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A crise das comunidades epistêmicas e os desafios do Jornalismo frente à desinformação

por Claudine Friedrich



Fazer e divulgar ciência no Brasil tem sido um desafio, por dois motivos principais: os cortes nos investimentos destinados à pesquisa e a deslegitimação em curso das chamadas instituições epistêmicas – dedicadas à produção do conhecimento e da verdade. É o que aponta a pesquisadora Thaiane Moreira de Oliveira, professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), que, em agosto deste ano, foi titulada como a primeira comunicóloga a tornar-se membra da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Em um estudo publicado em fevereiro, na revista Online Media and Global Communication, Thaiane analisa a disseminação de informação – e desinformação – sobre ciência nas mídias sociais. No artigo, demonstra que, apesar de a circulação de mensagens sem embasamento científico ser um dos maiores desafios dos ecossistemas de informação contemporâneos no Brasil, a preocupação com a desinformação relacionada à ciência não é um fenômeno apenas brasileiro.

“Hoje, as comunidades epistêmicas – incluindo a comunidade científica – encontram-se no olho do furacão”, avalia, indicando que os principais propulsores do cenário são discursos que ganham voz nos espaços digitais, nos quais florescem fenômenos que entrelaçam política, ciência e religião, aliados a outros movimentos que atacam a legitimidade do trabalho científico e contestam a ciência moderna. Este panorama, como consequência, estimula a perda da confiança popular sobre o conhecimento produzido por universidades e institutos de pesquisa.  

Para a pesquisadora, que define o cenário atual como um momento de crise em que o jornalismo e as instituições científicas são desacreditadas pela sociedade, “paradigmas de comunicação estão sendo desafiados” e ganham força movimentos conspiratórios que versam sobre temas relacionados à antivacinação, terraplanismos, criacionismos, nova ordem mundial, entre outros. 

Thaiane aponta que, de modo geral, o impacto social da ciência pode ser medido pela influência da produção científica nas políticas públicas e pela presença de cientistas nos meios de comunicação e nas plataformas digitais e sites de redes sociais. Com a comunicação da ciência fortemente afetada pela turbulência no financiamento das pesquisas, os cientistas acabam cada vez mais dependentes da atenção da mídia para divulgar seus estudos, de acordo com a pesquisadora, e a situação se complica ao passo que “o jornalismo – uma instituição moderna fundada em princípios anglo-americanos de verdade e objetividade – sofre da mesma crise de credibilidade enfrentada pela ciência”. 

Os cientistas, neste cenário, passam a atuar também como produtores de conteúdo, ou influenciadores digitais, capazes de divulgar sua própria produção científica pela internet, estando sujeitos à mediação dos algoritmos, que, conforme consta no estudo, supostamente aprimoram o conteúdo de acordo com as preferências do consumidor e acabam sendo impulsionados por imperativos de marketing, fazendo com que apenas informações parciais cheguem aos usuários.

No artigo citado, Thaiane mapeou a circulação de informações sobre as teorias da conspiração mais frequentes no Brasil em 2019, tendo como objeto empírico páginas e grupos atuantes no Facebook, WhatsApp e YouTube. Como resultado, ela conseguiu identificar que “as narrativas científicas são disputadas tanto na mídia tradicional quanto nas plataformas de mídia social, novos atores continuam aparecendo nos espaços digitais e os algoritmos continuam funcionando”.

Gráfico combinando os três termos utilizados pela pesquisadora para investigar a circulação de desinformação e movimentos conspiratórios no YouTube e entender a atuação dos algoritmos.
Gráfico combinando os três termos utilizados pela pesquisadora para investigar a circulação de desinformação e movimentos conspiratórios no YouTube e entender a atuação dos algoritmos.

Apesar de verificar que a autoridade científica ainda é um importante capital simbólico para a sociedade, a pesquisadora conclui que a comunicação científica atual enfrenta múltiplos desafios. Neste estudo, ela demonstra preocupação com a possibilidade de que teorias da conspiração – que, segundo os resultados da pesquisa, ganham força principalmente por meio do YouTube -, reduzam a participação cidadã na esfera política e afetem negativamente as atitudes dos cidadãos em relação à ciência. Para ela, “o impacto social da ciência não deve estar à deriva da relação com a mídia ou de  métricas de circulação em redes sociais”.

Os estudos de Thaiane incentivam o aprofundamento teórico sobre o fenômeno da desinformação e instigam perguntas de pesquisa do Grupo de Estudos em Jornalismo (EJor). É de nosso interesse ampliar nossos horizontes epistemológicos a fim de compreender como a desinformação relacionada à ciência impacta a sociedade e traz consequências, de forma particular, ao campo do jornalismo, levando em conta o quadro social marcado pelo negacionismo que ganhou relevância durante a pandemia de Covid-19.

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