Esta investigação articula ancestralidade afro-brasileira e Inteligência Artificial (IA), analisando como essa tecnologia tensiona velamentos históricos e promove (re)existências na arte contemporânea. Partindo de fotografias do século XIX de negros escravizados e libertos, a pesquisa desenvolve instalações interativas que ressignificam visualidades coloniais, utilizando modelos de Deep Learning (como o First Order Motion Model) para animar rostos históricos em tempo real. Com perspectiva decolonial, a obra confronta hierarquias visuais coloniais e o racismo algorítmico (Joy Buolamwini, Tarcizio Silva), expondo como bancos de dados hegemônicos perpetuam exclusões, à luz da teoria da história potencial de Ariella Azoulay.
A interatividade nas instalações subverte a passividade do observador: rostos antes objetificados ganham movimento e afeto, dissolvendo fronteiras entre sujeito e objeto. A IA emerge como ferramenta crítica, reativando “contratos não assinados” (Azoulay) interrompidos pela violência colonial. O projeto propõe um contra-arquivo onde a memória afro-brasileira se reconstrói coletivamente, tensionando éticas da representação e reivindicando futuros possíveis. Conclui-se que a integração de tecnologias digitais, em abordagem decolonial, amplifica vozes silenciadas, transformando a arte em espaço político de reparação e afirmação de subjetividades negras na contemporaneidade.



