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A arquitetura da bússola

Por Odemir Tex Jr.



S.

aquele homem era a hipoteca

da casa que o habitou

por mais de duas décadas.

os papéis no chão

eram fichas dispersas,

folhas no outono.

o silêncio era sua canção de gesta.

os ventos gélidos eram sua bússola:

um minuano tenor, abafando

os gritos verdes do abandono.

SO.

ao amanhecer lia o jornal,

as propagandas de cigarro

e acendia os olhos.

o obituário era o calendário

que o mantinha vivo.

SE.

esfacelada nas sombras do dia,

a noite, como côdea do pão nosso:

suor que não sabia de sangue.

aquele homem era sua voz:

estátua de solidão no deserto.

O.

na rua em que o habitou

os endereços eram apontamentos

com os dedos do possível:

seus demônios e seu rodamoinho.

NO.

em seu silêncio as horas

teciam um breve cachecol

(as agulhas eram

de aço e esperança).

que finitasse a arquitetura

de si, os gestos imprecisos!

L.

o silêncio era seu contorno possível,

o perdão para seus gestos,

um traço profundo

que empunhava seu corte

à simetria despida de suas rugas.

NE.

aquele homem era a dívida de si,

um labirinto não planejado;

sua bússola e sua escolha.

∞ N ∞

*Odemir Tex Jr. é aluno do curso de Letras–Português da UFSM e já ganhou diversos prêmios de literatura no Brasil. “A Arquitetura da Bússola” ficou em 2º lugar no XXIX Concurso Literário Felippe D’Oliveira,  de Santa Maria–RS, e faz parte do livro Esta insólita província, ainda não publicado.
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