Em entrevista concedida ao Nexo Jornal na matéria que foi ao ar no dia 30/04/2023, para a jornalista Isadora Rupp, o Prof. Dr. Júlio César Cossio Rodriguez comentou sobre as mensagens da Abin que vieram a tona em relação aos ataques à democracia de 08 de janeiro.
Um trecho da análise do Prof. Júlio pode ser conferido abaixo, para conferir a matéria na íntegra acesse aqui.
Para o cientista político Júlio César Cossio Rodriguez, professor da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e coordenador do Gecap (Grupo de Estudos em Capacidade Estatal, Segurança e Defesa), as mensagens da Abin que vieram à tona não trazem nada de muito novo em relação ao que já se sabia sobre os alertas ao governo.
“Seria uma surpresa se não tivesse nenhum relatório da Abin que acompanhasse a radicalização. O espantoso são as respostas: em nenhum momento as mensagens falam em alerta máximo, invasão iminente”, disse ao Nexo.
Segundo Rodriguez, a Abin deveria ter utilizado termos fortes, que dariam base para que a autoridade à frente da situação tomasse uma atitude certeira. Ele também criticou o modo de comunicação: por mensagens via WhatsApp, algo incorporado no governo do expresidente Jair Bolsonaro. […]
“Os alertas foram brandos demais, ou chegaram por vias influenciadas pela desconfiança. Nesse caso era preciso ir direto nos ministros, no presidente, em uma reunião com o conselho da República [órgão de aconselhamento da Presidência] e dito às claras o risco iminente”, afirmou Rodriguez ao Nexo.
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A apropriação no governo Bolsonaro levou a um desvio e deturpação das funções da inteligência brasileira, e das Forças Armadas fazendo mais política do que defesa, afirmou ao Nexo o cientista político Júlio César Cossio Rodriguez. “Isso deixou um legado de desorganização e desconfiança. Com esse histórico de desvio de função por parte da Abin e GSI, havia uma desconfiança geral. Não é justificar a inação, mas isso dificulta a tomada de decisões”.
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Para Júlio César Cossio Rodriguez, a gestão petista foi ingênua: a confiança nas instituições não permitiu antecipar os riscos golpistas, e o grupo de transição que tratou das áreas de Defesa e Segurança não fez um desenho eficaz, o que deixou o governo despreparado.
“Havia um receio, justificável, de acelerar as mudanças e, aí sim, gerar uma radicalização ainda maior e com adesão nas Forças e praças mais baixas do Exército, que são muito ligadas aos ideais bolsonaristas. Mas houve demora em reformar esse setor, em ter os nomes da Abin que, já no início, deveria ter sido retirada do GSI”, disse Rodriguez.
Segundo Rodrigues, depois do GSI, o governo Lula precisa tratar da agência de inteligência. “A Abin vai ter que passar por uma enorme reforma. Hoje, o sistema conta com órgãos ligados ao ministério da Fazenda, da Educação, sem nenhuma relação com a segurança nacional. Deve-se discutir o grau de sofisticação e funcionalidade do nosso sistema de inteligência”, afirmou ao Nexo.