Existem várias modalidades de esportes adaptados para pessoas com deficiência, que vão desde o futebol, o voleibol e basquete, até diversos tipos de atletismo e categorias como bocha, esgrima e hipismo. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) lista 24 modalidades de esportes adaptados. Eles ocupam espaços importantes em competições nacionais e internacionais, a exemplo da 24ª Surdolimpíadas, que aconteceu em maio deste ano em Caxias do Sul, e os Jogos Paralímpicos de Tóquio, que ocorreram em 2020.
Em setembro, é a vez da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sediar uma competição do tipo. Criado em 2018, o Festival Paralímpico é realizado de modo descentralizado, ocupando estruturas existentes em várias cidades brasileiras. O objetivo é proporcionar a experiência das modalidades paralímpicas para crianças com deficiência e difundir o movimento paralímpico no país. Crianças sem deficiência também podem participar: 20% das vagas são destinadas a esse público. A primeira edição abrangeu 48 cidades e teve participação de mais de 7 mil crianças. Já em 2019, foram 70 cidades e mais de 10 mil crianças. Em 2020, o evento não ocorreu por conta da pandemia. Em 2021, foram 8 mil crianças e 70 cidades de variados locais do Brasil. Já em 2022, são 105 sedes selecionadas. Além de Santa Maria, outras cinco cidades gaúchas recebem o festival: Alvorada, Canoas, Gravataí, Santo Ângelo e Porto Alegre (com dois locais). O Festival acontece em setembro por conta de duas datas comemorativas: o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21) e o Dia Nacional do Atleta Paralímpico (22).
O órgão responsável pela realização do Festival na UFSM é o Núcleo de Apoio e Estudos da Educação Física Adaptada (NAEEFA), coordenado pela professora Luciana Palma. Para a docente, o momento é de importância e relevância ímpar. “Sediar este evento de magnitude nacional é receber o reconhecimento de um longo trabalho desenvolvido tanto na extensão – que é o principal objetivo do núcleo, quanto no ensino e na pesquisa”, afirma. O NAEEFA completou 28 anos de atuação em 2022, e promove diversas atividades com esporte adaptado, como o goalball, o basquete em cadeira de rodas, natação e tênis em cadeira de rodas (os dois últimos com a retomada prevista para o segundo semestre deste ano). Luciana aponta que as modalidades de voleibol e atletismo ainda não são realizadas em projetos do NAEEFA, mas que, junto com a modalidade do parabadminton, estão previstas para serem contempladas em projetos futuros.
A docente salienta que o festival não tem um enfoque competitivo e de disputa de medalhas. “O Festival Paralímpico tem como objetivo principal a vivência em modalidades paralímpicas. Por isso, cada cidade escolheu as modalidades que tem condições de oferecer, e nós escolhemos pelos projetos que temos”, explica. No Festival Paralímpico, a UFSM irá sediar três modalidades de esporte adaptado. O evento ocorre neste sábado, 24 de setembro, no Centro de Educação Física e Desporto (CEFD). Conheça as modalidades:
1. Basquete em cadeira de rodas
De acordo com o CPB, o início da prática do basquete em cadeira de rodas foi com ex-soldados norte-americanos que foram feridos na 2ª Guerra Mundial. A modalidade foi a primeira do tipo paralímpico a ser praticada no Brasil, em 1958, no Rio de Janeiro. Luciana explica que os atletas são avaliados conforme o comprometimento físico-motor. “Eles passam por uma avaliação funcional antes das competições e todos jogam em uma cadeira de rodas específica da modalidade basquete, porque cada modalidade em cadeira de rodas tem a especificidade [do tipo] de cadeira”, descreve.
As dimensões da quadra e alturas da cesta são as mesmas do padrão do basquete olímpico. Segundo o CPB, as cadeiras de rodas recebem adaptação e padronização de acordo com as regras da Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF). As regras explicadas no site da CPB descrevem que a bola deve ser quicada, arremessada ou passada a cada dois toques na cadeira. São quatro quartos com duração de dez minutos cada. Podem competir pessoas com alguma deficiência física e/ou motora e os times são formados por até cinco pessoas.
2. Voleibol sentado
No voleibol sentado, a rede é mais baixa e a quadra é menor. Segundo o CPB, na modalidade masculina, a altura da rede é de 1,15 metros, e, na feminina, 1,05 metros. A quadra tem dez metros de comprimento e seis metros de largura. No esporte olímpico, a quadra tem 18 metros de comprimento por nove metros de largura. Pessoas que têm alguma deficiência física e/ou dificuldade de locomoção são divididas em dois times de seis pessoas. A duração das partidas é a mesma do esporte olímpico: 25 pontos corridos para os sets e 15 para os Tie-Break. Uma das diferenças deste tipo de esporte paralímpico para o olímpico é que é possível bloquear o saque. Conforme o CPB, os atletas devem manter sempre o contato com a quadra, a não ser em deslocamentos.
3. Atletismo
Atletas com deficiência física, visual ou intelectual podem praticar o atletismo paralímpico, de acordo com o CPB. As provas se dividem entre os tipos de pista, campo e rua, nas modalidades de corrida, saltos, lançamentos e arremessos. Entre as provas de corrida estão as de pista – 100m, 200m, 400m, revezamento de quatro por 400m, revezamento de quatro por 100m, 800m, 1500m, 5000m e 10.000m – e as de rua – maratona de 42 quilômetros e meia-maratona de 21 quilômetros. As provas de lançamento contemplam o lançamento de disco e club e o de dardos. Há tanto salto em distância quanto salto em altura e salto triplo. Na modalidade de arremessos, há somente os arremessos de pesos. No Festival Paralímpico sediado na UFSM, serão ofertadas provas de campo, como arremesso, e provas de pista, como a corrida.
Luciana destaca que o atletismo foi uma das primeiras modalidades praticadas por pessoas cegas, e atualmente é uma das mais procuradas por conta da amplitude de provas. “É uma modalidade de destaque no cenário paralímpico brasileiro”, evidencia.
Esporte adaptado
A diferença entre o esporte olímpico e o paralímpico é a adaptação de regras, espaços e materiais. Luciana ressalta que o objetivo é equiparar a participação de todas as pessoas nas modalidades. Esportes como basquete, voleibol, bocha e natação são esportes olímpicos e foram adaptados para pessoas com deficiência. Já o goalball, esporte adaptado também oferecido pelo NAEEFA na UFSM, é uma modalidade criada para pessoas com deficiência visual – tanto cegas quanto com baixa visão – e não tem equiparação no esporte olímpico. “As adaptações dependem da modalidade e da pessoa com deficiência que irá participar. Cada modalidade de esporte paralímpico tem especificidades conforme a deficiência e as necessidades das pessoas”, complementa Luciana.
Expediente:
Reportagem: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Fotografias: Ana Alícia Flores, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias;
Design gráfico: Cristielle Luise, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Camilly Barros, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.