Santa Maria está em uma posição privilegiada no que se refere à diversidade de espécies de borboletas. Situada onde a Serra Geral encontra a Campanha, a cidade convive com uma “grande riqueza” de espécies, de acordo com o professor Leopoldo Witeck Neto, do Colégio Politécnico da UFSM.
A diversidade da região de Santa Maria é destaque em uma exposição de insetos do Museu Educativo Gama D’Eça, vinculado à UFSM. O acervo contém entre 400 e 500 exemplares, dos quais cerca da metade estão expostos. Os animais estão identificados de acordo com os nomes populares que recebem no Rio Grande do Sul.
Em outubro, a coleção foi remodelada com a inclusão de borboletas coletadas nas ruas da cidade pelo professor Leopoldo quando já estavam mortas. Outro grande colaborador do acervo foi o docente Dionísio Link, do Departamento de Defesa Fitossanitária do Centro de Ciências Rurais (CCR), hoje aposentado.
Além das borboletas, a coleção inclui um exemplar do Callipogon armillatus, um dos maiores besouros do Brasil, que pode chegar a 12 centímetros de comprimento e é comum na Amazônia; e um arlequim-da-mata, maior besouro do Rio Grande do Sul, com comprimento médio de sete centímetros.
Segundo a diretora do Gama D’Eça, Maria Izabel Mariano da Rocha Duarte, a exposição de borboletas é a preferida do público infantil entre as coleções de animais do museu. “As crianças amam de paixão”, diz ela.
A seguir, saiba um pouco sobre dez das borboletas que fazem parte da coleção do Museu Gama D’Eça:
1- Janeira (Morpho catenarius)
Os exemplares da espécie costumam aparecer em janeiro. A Janeira possui quase um palmo de envergadura – tamanho considerado grande. No entanto, o corpo é pequeno com relação às asas, o que leva a borboleta a possuir um voo característico, como se estivesse cavalgando. A Janeira não se alimenta na fase de borboleta; toda a sua energia provém dos nutrientes consumidos na fase de lagarta.
2- Gema-de-ovo (Phoebis philea)
O macho e a fêmea possuem estampas diferentes, mas a cor de gema de ovo predomina em ambos. Segundo o professor Leopoldo, a espécie é comum na cidade e no campo, principalmente no verão, e participa dos panapanás – ocasiões em que dezenas ou até centenas de borboletas de diversas espécies se reúnem para consumir nutrientes no lodo das margens de rios.
3- Caixão-de-defunto ou grande-caixão (Heraclides thoas brasiliensis)
O nome se deve à predominância das cores escuras. De acordo com o professor, a espécie foi outrora bem mais comum em Santa Maria, mas tem se tornado mais rara pelo desaparecimento dos pomares em quintais. A caixão-de-defunto costuma ser mais vista na primavera e no verão, e no meio urbano. Ela coloca seus ovos em laranjeiras e bergamoteiras. É uma das várias espécies conhecidas como rabo-de-andorinha, devido ao formato da parte posterior das asas.
4- Oitenta-e-oito (Diaethria clymena)
“É uma das borboletas mais lembradas do Brasil”, comenta o professor Leopoldo. O desenho das asas se assemelha perfeitamente ao número 88. A espécie é comum nas florestas gaúchas e em áreas úmidas em geral. É uma das espécies que costuma pousar no lodo dos rios para se alimentar de sais minerais.
5- Morpho archilles
O professor considera esta como “uma das mais belas borboletas do Rio Grande do Sul”. Suas faixas azuis metálicas brilham quando são atingidas pelo sol. Segundo o docente, pode ser vista na subida da serra entre Santa Maria e Itaara. Costuma pousar sobre frutas fermentadas no solo, como goiaba, laranja e banana.
6- Viuvinha (Heraclides hectorides)
A espécie é semelhante à caixão-de-defunto e também recebe um nome associado à morte devido às cores escuras. Vive apenas nas florestas, pois coloca seus ovos em periparobas – uma espécie de planta ausente nas cidades. Seu voo é veloz, o que dificulta sua captura. Assim como a caixão-de-defunto, faz parte do grupo das borboletas conhecidas como rabo-de-andorinha.
7- Monarca (Danaus plexippus)
A subespécie brasileira é muito próxima da monarca da América do Norte, que, em todo inverno, migra, em grupos de milhares, de zonas frias dos Estados Unidos e do Canadá para passar a estação no México, onde colocam ovos. A subespécie presente no Brasil não migra.
8- Mal-casados (Doxocopa laurentia)
O nome popular se deve à profunda diferença entre o macho e a fêmea da mesma espécie com relação às cores, segundo o professor. A fêmea, à direita na foto, possui cores que facilitam sua camuflagem no ambiente. O macho costuma pousar na beira das trilhas das florestas, onde entra em combate com outros machos e persegue as fêmeas.
9- Maria-boba (Heliconius erato phyllis)
“De todas as borboletas, é considerada a mais inteligente”, de acordo com o professor Leopoldo. Ele afirma que as mais velhas orientam as mais novas a voarem até as flores com néctar. Sua vida é considerada longa – chega a quase um ano na fase de borboleta – porque se alimenta não apenas do néctar das flores, mas também do pólen, que é mais nutritivo. A espécie dorme em grupos de dezenas, penduradas em gravetos secos na floresta.
10- Azulão (Morpho aega)
Outro exemplo de espécie em que o macho e a fêmea são diferentes visualmente. A coloração azul-metálico do macho dá o nome popular da borboleta. Segundo o professor, uma população de azulão pode conter até cem machos para uma fêmea. A espécie surge duas vezes ao ano, em abril e dezembro. É comum na zona urbana de Santa Maria devido ao hábito de as lagartas se alimentarem de folhas de taquareira, comuns em arroios como o Cadena e o Cancela.
Ficou curioso em ver a exposição completa? Seguem abaixo as informações sobre o Museu Educativo Gama D’Eça:
Endereço: Rua do Acampamento, 81, no centro de Santa Maria
Horário de funcionamento: No período de férias, até 22 de fevereiro de 2019, o horário de atendimento externo será de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30 (conforme a Portaria N. 92. 024)
Contato: (55)3220-9306 / (55)3220-9308
A entrada é gratuita.
Reportagem: Rossano Villagram Dias
Edição: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo
Fotografia: Rafael Happke