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Cenário promissor contra o Alzheimer

Novo estudo busca entender os efeitos positivos que as antocianinas podem gerar em pacientes com Alzheimer



A doença de Alzheimer é comumente ligada ao envelhecimento, por ocorrer, em sua maioria, em pessoas idosas. No entanto, sua causa específica ainda é desconhecida. Uma das principais características da doença é a redução do número de neurônios e das ligações existentes entre eles, as sinapses. O Alzheimer é caracterizado pela progressiva deterioração de células cerebrais, o que afeta o raciocínio e resulta na dificuldade de comunicação, na perda de memória, de linguagem, e de outras habilidades cognitivas.

Os sintomas apresentados se intensificam ao longo da doença. Em um primeiro momento, algumas das alterações estão ligadas à perda de memória recente, desorientação, sinais de depressão e agressividade. Com o avanço do Alzheimer, são comuns dificuldades, mais evidentes nesse segundo momento, em atividades do cotidiano, esquecimento de fatos mais importantes e de nomes de pessoas próximas, o que leva à dependência acentuada de outras pessoas. No estágio mais avançado é possível perceber grande prejuízo da memória, inclusive com dificuldade de recuperar informações antigas e de compreender o que acontece à volta.

Segundo números divulgados pela Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença de Alzheimer. No Brasil, o número gira em torno de 1,2 milhão de casos, embora a maior parte deles permaneça sem diagnóstico.

ANTOCIANINAS: MUITO ALÉM DAS CORES 

Até o momento, não existe cura para a doença de Alzheimer. Mas, aos poucos, as pesquisas relacionadas à área têm
permitido que os seus efeitos sejam minimizados e que os pacientes tenham maior qualidade de vida, apesar de todas as alterações e dificuldades às quais estão expostos. É o caso da pesquisa intitulada Estudo da interação do sistema purinérgico, colinérgico e funções cognitivas na demência esporádica do tipo Alzheimer: os efeitos das antocianinas, realizada por Jessié Martins Gutierres, pós-doutorando no Programa de Bioquímica Toxicológica na UFSM.

Ao trabalhar com compostos naturais, um deles, em específico, despertou a atenção do pesquisador: as antocianinas – pigmentos naturais responsáveis por uma grande variedade de cores presentes, por exemplo, em alimentos que consumimos no dia a dia, como a uva, a framboesa, o mirtilo, o açaí, o repolho roxo e a beterraba. A coloração conferida pelas antocianinas vai desde o azul até o vermelho. Atualmente, esses compostos são utilizados principalmente na indústria alimentícia, como corantes naturais.

Quando se trata de saúde, as antocianinas têm sido amplamente estudadas sob diversos aspectos. Jessié explica que “já havia trabalhos mostrando que as antocianinas são antioxidantes, ou seja, capazes de eliminar os radicais livres, que atacam as células”. Existem ainda pesquisas que atribuem a elas a capacidade de dilatar os vasos sanguíneos e, com isso, evitar problemas cardiovasculares.

A partir daquilo que já era conhecido sobre o composto, o pesquisador passou a investigar qual efeito ele poderia ter no sistema nervoso central, sobretudo em pacientes com a doença de Alzheimer. E os resultados têm sido promissores.

ANTOCIANINAS E O SISTEMA NERVOSO 

O primeiro passo foi verificar a ligação das antocianinas com a memória. Jessié esclarece que, para isso, “foi feita a aplicação, em ratos, de uma droga chamada escopolamina, proveniente de uma planta alucinógena que, ao mesmo tempo, causa perda de memória durante o período de seis horas”. Antes de receber a droga, os animais deveriam realizar uma tarefa em que estavam expostos a uma situação simulada de perigo. Após terem a escopolamina injetada e serem colocados na mesma circunstância, eles não foram capazes de se lembrar da vivência anterior e, por isso, voltaram ao local de risco. Outro grupo de ratos, no entanto, recebeu, durante os sete dias anteriores aos testes, doses de antocianina e então, posteriormente, teve contato com a droga. Diferentemente dos primeiros, esses ratos lembraram-se da situação de risco e mantiveram-se longe dela.

A relação positiva encontrada entre as antocianinas e o sistema nervoso, mais especificamente no que diz respeito à memória, permitiu que o estudo avançasse. Na segunda etapa, o objetivo foi entender como essa ligação funciona quando se trata propriamente do Alzheimer. Jessié conta que, para isso, foi provocado um modelo da fase inicial da doença em ratos, que cria uma disfunção no metabolismo. Segundo o pesquisador, “os resultados encontrados a partir desses testes mostram que os animais que receberam antocianinas a curto e longo prazo tiveram não só melhor desempenho da memória, como também diminuíram sua ansiedade, que é um dos sintomas da doença”.

Em outra tarefa comportamental, ratos foram colocados, um de cada vez, dentro de uma caixa que continha dois objetos iguais. Após algum tempo, um dos objetos era trocado por algo diferente. Os animais que haviam recebido o modelo de Alzheimer e não foram tratados com antocianinas não foram capazes de perceber a diferença e não deram maior atenção ao novo item ou até mesmo o ignoraram. Os ratos tratados com antocianinas, pelo contrário, notaram a mudança e passaram mais tempo explorando a novidade.

Outra importante descoberta foi o efeito do composto natural sobre os neurônios, em especial os do tipo colinérgico, que são os primeiros degenerados pela doença de Alzheimer. Uma enzima, a acetilcolinesterase, está muito ativada durante a doença, tendo seu efeito de quebra dos neurotransmissores potencializado. Esse processo gera uma série de distúrbios, dentre os quais está a perda de memória. Jessié explica que os animais que ingeriram antocianina “tiveram essa atividade da enzima reduzida a aproximadamente 45%, mostrando que ela causou uma alteração benéfica, capaz de melhorar a memória desses animais”.

Embora a pesquisa seja ainda de base, as relações encontradas entre as antocianinas e o sistema nervoso mostram um cenário promissor, em que ainda há muito a ser explorado. Para uma doença como o Alzheimer, ainda cercada por tantas dúvidas, os resultados podem significar um grande avanço e encorajar mais pesquisadores a estudarem o tema.

Repórter: Daniela Pin Menegazzo

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