No terceiro dia de CEDN, o prof. Dr. Igor Castellano da Silva proferiu a palestra “Segurança na África e o Entorno Estratégico Brasileiro” que apresentou os desafios de compreender as questões de segurança na África, com a finalidade de indicar como o Brasil pode se fazer presente na região. O professor considera que há um interesse inconstante e seletivo sobre as questões de defesa e segurança na África que precisam ser repensados. O imaginário sobre o continente é permeado por questões polêmicas, muitas vezes retratadas com um viés sensacionalista. Por isso, há a necessidade de limpar o terreno e resolver os desafios para superar a visão simplista muitas vezes colocada sobre a África.
Segundo o professor, esta visão ignora outros aspectos importantes e reproduz um imaginário de que as guerras do continente são irracionais, de origem étnica ou religiosa, quando na verdade tem motivações iminentemente políticas e econômicas. Para Castellano, o continente africano segue a lógica da tríade securitária, onde as guerras podem ser enquadradas em guerra irregular, guerra proxy e guerra regionalizada. O professor também apresentou os Complexos Regionais de Segurança (CRSs) do continente africano e as principais características e desafios de cada complexo. Destacam-se questões como as guerras, o arco de instabilidade relacionado ao tráfico de drogas e o terrorismo, que atua cada vez mais como um fator desestabilizador para a região. Castellano considera que, no entanto, esses fatores são consequência direta da fragilidade estatal, principal causa dos conflitos e instabilidade na África.
O professor apresentou as áreas mais estudadas sobre África e as visões geopolíticas brasileiras tradicionais, que consideram o continente como entorno estratégico brasileiro, sustentada em fatores como os vínculos históricos e culturais, a salvaguarda da segurança e defesa do Atlântico Sul, os interesses econômicos e o laboratório e modelo de inserção internacional. As questões de segurança na África trazem impactos para o Brasil principalmente devido as rotas para o narcotráfico, o transbordamento de crises, a escalada extrarregional na África Atlântica e a desestabilização/militarização do Atlântico Sul. Historicamente, as principais áreas de atuação do Brasil são a formação militar, a cooperação técnica, a cooperação multilateral, os equipamentos militares e as missões de paz. Uma nova estratégia africana do Brasil poderia se manifestar de três formas distintas: 1. Desengajamento contínuo; 2. Engajamento instrumental; 3. Engajamento e cooperação de longo prazo. O professor aponta que a grande complexidade das questões de segurança do continente africano exige um planejamento estratégico de longo prazo para que o Brasil consolide sua influência no entorno estratégico.
Texto: Ana Luiza Vedovato