Nas Paraolimpíadas de Londres do ano passado, 18 das 43 medalhas conquistadas pelo Brasil foram nas pistas de atletismo. Dessas, 11 vieram dos pés, da força e da velocidade de atletas deficientes visuais, que são acompanhados por um atleta-guia.
Unido ao atleta por uma pequena corda, o guia tem a função de direcioná-lo, sem o puxar, dentro da pista, rumo à linha de chegada. Mas e se esses atletas deficientes visuais pudessem participar sozinhos de competições como as Paralimpíadas?
Foi pensando nessa questão que Henrique dos Santos Felipetto, aluno do curso de Tecnologia em Geoprocessamento do Colégio Politécnico, desenvolveu um projeto que consiste em mapear uma pista e, através de um sistema de GPS, orientar o atleta deficiente visual via rádio, dispensando assim a companhia do atleta-guia na pista.
Segundo Henrique, muitas vezes o atleta e o guia se conhecem apenas na hora da competição, o que pode
comprometer o desempenho do atleta. A inspiração do invento surgiu do projeto de pós-doutorado do professor do curso de Tecnologia em Geoprocessamento da UFSM Adão Robson Elias, que orientou Henrique no desenvolvimento do sistema.
O projeto foi desenvolvido no ano passado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a participação voluntária do atleta velocista Tiago Lima de Souza. Após fazer um levantamento das tecnologias compatíveis com o projeto, adaptou-se o sistema AVL, utilizado para o rastreio de veículos via GPS, para o monitoramento do atleta. Depois disso, Henrique elaborou dois mapas.
O primeiro trazia todos os detalhes da pista digitalizados e foi salvo junto a um servidor, o que possibilitou seu acesso via internet em qualquer lugar do mundo. Já o segundo, chamado mapa de risco, apresentava os limites internos e externos da pista. Através do mapa de risco, o monitor-orientador pode saber se o atleta está saindo da pista ou invadindo a raia ao lado, e orientá-lo a retornar na direção correta.
Assim, o atleta percorre o trajeto portando uma estação móvel ? um colete com um rádio VHF, fones de ouvido, e os componentes do sistema AVL ? que recebe os dados de posicionamento na pista através dos satélites GPS.
Em seguida, a estação móvel repassa ps dadps ára uma antena GSM, de onde são transmitidos ao servidor via internet. O monitor-orientador, responsável pela estação base, acessa esses dados, visualiza as informações em tempo real e orienta o atleta na pista via rádio.
Com o projeto denominado Sistema de Auxílio à Navegação com Monitoramento e Orientação Remota Adaptado para o Treinamento de Atletas Cegos em Pista de Atletismo, Henrique conquistou o segundo lugar no 26º Prêmio Jovem Cientista na categoria Estudante do Ensino Superior. A premiação ocorreu em dezembro de 2012, no Palácio do Planalto, em Brasília.
Sobre a importância da premiação, Henrique diz ser uma experiência única. “Jamais imaginei um reconhecimento nacional para as nossas pesquisas”, conta o estudante. Além do mestrado, que pretende começar assim que terminar o curso, em agosto deste ano, Henrique pretende patentear o projeto. “Estamos trabalhando com a ideia de patentear o invento e ‘provocar’ a indústria e o Comitê Olímpico para sua fabricação e aperfeiçoamento em série”, planeja Henrique.
Repórter: Natascha Carvalho
Fotografia: Arquivo Pessoal/Henrique Felipetto
Ilustração: Projetar