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Aula Magna: o desafio é falar com o outro



A Aula Magna do Programa de Pós-Graduação em Comunicação foi realizada na manhã da última sexta-feira, dia 8 de maio, no Auditório do CCSH, no Campus da UFSM, em Santa Maria. A partir do tema “Quando eu (não) é outro: uma conversa sobre cortes e travessias”, o professor doutor Fernando Resende (UFF) levantou questões desafiadoras para quem pesquisa comunicação: a alteridade e a representação do outro na narrativa.

Para um auditório lotado de alunos e professores, Resende defendeu que a comunicação deve ser entendida como um signo de relação e não de transmissão. Foi por meio do paradigma informacional que a ideia de uma comunicação “limpa e sem ruídos” se tornou hegemônica na área. Dessa forma, a presença do outro não é problematizada: “esse outro não existiria, seria esmagado em nome de uma eficácia”, explicou Resende. Assim, para entender a questão da alteridade, é preciso antes, compreendê-la como um problema de comunicação. Para o professor, os conflitos do mundo árabe – com seus protagonistas, desejos e poderes – mostram bem essa complexidade: “À comunicação caberia exacerbar o que no próprio conflito é da ordem do indecifrável. Isso altera o entendimento da comunicação como espaço de elucidação, pois o ideal da produção de uma ‘comunicação eficaz’ teria que ser substituído pela valoração do ruído ou, no mínimo, pelo esforço de colocar em cena o atrito”.

Ainda sobre o desafio da representação do outro no discurso jornalístico, Resende questionou o quanto a estratégia da objetividade tem excluído “o outro” da narrativa e fortalecido os autoritarismos do jornalismo, do jornalista e das fontes oficiais. Citando os conflitos, o professor explicou que o “estranho e diferente de nós” acaba sendo retirado de cena justamente porque não o compreendemos. “Este me parece um problema crucial, de difícil apreensão, mas fundamental para minimamente nos aproximarmos de um ‘falar com o outro’”, concluiu.

Resende finalizou a Aula Magna ressaltando a importância de pensar o jornalismo de uma forma diferente, começando pelo ensino nas faculdades. Para ele, é fundamental os alunos aprenderem a escrita jornalística, porém, também precisam ser estimulados a fazer experimentações e a escapar da rigidez da técnica – principalmente nos primeiros semestres.

Fernando Resende é Doutor em Ciências da Comunicação (USP), com Pós-doutorado na School of Oriental and African Studies (SOAS – Universidade de Londres), docente do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Suas pesquisas têm ênfase nos estudos sobre comunicação, narrativas de conflito e movimentos diaspóricos.

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