Desde o primeiro semestre de 2021, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com a Universidade Normal de Hebei (HNU), oferta cursos de chinês à comunidade acadêmica. São três modalidades diferentes: língua, medicina tradicional e cultura chinesa. Na modalidade cultural, é possível aprender sobre história, geografia, costumes, crenças e tradições do povo chinês.
Para Breadelyn Corrêa Pires, graduando de História e aluno do curso de cultura chinesa, essa foi uma oportunidade de aprofundar os conhecimentos sobre o Oriente. Segundo ele, as informações trazidas pela mídia não são suficientes para conhecer e compreender o povo chinês. “A gente aprende muito sobre culturas ocidentais, mas pouco sobre o extremo oriente, temos estereótipos impostos pela mídia. No curso, pude descobrir muitas curiosidades sobre a cultura”, completa. As aulas foram ministradas em português pela professora Ana Qiao Jianzhen em formato online, com carga horária de 30 horas.
Rosana Niederauer Marques, docente e coordenadora do curso de Fisioterapia da UFSM, fez os três cursos: de cultura chinesa, de língua e de medicina tradicional. Ela buscou entender antigas e novas técnicas utilizadas pelos chineses. Dentre as descobertas, o que mais chamou atenção foi o aspecto humanista e o respeito entre as gerações pregado em todas as classes sociais.
A responsável pelo Núcleo de Programas Multilaterais da Secretaria de Apoio Internacional (SAI), Gracielli Mainardi, também quis aprender: “É de perder o fôlego, é tanta história, tanta informação, é o respeito pelo ser humano”. Para ela, o fato mais curioso foi como o taoísmo – religião chinesa que prega a vida em harmonia e o respeito pelo próximo -, é presente na vida dos chineses. “É encantador quando a gente começa a entender que um país com raízes tão profundas se torna uma potência mundial referência no mundo”, expõe Gracieli. Por outro lado, ela relata que a relação entre passado e presente também chama a atenção: “É um país que está com os dois pés no século 21, mas não para de olhar para o passado, nas suas crenças”.
Durante a conversa entre a Revista Arco e os alunos dos cursos e a representante da SAI, surgiram informações curiosas sobre a China. Confira a seguir:
1 - Biodiversidade animal: entre as mais ricas do mundo
No curso de cultura chinesa, os alunos aprenderam que alguns animais raros, como o panda gigante, o boto branco, o boto sem barbatanas, o veado de lábio branco, o jacaré chinês e o esturjão branco são encontrados exclusivamente na China. Outro aprendizado foi de que existem mais de duas mil espécies de vertebrados terrestres no país. Além disso, o cuidado e a atenção com os animais faz parte dos costumes chineses. Por dispor de grandes porções territoriais, com diversos tipos de clima, o país também é rico em variedade de plantas. Espécies antigas como Metasequoia e Ginkgo constituem cerca de 62% do total de gêneros presentes no mundo. Essas plantas são consideradas “fósseis vivos” na China, enquanto estão extintas em outras partes do mundo.
2- As quatro cozinhas tradicionais do país
A culinária da China é classificada em quatro grandes grupos, cada um com características regionais: Cozinha Sichuan (Chuan), Shandong Cuisine (Lu), Guangdong Cuisine (Yue) e Jiangsu Cuisine (Su).
Os pratos ao estilo Sichuan são conhecidos principalmente pelos temperos picantes. Opções populares são carne de porco desfiada ao molho de alho, frango Kung Pao, peixe cozido na água, carne bovina fatiada, tripa de carne ao molho Chili, frango frito picante, tofu e carne de porco cozida.
A cozinha de Guangdong, também conhecida como cantonesa, é o principal estilo de comida chinesa. Atualmente, é servida em muitos restaurantes de lugares como Guangzhou, Shenzhen e Hong Kong. A cozinha cantonesa inclui frutos do mar e sopas. Marinadas e caldos são populares, assim como molhos hoisin, ostra e ameixas. As receitas são ajustadas com base na estação atual: os sabores são mais leves no verão e no outono, e mais fortes no inverno e na primavera.
Na cozinha de Shandong, os frutos do mar se constituem como o principal alimento utilizado. O sabor original é preservado por meio de ingredientes simples, como o vinagre e o sal. A culinária de Jiangsu é menos popular em relação às anteriores: tem um estilo gourmet e é apresentada de forma colorida e artística. A comida desse estilo é conhecida por ser macia, mas não a ponto de se desfazer: a carne fica macia, mas não pode ser separada do osso.
3- Festival da Primavera: cultura milenar
O Festival da Primavera, também conhecido como o Ano Novo Chinês, é o mais importante do país: tem uma história de mais de quatro mil anos. É a ocasião em que as pessoas pedem por uma boa colheita e comemoram a passagem de um novo tempo. O festival é comemorado anualmente desde a noite do último dia do 12º mês lunar até o Festival Lanterna, no 15º dia do novo ano lunar.
4- Comidas de Festival
Durante o Festival da Primavera e outras festas tradicionais da China, são servidas iguarias, como o Jiăozi ou bolinhos chineses, feitos de trigo cozido. No norte da China, é comum comer jiaozi no jantar de reencontro, no Ano Novo chinês. Entretanto, no centro do país, os costumes regionais relativos a essa receita variam muito. Em alguns lugares, o jiaozi é consumido na noite de Ano Novo e, em outros locais, no primeiro dia do primeiro mês lunar.
5- A medicina passa de geração para geração
As práticas medicinais, que incluem a chamada Medicina Tradicional Chinesa, foram desenvolvidas há milhares de anos. A base é a teoria dos cinco elementos e o sistema de circulação da energia pelos meridianos do corpo humano. Os ensinamentos foram passados ao longo das gerações, disseminando o conhecimento que é utilizado em todo o país.
Em 2022, novas turmas de cursos de chinês foram abertas, desta vez incluindo apenas a modalidade de línguas – com os módulos I, II e III. No primeiro semestre a cultura chinesa será trabalhada de uma forma diferente: por meio de palestras mensais, de forma online, gratuitas e abertas ao público. O calendário com datas e temáticas ainda vai ser divulgado pelo SAI.
Tanto cursos como palestras são abertos à comunidade da UFSM e demais Universidades Federais do Rio Grande do Sul. Neste ano, a mudança é que os alunos dos cursos de Língua Chinesa devem se comprometer a realizar o Exame de Proficiência em Chinês HSK/HSKK, que é o exame oficial da língua chinesa válido em todos os países.
Para o professor Júlio Rodriguez, Assessor Adjunto do Reitor na SAI, todo conhecimento acerca da língua e da cultura chinesa é válido: “Todo o conhecimento sobre a China é essencial para quem quer expandir seus horizontes, aprender sobre técnicas e costumes antigos que são preservados e podem servir muito no presente e futuro. (…) Na busca por um emprego, um preparo profissional, o conhecimento em cultura chinesa é e será um diferencial.”