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Virada de audiência: jornalismo feito para quem?



Texto por: Andreina Possan 

Com as redes sociais, a produção e divulgação de matérias jornalísticas se alterou, de uma forma bastante peculiar, e tornou o público um agente ativo (Swart et al,  2022) nessa dinâmica. Essa mudança traz novas questões à prática jornalística, que passa a ver sua audiência por meio de números e métricas.

A partir dessa reflexão, então, e do entendimento de que o papel do jornalismo se alterou com as novas dinâmicas e necessidades sociais, o principal objetivo passa a ser compreender como se dá a constituição de um público e alterar a logística dessas informações: com quem o jornalismo fala? Essa produção tem o mesmo valor informacional para todas as regiões do estado ou país? E, justamente por isso, o que exatamente significa “relevância” para o jornalismo? Essas questões passam a nortear a discussão porque clareiam muitas lacunas do sistema informacional.

Entretanto, esse é um campo muito impessoal e que nem sempre corresponde às preferências e necessidades reais do público, que podem sequer perceber as categorias dos produtores de notícias (Ornebring e Hellekant Rowe, 2022). Já não basta apenas produzir um conteúdo e analisar a reação da audiência, porque não se sabe mais quem ela é. Deve-se analisar de que maneira as pessoas buscam as informações e o que é, efetivamente, informação para elas. Esse movimento de construir a própria lógica de informação é chamado de virada de audiência.

Se pensarmos em desertos de notícias, jornalismo local e desinformação, essa discussão ganha, ainda, outra camada. Porque são assuntos que refletem, além de uma desigualdade informacional, as mudanças no papel do jornalismo, que já não é mais automaticamente o lugar onde as audiências encontram ou experienciam o que é notícia (Swart et al,  2022). Os três tópicos têm relação direta entre si: os desertos de notícias – ou locais onde não há presença profissional da imprensa – tendem a ser um campo fértil para o isolamento político e informativo da população. 

Abernathy (2020) reflete que populações com menos acesso às notícias locais são, geralmente, as mais vulneráveis, mais pobres e com menos educação. Consequentemente, se não há informação, cria-se um problema social, abre-se espaço para a desinformação. Obviamente, a comunicação de massa não poderia abraçar todas as regiões ou cidades, e é aqui que se faz ainda mais necessária a presença e importância do jornalismo local, com produções originais baseadas geograficamente, orientadas para a comunidade e destinado a preencher lacunas percebidas (Metzgar, Kurpius, Rowley, 2011)

Como dito no início, o jornalismo passou a olhar com mais atenção para as necessidades de seu público através das métricas, mas elas podem não refletir o que a audiência considera relevante ou realmente busca quando procura se informar. Nesses casos, e também quando o jornalismo não dá conta de cobrir eventos ou trazer informações sobre determinadas regiões, as pessoas passam a buscar meios próprios para se informar e buscar o que consideram importante e relevante. Nesse contexto, o jornalismo já não ocupa o lugar central na produção de informação. Já não é, necessariamente, o primeiro lugar para onde as pessoas correm quando querem se informar. 

Exemplo dessa correlação é o dado alarmante publicado na versão 5.0 do Atlas da Notícia, publicada em 2022, que relata 2.712 municípios brasileiros (59%) considerados como desertos de notícias. Cerca de 29 milhões de pessoas não têm informações relevantes sobre o local em que moram e se informam através da imprensa regional ou nacional. Em um ambiente democrático, imagine quanta desinformação não é verificada e passa como verdade. Nesse caso, um dos pilares fundamentais do jornalismo, o de reivindicar direitos, se enfraquece – ou simplesmente não existe. 

O jornalismo como conhecemos já não é mais suficiente. Não se pode continuar fazendo as mesmas coisas e esperar obter resultados diferentes. Se for assim, ele tende a ser menos requisitado e relevante com o passar do tempo. Entender as demandas da audiência, ou seja, onde as pessoas procuram essas informações e como elas as selecionam, bem como o que elas consideram como informação, tornando o público um agente ativo na produção noticiosa, é um caminho seguro para a virada de audiência e do jornalismo.

REFERÊNCIAS 

ABERNATHY, Penelope M. News deserts and ghost newspapers: Will local  news survive? UNC Hussman School of Journalism and Media. North Carolina: Center for Innovation and Sustainability in Local Media, 2020. Disponível  em: https://www.usnewsdeserts.com/wp-content/uploads/2020/06/2020_News_Deserts_and_Ghost_Newspapers.pdf. Acesso em: 22 mai. 2024.

ABERNATHY, Penelope M. The Expanding News Desert. North Carolina:  Center for Innovation and Sustainability in Local Media, 2018. Disponível  em: https://www.cislm.org/wp-content/uploads/2018/10/The-Expanding-News-Desert-10_14-Web.pdf. Acesso em: 22 mai. 2024.

Metzgar, E. T., D. D. Kurpius, and K. M. Rowley. 2011. Defining Hyperlocal Media: Proposing a Framework for Discussion. New Media & Society 13, 5 (p. 772–787), 2011. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/258173683_Defining_hyperlocal_media_Proposing_a_framework_for_discussion. Acesso em: 21 mai. 2024

Ornebring, H., e E. Hellekant Rowe. The Media Day, Revisited: Rhythm, Place and Hyperlocal Information Environments. Digital Journalism, 10, 1 (p. 23-42), 2021. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21670811.2021.2024764. Acesso em: 20 mai. 2024

Projor (2022). Atlas da Notícia – Digital Reduz de Desertos de notícias. Versão 5.0. Recuperado de www.atlas.jor.br/dados/relatorios/. Acesso em: 24 mai. 2024

Swart, J., Groot Kormelink, T., Costeira Meijer, I., e Broersma, M. Advancing a Radical Audience Turn in Journalism. Fundamental Dilemmas for Journalism Studies. Digital Journalism, 10, 1 (p. 8-22), 2022. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21670811.2021.2024764. Acesso em: 20 mai. 2024.

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