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15 fatos sobre cadáveres que você nem fazia ideia que eram reais

Confira informações curiosas sobre a utilização de cadáveres em estudos acadêmicos



Você sabe o que é a dissecção de cadáveres? E que é possível doar apenas parte do corpo? E sabe que é possível fazer um funeral antes de o corpo ser destinado para a instituição de ensino?  Através de artigos científicos e de conversa com os professores do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Carlos Eduardo Seyfert e Dorival Terra Martini, obtivemos informações curiosas sobre a utilização de cadáveres em estudos acadêmicos. Confira:

 

1 – Cadáveres originados de morte violenta ou suspeita não pode ser destinados para estudo

Os corpos humanos estudados em universidades podem ser oriundos de doações voluntárias ou provirem do Instituto Geral de Perícias na condição de cadáver não reclamado (que não foram procurados/identificados por parentes ou responsáveis legais). No entanto, os cadáveres de morte provocada por mecanismos violentos ou suspeitos não deverão ser destinados a estudo, visto que há necessidade de esclarecer as circunstâncias em que se deu o fato.

 

2 – Antes da utilização para estudo, é preciso dissecar o cadáver

A técnica de dissecção de cadáveres consiste na exposição de estruturas, através de cortes na pele, nos ossos, retirada de gordura, entre outros procedimentos que possibilitem maior visibilidade interna. Então, a dissecção acontece de acordo com a estrutura alvo – a região do corpo – que necessita estar disponível com maior urgência. Para isso, são utilizadas ferramentas como pinças e bisturis. Na UFSM, a dissecção é realizada por técnicos em anatomia e necrópsia, mas também pode ser feita por professores do Departamento de Morfologia e estudantes em monitoria.

3 – Seis meses é o tempo médio para que o corpo esteja preparado para utilização

Antes da dissecção, o ideal é que o cadáver passe um período de, aproximadamente, seis meses em conservação por produtos químicos, como o formol, para melhorar o processo de fixação. Mas nada impede de dissecar o cadáver sem fixador nenhum. Nos Estados Unidos, por exemplo, há centros de estudos com cadáveres frescos, o que é muito procurado por cirurgiões, já que a textura do cadáver fresco e do formolizado é diferente uma da outra.

 

Leia mais sobre o assunto:

 

+Doação pela ciência: estudante de Odontologia se cadastrou como doadora voluntária do corpo

 

+A rotina na segunda trajetória: cadáveres humanos e animais participam da formação de profissionais na UFSM há cerca de cinquenta anos

 

+Quando a história de vida segue ainda após a morte: doação voluntária de corpos é aposta para continuidade de estudos acadêmicos com cadáveres humanos

 

4 – Cadáveres de qualquer idade podem ser estudados

De modo geral, os corpos estudados são de pessoas idosas, porém, há cadáveres de todas as idades e o estudo em corpos de diferentes faixas etárias é necessário. Na UFSM, existe um laboratório de fetos, que possui corpos de fetos conservados por mais de 30 anos; muitos deles são disponibilizados pelo HUSM, principalmente provindos de casos de aborto espontâneo.

5 – A doação de órgãos pode ser feita antes da doação do corpo

A doação do corpo para estudo pode acontecer mesmo após a retirada dos órgãos. As estruturas restantes sempre podem ser úteis para estudo.

 

6 – Pode haver um funeral antes de o corpo ser levado para a instituição de ensino

Em caso de um corpo doado, o funeral sempre pode ser feito antes; é uma decisão familiar e os custos também devem ser arcados pela família. Quando se trata de um cadáver não reclamado – que não é identificado ou procurado por responsáveis – o corpo fica congelado no IML durante cerca de um mês até que a documentação esteja concluída e ele possa ser destinado à instituição de ensino.

 

7 – É possível doar apenas parte do corpo

As doações voluntárias podem acontecer com corpos em parte ou no todo. Partes amputadas de corpos inteiros também podem servir para estudos em universidades.

