treino diárias e em dois turnos. Na última convocação para a Seleção Brasileira, o pivô Pito, da Associação Carlos Barbosa Futsal (ACBF), integrou a lista de convocados para as eliminatórias da Copa do Mundo da modalidade. ACBF, ao lado do Atlântico e do antigo John Deere, de Horizontina, são os times do Rio Grande do Sul que têm tradição em exportar jogadores para o centro do país. A mesma convocação da Seleção também conta com Daniel e com o capitão Rodrigo- ambos atletas tiveram na ACBF sua projeção ao futsal nacional.
Peculiaridade local
Ao observarmos o escopo dos jogadores de futsal no Rio Grande do Sul, nota-se que há uma divisão relevante: a fatia dos atletas que competem em alto nível e têm a exclusiva responsabilidade profissional com o futsal; outra intermediária, em que é necessário que se viva do esporte compartilhado a um emprego; diferem dos atletas da Universidade, que terão que dividir sua rotina no futsal com os estudos.
No time da UFSM, composto por 27 atletas, três são formados e atuam como professores; outros cinco trabalham e estudam. Todos os demais são universitários. O técnico Bráulio Machado tem nas mãos a grande oportunidade de desenvolver uma equipe sem grandes limitações financeiras, porém com média de idade de aproximadamente 22 anos e formada, em sua maioria, por acadêmicos da UFSM. Outro desafio é de adequar a rotina de treinos diários da equipe às dos atletas e seus compromissos acadêmicos.
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“Temos atletas de diversos cursos, alguns com uma rotina um mais pesada de acordo com o período atual de estudo. Alguns atletas não poderão acompanhar todos os compromissos da equipe” diz o técnico Bráulio Machado. |
A inexperiência do grupo blinda a equipe da pressão por resultados, mas pesa ao imaginarmos um cenário de jogo na Série Bronze, onde atletas mais experientes tendem a sentir menos o estresse psicológico de uma partida. No grupo do Futsal UFSM, são 10 estreantes em competição profissional. “Teremos que trabalhar bastante o psicológico para enfrentar, com equilíbrio, as outras equipes mais experientes. O União Independente (rival municipal) joga há dois anos e ainda não conseguiu passar da primeira fase. Jogar fora de casa, com torcida próxima da quadra e lotando os espaços é um tipo de vivência que alguns não têm”, pontua Bráulio.
Para o professor Antônio, a ideia de institucionalizar a equipe é tornar o projeto autossustentável. “Queremos trabalhar com o esporte como fenômeno importante para a transformação do espaço universitário e também do contexto regional. Atualmente o esporte unievrsitário encontra-se em um ponto marginal. Hoje, com o projeto do Futsal UFSM, o esporte universitário ganha nova configuração, no aspecto multiprofissional posto em prática desde o início”, relata.
A comissão técnica é liderada por Antônio, no cargo de coordenador, ao lado do técnico Bráulio Machado – também professor de Educação Física-, além de auxiliar técnico, nutricionista, médico, analista de desempenho, preparadores físico e de goleiros. No extra-campo, um administrador, assessor de imprensa e psicólogo. Todos os cargos são remunerados e os jogadores receberão uma bolsa no valor de R$400,00 mensais enquanto participarem do projeto, mais do que muitos atletas da Série Bronze.
Junto à equipe principal, um time de jogadores sub-20 será formado para abastecer futuramente o outro, de modo que o projeto, se levado a sério e mantido com empenho, demonstra um potencial para subir até o primeiro escalão do futsal gaúcho, já que nem todos os times dos escalões menores possuem tal apoio financeiro, de infraestrutura e de comissão especializada.
Reportagem: Julio Porto e Lucas Delgado
Infográficos: Nicolle Sartor