VAGABUNDOS DO INFINITO – GRUPO DE PESQUISA EM TEATRO
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Crítica:
Revelação de grupo santa-mariense
O projeto Porto Verão Alegre propiciou, na semana passada, a primeira boa surpresa da temporada. Trata-se do grupo santa-mariense de teatro Vagabundos do infinito, que trouxe à Capital cinco espetáculos. Todos foram apresentados no escondido, mas simpático espaço do Teatro Hebraica, que agora tem uma placa de identificação e acessibilidade facilitada ao público em geral. O grupo interiorano vem a Porto Alegre pela primeira vez. Mas já tem história e, sobretudo, tem qualidade e personalidade. O diretor Paulo Márcio evidencia criatividade e, às vezes, grande coragem nos encaminhamentos dos espetáculos que assina, contando, para isso, com um grupo de intérpretes bastante afinado. Das cinco montagens apresentadas em Porto Alegre assisti a duas delas. Ambas foram espetáculos-solo, dos três que foram aqui mostrados, sendo dois outros trabalhos grupais. Conheci a montagem de Horla, baseado em contos de Guy de Maupassant, e A supermãe porra louca, livre adaptação de um texto dos italianos Dario Fo e Franca Rame. No primeiro caso, tinha especial curiosidade em conhecer o espetáculo, porque, por extrema coincidência, os mesmos contos haviam sido adaptados em um outro espetáculo, que comentei, inclusive, neste espaço. Levando-se em conta que não se trata de um texto de teatro, mas de ficção curta, era extremamente interessante que se fizesse a comparação. Depois de assistido ao trabalho, de cerca de 50 minutos de duração, pode-se dizer que tanto a adaptação foi, de certo modo, mais bem-concretizada do que no trabalho anterior, quanto o intérprete, Leonel Henckes, evidencia boa qualificação para a interpretação de um personagem, que, com toda a certeza, é bem mais velho do que ele. Um espetáculo simples e despojado, com um bom jogo de luz, um ritmo cuidado e uma entonação bem-elaborada pelo ator, permitiram a concentração da pequena platéia em relação ao texto, enfrentando o forte calor da sala e, sobretudo, o barulho do necessário ventilador que permaneceu em funcionamento. Ficaram evidentes o acerto da transposição do texto, com boa unidade, e o bom preparo do intérprete, que convence e realmente emociona. Quanto à peça A supermãe porra louca, diga-se, desde logo, que Márcia Chiamulera, sua única intérprete, é estupenda, não surpreendendo que tenha ganho vários prêmios de melhor atriz nos festivais de que tem participado. Márcia entra em cena e toma por absoluto a atenção de todos. Felizmente, na segunda noite, o teatro estava cheio e o calor era bem menor, o que propiciou ainda melhor acompanhamento do espetáculo, que, de todo o modo, flui com um ritmo forte graças à boa adaptação do texto e à vivacidade da intérprete, que chega ao cuidado de trabalhar inclusive um sotaque típico de uma italiana a falar português, como ouvimos em nosso interior. O figurino de Paula Schiafino Zuchetto é colorido e adequado a uma das falas da personagem. É evidente que fazer comédia é mais difícil que fazer drama. Por isso mesmo, Márcia destaca-se em relação a Leonel. Mas seria injusto com ambos dizer que um é melhor que o outro, porque, por outro lado, a personagem feminina cativa mais, naturalmente, a platéia, do que a personagem masculina. Na verdade, ambos realizam muito bem suas tarefas, levando-se em conta que os dois espetáculos ocorrem em cena aberta, sem qualquer elemento cênico. Se a luz auxilia a dramatização de um texto, um banquinho de igreja é o único elemento decorativo da comédia. Isso significa, realmente, que os dois atores possuem força suficiente para concretizar um espetáculo. E isso é o que vale. Disso tudo, o que se pode registrar, pois, é que se tornou altamente positivo, para o grupo e para o público de Porto Alegre, a oportunidade que o Porto Verão Alegre propiciou a esse grupo, que, necessariamente, deve retornar à Capital para uma verdadeira temporada, evidenciando os talentos de todo o conjunto, a começar por seu mentor e diretor, Paulo Márcio. Bela homenagem do grupo a Pedro Freire, o grande promotor do teatro daquela cidade, falecido, por casualidade, na mesma semana que passou. Publicado no Jornal do Comércio – POA – 25/01/08
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