Natureza, tecnologia e transformação
Para a quarta edição da Mostra Online a equipe curatorial apresenta artistas que, através de vídeos e performances, proporcionam um olhar peculiar e atento às ações da natureza e que, vista por outros ângulos, contribui para pensar seus fluxos e suas transformações.
Barbara Castro em “Transborda” (2015), apresenta noções de fluxo e conectividade na medida que remete simultaneamente a algo fluido que não se não se contém em um modelo fechado e à expansão de uma rede no ato de bordar conexões que não se conformam em uma fronteira fixa. A visualização da produção e a troca de dados foram mapeadas e projetadas nos troncos, raízes e galhos de uma árvore e que proporcionou, sobretudo, uma troca afetiva na produção de arte telemática como fluxos vitais-estéticos. A estrutura da árvore foi utilizada como canal para a manifestação da seiva vital de dados.
Inserções poéticas entre arte, natureza e tecnologia também podem ser visualizadas através do desdobramento do projeto S.H.A.S.T. – Sistema Habitacional para Abelhas sem Teto, com a obra “Nós abelhas” (2015), de Malu Fragoso onde a artista apresenta uma proposta de arte contemporânea computacional no contexto das telecomunicações informatizadas. Criado dentro do contexto de pesquisar, projetar e desenvolver processos artísticos compostos por objetos de naturezas híbridas, a obra está relacionada a questões de ecologia humana e equilíbrio agroecológico apontando o problema da qualidade urbana. A obra sugere uma metáfora de uma colmeia e convida o público e se sentir abelha e possibilitar ao público uma reflexão quanto à preocupação mundial diante do desaparecimento das abelhas e a importância que elas têm na cadeia natural da sobrevivência de inúmeras espécies animais e vegetais, inclusive a humana.
A metáfora também está presente na obra de Muriel Paraboni, Éter (2016), onde o artista recorre à temática da natureza que se transforma e evolui, assim como todos os seres. A água, as bolhas de arte e o reflexo do vidro propõem provocações através da arte. O som também proporciona diversas sensações e coloca em dúvida o habitat do ser vivo, do peixe que reluta em seguir o seu caminho, em um processo de busca e de transformação. Ao multiplicar-se, a imagem do peixe parece ganhar força e um novo sentido de direção. Seria, portanto, uma alusão à vocação perpétua de reinvenção do ser?
Questionamentos acerca do habitat dos seres vivos fazem parte da poética de Matheus Moreno que apresenta imagens de transhabitats, geradas a partir de escaneamentos de ambientes diversos, como: um apartamento residencial, o Sebo Café e a Gare da antiga estação férrea de Santa Maria/RS, e exibe imagens de topologias excessivas e em constante generatividade. As relações cíbridas entre o habitat natural e o ciberespaço encontram-se intrinsecamente ligadas em uma visualização em trânsito e proporcionam estes ambientes transorgânicos e conectam a vida ao artificial, digital ou virtual atualizando-se mutuamente.
Questionamentos e reflexões podem ser percebidas através das obras e contribuírem, sobretudo, para que os seres busquem reconhecer seus ambientes e reconfigurem suas ações para estarem aptos às mudanças de ritmo, direção e assim garantir a sobrevivência.
Curadoria: Andrea Capssa Lima, Cristina Landerdahl, Rittieli Quaiatto.