Instituído pela Organização das Nações Unidas em dezembro de 1994, o Dia Internacional dos Povos Indígenas é comemorado anualmente e busca promover a reflexão sobre as condições de existência desse grupo étnico. A data faz referência ao dia da primeira reunião do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre essas populações, a qual aconteceu em 1982, na região de Genebra, Suíça.
Embora exista um dia para celebrar a importância desses povos, o integrante do Programa de Educação Tutorial (PET) Indígena da UFSM, estudante de Medicina e pertencente à etnia Xakriabá, Luan Xakriabá, explica que ainda existe muita discriminação e ataques que ocorrem diariamente contra essa etnias – assim como falta de informação, demonstrada por meio de perguntas ofensivas e preconceituosas. “Frases muitas vezes como: ‘vocês andam nus na aldeia’, ‘nunca vi um índio de cabelo ruim’, ‘nunca vi um índio de pele clara’”, comenta Luan.
No entanto, Xakriabá elogia ações da UFSM como a Casa do Estudante própria para indígenas, uma vez que é um passo importante no reconhecimento dentro da Universidade. “É uma das poucas que tem, o que faz toda a diferença, já que nos sentimos acolhidos e acabamos nos apoiando uns aos outros, apesar de sermos povos das mais diversas etnias do Brasil”. Além disso, ele destaca o PET Indígena, projeto no qual está inserido: “desenvolvemos projetos de extensão que abrangem algumas aldeias ao redor de Santa Maria, além de trazer visibilidade e mostrar que há estudantes indígenas presentes na universidade”.
Nesse sentido, pensando em ampliar o conhecimento sobre mais projetos de ensino, pesquisa e extensão na instituição voltados à temática indígena, a Arco listou onze trabalhos que procuram dar visibilidade a esses povos e tornar tal discriminação menos frequente. A escolha foi feita considerando diferentes áreas do conhecimento e os resumos foram editados a partir dos textos dos autores:
Tipo de Produção: Projeto de Ensino
Coordenadora: Roselene Moreira Gomes Pommer
Unidade responsável: Colégio Técnico Industrial de Santa Maria
Enfoque: Organizar e disponibilizar atividades pedagógicas sobre temáticas étnico-raciais para estudantes dos cursos técnicos e tecnólogos do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM). As atividades serão compostas por oficinas didáticas, intervenções em aulas, pesquisas para identificação e superação de situações problemas, rodas de conversas, palestras e ciclos de estudos – apresentando-se como estratégias complementares à formação básica e técnica, norteadas pelos princípios da educação integral, igualitária e humanística.
2- Ativação da cultura indígena por meio de práticas colaborativas em arte, ciência e tecnologia
Tipo de Produção: Projeto de Extensão
Coordenadora: Andréia Machado Oliveira
Unidade responsável: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
Enfoque: Desenvolver ações de extensão na comunidade Kaingang Terra do Guarita, no noroeste do Rio Grande do Sul, abrangendo, posteriormente, outras comunidades que o aderirem. O projeto artístico visa práticas colaborativas com comunidades indígenas e busca permitir novas abordagens para fomentar o protagonismo indígena, fazendo com que eles se tornem os contadores de sua própria história. Além disso, o objetivo é relacionar essas práticas com o uso das tecnologias emergentes em arte, possibilitando que essas comunidades participem ao ativar sua cultura em meio aos processos globais da atualidade.
3- Indígenas, Quilombolas e Napalm: Uma História da Guerrilha do Vale do Ribeira
Tipo de Produção: Projeto de Pesquisa
Coordenador: Jorge Luiz da Cunha
Unidade responsável: Centro de Educação (CE)
Enfoque: Produzir pesquisas e ações educativas que permitam ressignificar a história sobre a Guerrilha do Vale da Ribeira – episódio de repressão militar, em 1970, contra povos indígenas, quilombolas e napalm -, buscando contextualizar este acontecimento recente, pouco conhecido e estudado da história política brasileira. O projeto é desenvolvido através de intercâmbios e debates, construindo uma base de dados sobre o episódio e, até mesmo, conteúdos para mídias digitais em formatos didáticos.
Tipo de Produção: Projeto de Extensão
Coordenadora: Alice do Carmo Jahn
Unidade responsável: Departamento de Ciências da Saúde de Palmeira das Missões
Enfoque: Proporcionar o intercâmbio e a inserção de estudantes da UFSM campus Palmeira das Missões em território rural e indígena Kaingang, a fim de conhecer o contexto de vida dos atores sociais e desenvolver ações com práticas coletivas multidisciplinares – como estratégia de promover o desenvolvimento regional sustentável, que leva à construção de comunidades humanas.
