O Laboratório de Fontes de Estudo da Linguagem – Corpus/PPGL deu continuidade à série de 10 encontros com especialistas nas áreas da Linguística e da Literatura na última segunda-feira (19). O conferencista desse dia, Prof. Dr. Alexandre Ferrari (Unioeste/PR), discorreu sobre o tema Mídia, discurso e (homo)sexualidade. Doutor em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2006), com a tese A Homossexualidade e a AIDS no imaginário de revistas semanais (1985-1990), o professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Análise do Discurso, atuando principalmente nos seguintes temas: discurso jornalístico, efeito de sentido, análise do discurso, discurso e formação discursiva. É também integrante do GT Configurações críticas: homoerotismo e literatura, onde desenvolve estudos críticos, históricos e teóricos da literatura, os quais abordam a homossexualidade e têm como objetivo intervir como crítica da cultura e ressaltar aspectos de textos que dialogam com o homoerotismo.
Na conferência, o pesquisador apresentou recortes de discursos jornalísticos veiculados em mídia impressa (jornais e revistas) e em redes sociais, correlacionando-os a questões teóricas, como o “acontecimento discursivo” e a “equação linguística”, vinculadas ao corpus de sua tese. O discurso jornalístico faz funcionar uma forma de acontecimento que temporaliza, constitui sentidos e instaura uma outra ordem do real e, sob essa concepção, o pesquisador procurou mostrar como, a partir das décadas de 1980/1990, a mídia expôs e fez produzir sentidos pelo discurso acerca da AIDS, não necessariamente pela discussão a partir de um lugar científico como a medicina – então sem respostas – mas pela relação direta com que vinculou a doença à homossexualidade.
Se o acontecimento não é simplesmente uma ruptura na ordem da linearidade dos fatos, é pelo atributo que o discurso jornalístico movimenta, desloca, temporaliza e atualiza que o pesquisador problematiza a questão da homossexualidade na abordagem da mídia: avançando em sua investigação, a partir do ano 2000, com foco em recortes de legislação, do político e da moral, mostrou, na relevância de sua análise – em meio a um farto arquivo constitutivo, qual seja, o fato (acontecimento discursivo) -, que a Aids trouxe à tona a imprescindibilidade de que o homossexual existe e não é o outro, já não se pode mais escondê-lo (o desejo). É também pelo discurso jornalístico que se infere a questão da “equação linguística”, ou seja, é através dele que se pode observar o funcionamento da equivalência de sentidos – no caso da homossexualidade, sentidos negativos entre duas ou mais expressões produzidas e recorrentes no interior de uma determinada Formação Discursiva, em certas condições de produção de sentidos.
Durante a tarde, no Conversa com o Pesquisador, Ferrari respondeu a questões pontuais acerca de seu trabalho aos professores e pesquisadores do Corpus e do PPGL, sobre sua experiência profissional e sobre sua produção teórica. Também destacou a importância dos programas de intercâmbio para estudos no exterior, bem como o apoio significativo que a CAPES tem dado ao ampliar o custeio de bolsas para essa finalidade. Atualmente, ele coordena um projeto (Programa de Licenciaturas Internacionais) que oportuniza a participação de sete acadêmicos do 2º ano do curso de graduação em Letras do Campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em estudos na Universidade de Lisboa, em Portugal. Encerrando, não poupou elogios, sobremaneira, à estrutura do Corpus, pelo espaço de estudo e de pesquisa disponibilizado e pelo acervo da biblioteca e dos arquivos em mídia.
Os dois encontros, da manhã e da tarde, com o Prof. Alexandre Ferrari, foram mediados pela Profª. Amanda Eloína Scherer, entusiasta e líder na organização dos eventos.