8  – Temperatura ambiente influencia no cheiro

O produto químico mais utilizado na conservação de cadáveres é o formol. Na UFSM, quando os corpos chegam ao Departamento de Morfologia, o formol é injetado através de acesso arterial, para que penetre em todos os tecidos e garanta a fixação do corpo; o formol também é o fixador utilizado para garantir a conservação ao longo dos anos, sendo que a maior parte dos cadáveres são conservados em tanques de solução com 5% de formol. Há, no entanto, um outro método de utilização mais recente que é denominado Laskowsky, feito com outros produtos químicos e que apresenta distinto odor. Em menores quantidades, utiliza-se também a glicerina e até mesmo o cloreto de sódio (sal). Independentemente da conservação, em dias quentes o cheiro forte é mais perceptível.

 

9 – É ilusão a ideia de que os cabelos e as unhas crescem ainda após a morte

O tamanho dos pelos pode dar a ilusão de que aumentou após a morte porque o corpo, quando vai a óbito, acaba perdendo tônus musculares – o tecido começa a perder consistência – e, com isso, passa por uma retração. Então, o pelo dá a impressão de que aumenta alguns milímetros, mas nunca, depois de dez anos do falecimento, o cadáver vai acabar com um cabelo estilo Rapunzel.

10 – Na universidade, os corpos nunca são chamados pelo nome

Com exceção dos cadáveres que não possuem documentos de identificação (indigentes), as universidades têm acesso aos dados da pessoa cujo corpo está sendo estudado. No caso de um cadáver não reclamado, a cópia da certidão de óbito fica em responsabilidade das universidades e, assim, tem-se informações sobre o cadáver. Com o Programa de Doação de Corpos, tem-se os dados dos doadores. Contudo, dentro da universidade, o nome é esquecido; os cadáveres são chamados de “peças” e identificados por números, geralmente.

 

11 – Não há remuneração pelo corpo humano doado

Não é previsto nenhum tipo de remuneração para a pessoa, ou família da pessoa, que se propõe a doar o corpo.

12 – Transporte do corpo doado fica por conta da família

Pela doação voluntária, a família tem o dever de transportar o corpo até o Departamento de Morfologia da UFSM com o auxílio de uma agência funerária e, além disso, arcar com os custos desse transporte. Caso seja um corpo não reclamado, cabe à Universidade buscar o cadáver no Instituto Médico Legal (IML), com um veículo especial, e arcar com os custos.

 

13 – Existem corpos que estão na UFSM há cerca de 30 anos

Há corpos humanos que são estudados na UFSM há cerca de 30 anos. Hoje em dia é mais difícil de conseguir corpos para estudo, principalmente humanos, tanto pela legislação quanto pelo aumento no número de escolas de saúde.

14 – Corpos animais são mais fáceis de serem adquiridos

A carência de cadáveres humanos é muito maior que a de animais, porque existe maior facilidade em conseguir doação animal e também é possível realizar a compra de material. Na UFSM, animais que vão a óbito no Hospital Veterinário Universitário, algumas vezes, são doados pelos próprios donos. Os gatos e cachorros existentes no Departamento de Morfologia vieram de doações. Ainda assim, ovelhas e carneiros são os animais presentes em maior quantidade, porque são comprados pela instituição.

 

15 –  O tempo de “vida” útil de cada corpo é indeterminado

A vida útil depende das práticas de manipulação de cada cadáver e, por isso, é indeterminada. Porém, ao longo de anos de utilização, os corpos deixam de serem úteis para alguns estudos (as veias podem se deteriorar, por exemplo). Apenas quando chegam a este ponto é que passa a ser necessário o descarte. No entanto, os corpos que foram conservados durante anos não podem ser enterrados como uma pessoa normal por causa dos resíduos tóxicos; na UFSM, o Departamento encaminha para uma empresa que é responsável pelo descarte.

 

As fotografias utilizadas nesta reportagem foram autorizadas pelo Departamento de Morfologia da UFSM.

 

Reportagem: Claudine Freiberger Friedrich

Fotografia: Rafael Happke

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