No MemLab, investigamos questões de primeira ordem sobre a natureza da memória, mas também questões sobre a metodologia de pesquisa em filosofia. É justamente para trazer luz a questões metodológicas que Jonathas Kilque Villanova, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSM e participante do MemLab, escreveu o artigo “O problema da troca de assunto na abordagem austera de Herman Cappelen da engenharia conceitual”, o qual acabou de ser publicado na revista Aufklärung.
Este artigo trata do seguinte problema:
Ao tentar tornar um conceito mais claro, não acabamos por mudar de assunto?
Por exemplo, Aristóteles achava que havia três tipos de almas:
- alma vegetativa, a qual explicaria as funções nutritivas de um ser vivo;
- alma sensitiva, a qual explicaria a busca de alimentos e a fuga de ameaças por um animal;
- alma racional, a qual explicaria o pensamento humano.
Descartes, por sua vez, achava que esta visão confundia capacidades do corpo, como a nutrição, com capacidades realmente psicológicas, como o pensamento. Por isso, Descartes propôs que “alma” envolve, antes de tudo, pensamento.
Mas, mesmo que aceitemos que Descartes aprimora o conceito de alma, não teríamos que aceitar também que Descartes fala de algo bem diferente daquilo que interessava a Aristóteles?
Este é, através de um exemplo, o problema da mudança de assunto. Talvez o que hoje em dia se chama de “engenharia conceitual” bata de cara no problema da mudança de assunto, pois os engenheiros conceituais querem analisar os conceitos, avaliar se há fraquezas, e corrigi-las, se as houver.
Por que a mudança de assunto seria um problema?
Porque se duas pessoas estão usando uma mesma palavra de maneiras diferentes, elas não estão discordando de verdade – elas estão apenas batendo boca. Assim sendo, uma certa estabilidade do sentido das palavras é desejável.
Como resolver esse problema?
Uma solução é propor que uma proposta de melhoria do significado de um termo ou conceito é apenas uma proposta, e assim permanece até que o outro lado a aceite. Assim, o cartesiano proporia que o conceito de alma se resumisse ao pensamento, mas esse novo significado só se faria corrente após a aceitação do público em geral.
Para mais detalhes, leia o artigo de Kilque Villanova. Eis a referência:
Kilque Villanova, Jonathas. 2024. “O problema da troca de assunto na abordagem austera de Herman Cappelen da engenharia conceitual.” Aufklärung 11 (novembro):117–32. https://doi.org/10.18012/arf.v11iEspecial.70029.