Sobre uma mulher que considerava uma “delícia” transitar pelos saberes da Análise de Discurso
Foi em uma noite de tempestade que ela nos deixou… partiu silenciosamente, enquanto o vento rugia e a chuva caía forte… é inverno no sul da América do Sul, aquela que tem “as veias abertas”, como nos ensinou Eduardo Galeano… A Carme nos disse tanto, escreveu tanto, lutou tanto…sua voz ressoa viva… mas o dia de hoje amanheceu cinzento, de “cara amarrada”, resmungando baixinho, com seus trovões ao longe, parece que reclamando uma partida tão precoce e confirmando que “a maior certeza que temos é a impossibilidade de eliminarmos as incertezas” (Scherer, 2011). E, neste momento, o silêncio que fica no ar significa muito, faz barulho dentro da gente e provoca um desejo de poesia. Sim, falar de Carme Regina Schons, hoje, é falar de poesia, daquela poesia que faz da Análise de Discurso um lugar diferenciado de produção do conhecimento linguístico; mas também daquela poesia que está nas tantas telas pintadas por ela, no sorriso largo e na mão forte que segurava nossas mãos (Amanda e Verli) numa visita que lhe fizemos em Passo Fundo no mês de abril. Naquele dia, fomos nós que levamos a ela um pouco de poesia do nosso querido Manoel de Barros. Enquanto líamos, ela sorria, sorvendo cada verso e identificando-se, tantas vezes, pois ela também era “uma apanhadora de desperdícios” e compactuava com o que dizia o poeta: “eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios”.
Por Verli Petri e Amanda Scherer
Carme Schons, uma presença constante no Laboratórios Corpus, deixa muita saudade!