5- Patrimônio Cultural Material e Imaterial: Saberes Indígenas Kaingang e Guarani M’Bya
Tipo de Produção: Projeto de Extensão
Coordenador: Marcelo Pustilnik de Almeida Vieira
Unidade responsável: Departamento de Fundamentos da Educação
Enfoque: Desenvolver ações de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo os estudantes indígenas da UFSM e as comunidades das aldeias Guarani e Kaingang do município de Santa Maria. Tais ações visam a recuperação e troca entre os saberes acadêmicos e os saberes tradicionais destes povos originários. Após isso, pretende-se catalogar e registrar essas trocas em produções multimídias (material impresso, fotográfico, videográfico e sites na internet), de forma a preservar e salvaguardar tal patrimônio cultural.
6- Saúde Mental de Professores Indígenas em Tempos de Pandemia
Tipo de Produção: Trabalho de Conclusão de Curso
Orientadora: Aline Cardoso Siqueira
Autor: Ana Flávia Ribeir
Unidade responsável: Departamento de Psicologia
Enfoque: Compreender o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental de professores indígenas. No projeto, participarão seis professores de uma aldeia indígena da região Sul do Brasil. Além disso, será utilizada uma entrevista presencial em profundidade, e a análise dos dados será realizada a partir da Análise Temática – método interpretativo com identificação, análise e descrição de padrões ou temas.
7- Aldeias em Rede: interdisciplinaridade e interculturalidade na escola indígena
Tipo de Produção: Projeto de Ensino
Coordenador: Vitor Jochims Schneider
Unidade responsável: Departamento de Letras Vernáculas
Enfoque: Promover ações formativas iniciais e continuadas de professores aptos a atuarem em escolas indígenas da região. Desta forma, serão realizadas atividades online com o intuito de colaborar com equipes que já atuam nas escolas indígenas Mbya Guarani e Kaingang da região, produzindo materiais didáticos adequados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Tipo de Produção: Projeto de Pesquisa – Dissertação
Coordenadora: Eliana Rosa Sturza
Unidade responsável: Departamento de Letras Estrangeiras e Modernas e Programa de Pós-Graduação em Letras
Enfoque: Compreender em que sentido se dão as orientações em relação ao ensino da língua portuguesa no contexto da educação indígena. O tensionamento está, portanto, no fato de que a língua portuguesa precisa ser ensinada, uma vez que se trata da língua oficial do Brasil.
9- Projeto Indígenas do Rio Grande do Sul: a valorização da natureza pelo olhar do povo da floresta
Tipo de Produção: Projeto de Extensão
Coordenadora: Suzane Bevilacqua Marcuzzo
Área: Departamento de Ensino e Colégio Politécnico
Enfoque: Elaborar oportunidades de interpretação ambiental para visitação em terras indígenas, em busca do resgate e da valorização dos saberes das etnias Guarani e Kaingang, na Terra Indígena do Guarita e na aldeia Guarani Mbya Guavitaty Porã. A expectativa, ainda, é de que as novas gerações indígenas percebam a riqueza de sua cultura, desenvolvendo um senso de pertencimento e gerando o fortalecimento de seu território e identidade.
10- Intérpretes indígenas: pluralidade linguística e acesso à justiça
Tipo de Produção: Projeto de Extensão
Coordenador: Vitor Jochims Schneider
Unidade responsável: Departamento de Direito e Departamento de Letras Vernáculas
Enfoque: Criar ações de formação e divulgação que contribuam para o cumprimento da Resolução 287/2019 do Conselho Nacional de Justiça – a qual busca alinhar o tratamento jurídico e penal das pessoas indígenas aos marcos consolidados pela Constituição de 1988, garantindo que elas sejam acompanhadas por intérpretes da sua comunidade em todas as etapas do processo. Dentre as ações do projeto, destacam-se cursos de formação de intérpretes comunitários para indígenas das comunidades da região e cursos de formação intercultural, voltados aos servidores(as) dos órgãos de justiça e segurança do estado.
11- Projeto de Fundação da Liga Yandê: Liga Acadêmica de Assuntos Indígenas
Tipo de Produção: Projeto de Ensino
Coordenadora: Marinol Mor Dall’agnol
Unidade responsável: Departamento de Saúde Coletiva
Enfoque: A proposta da Liga Yandê é dar visibilidade à temática indígena no ambiente acadêmico, valorizando os povos indígenas do Brasil, com suas particularidades e especificidades. O objetivo é criar espaços de integração entre os estudantes indígenas do Centro de Ciências da Saúde com outras unidades e com os demais acadêmicos.
Expediente
Repórter: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Ilustrador: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e voluntário
Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Martina Pozzebon, estagiária de Jornalismo
Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista
Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas