A batata-doce é um alimento de grande valor nutricional e é opção para pessoas que procuram um estilo de consumo alimentar mais saudável. Na Polifeira do Agricultor da Universidade Federal de Santa Maria, as variedades de batata-doce mais procuradas são as do tipo biofortificada.
Sabrina Dick, estudante de Agronomia e bolsista do projeto, explica sobre a biofortificação: “Ela surgiu como meio de oferecer nutrição às populações mais pobres, que sofrem da fome oculta – estão saciados, porém, não nutridos”. A estudante conta que esse mercado está em expansão e que, além da batata-doce, existem outros alimentos bioforticados, a exemplo da mandioca.
De acordo com Gustavo Pinto da Silva, professor no Colégio Politécnico e coordenador da Polifeira da UFSM, foi feita uma compra coletiva de quatro espécies de batata-doce biofortificada. A ação, que beneficiou os produtores rurais que integram o projeto, contou com mil mudas adquiridas pelo conjunto dos seis feirantes. “O objetivo da ação foi aumentar a disponibilidade e diversidade de variedades de batata-doce na Polifeira do Agricultor. O resultado são as batatas-doces que hoje são comercializadas feira a feira”, ressalta Gustavo.
Um dos produtores rurais que realizou a compra foi Geraldo André Raddatz, 59 anos, que trabalha com a terra desde criança. Ele conta que, quando começou no ramo da agricultura, o foco era a produção de fumo. “Hoje, a gente tá lidando com hortifruti e o objetivo do sítio é focar em produtos que, além do produto normal, ofereçam um outro benefício, de nutrientes ou medicinais”.
Geraldo conversou com a Revista Arco entre um atendimento e outro. Para os clientes, oferecia os produtos da época, orgânicos, e falava dos benefícios de cada um. Ao oferecer a batata-doce, ele dava um destaque especial para a do tipo biofortificada, e explicava as diferenças e as vantagens de adquiri-la. O projeto da Polifeira que possibilitou a compra de mudas trouxe, para os feirantes, quatro variedades: BRS Amélia, BRS Cuia, BRS Rubissol e BRS Beauregard. Geraldo comenta que cultiva as quatro, mas a que mais vende é a variedade Beauregard. “Eu plantei seiscentas mudas e já vendi tudo”.
O projeto de biofortificação de alimentos começou nos Estados Unidos e foi trazido ao Brasil pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, a Embrapa. Além da batata-doce, a empresa já desenvolveu a biofortificação de mandioca, milho e feijão. As mudas são certificadas pela entidade, e existem viveiros que são autorizados a produzir e a fazer a sua comercialização. No Rio Grande do Sul, há dois deles: um localizado em Pelotas, e o outro, em Santa Cruz do Sul. Em Santa Maria, é possível encontrar as batatas-doces do tipo biofortificada na Polifeira do Agricultor da UFSM, que acontece todas as terças, das 7h às 12h30, na Avenida Roraima, próximo à Rótula da UFSM.
A Revista Arco preparou uma lista pra você conhecer mais sobre os quatro tipos de batatas-doces que você encontra lá:
1. BRS BEAUREGARD
Sua principal característica é a cor alaranjada quando partida. A coloração diferente, que chama a atenção de quem vê, é resultado da elevada quantidade de betacaroteno*, que se transforma em vitamina A no organismo. Ela apresenta dez vezes mais carotenoides* do que outros tipos de batata-doce. O rendimento varia entre 23 a 29 toneladas por hectare, o que equivale ao peso de um caminhão truque. Quanto ao plantio, pode ser realizado quase em qualquer época do ano. A exceção são os locais e períodos em que a temperatura mínima é inferior a 15º C (ou seja, ela não pode ser plantada no inverno gaúcho).
2. BRS RUBISSOL
Esse tipo de batata-doce biofortificada se destaca pela aparência bonita e pelo tamanho uniforme do ‘fruto’. A Rubissol foi selecionada a partir de plantas encontradas na cidade de Pelotas, com ensaios de campo e de laboratório feitos na Embrapa a partir de 1994.
3. BRS AMÉLIA
O destaque desse tipo de batata-doce está na fonte de carotenoides*, o que significa que é um alimento pró-vitamina A, muitas vezes em falta nas crianças. É muito aceita pelo consumidor devido ao sabor e à cor, com interior alaranjado. Quando cozida ou assada, sua textura é melada, ou seja, mais macia, com sensação de ‘derreter’ na boca.
4. BRS CUIA
Este tipo de batata-doce também foi desenvolvida a partir de plantas encontradas na região de Pelotas. Seu destaque está na cor creme – tanto da casca quanto do interior, e na textura mais seca. As batatas têm uniformidade, e o formato é redondo e mais alongado, ou seja, as batatas são mais compridas, podendo ter de 15cm a 20cm, e lembram o formato de uma mandioca. O período de cultivo pode variar entre quatro a quatro meses e meio.
Como consumir?
A batata-doce pode ser consumida de diversas formas. As mais tradicionais são a cozida, a assada ao forno e a caramelizada no forno. Mas existem diversas receitas que utilizam o alimento como ingrediente principal, como pão, bolo, sopa cremosa, panqueca, nhoque, brownie, purê e chips de batata-doce (este último, inclusive, também é vendido na Polifeira).
Glossário:
Carotenoides: substâncias que têm ação antioxidante, atuam na fotoproteção – as substâncias criam uma camada natural na pele, para que ela esteja mais protegida da exposição ao sol – e ajudam na potencialização do sistema imunológico. São pigmentos naturais presentes em folhas, raízes e alimentos marcados pelas cores vermelho, laranja e amarelo. Encontrados em alimentos como cenoura, abóbora, tomate, batata-doce, entre outros.
Betacaroteno: é um tipo de carotenoide com propriedades antioxidantes, evita danos ao DNA e reduz o risco de alguns tipos de câncer, como o de pele. Também possui propriedade fotoprotetora. É uma substância que confere a cor vermelha a frutas e vegetais. Uma parte dele se transforma em retinol no organismo, vitamina muito importante para seu bom funcionamento. Além da cenoura e da abóbora, é possível encontrar betacaroteno no melão cantalupo, no buriti e em legumes como a couve e o nabo verde.
Expediente
Reportagem: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Ilustrações: Renata Costa, acadêmica de Produção Editorial e bolsista
Mídia Social: Eloíze Moraes e Martina Pozzebon, estagiárias de Jornalismo
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas