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A relevância da Teoria do Gatekeeping para o campo de estudos em Jornalismo 

por Bruna Eduarda Meinen Feil



Todo jornal quando alcança o leitor é o resultado de uma série completa de seleções
sobre que itens e em que posição devem ser publicados, quanto espaço cada estória
deve ocupar, que ênfase deve ter. Não há padrões objetivos aqui. (LIPPMANN, 2008, p. 301).

No ano de 1950, a publicação do texto  “The ‘Gate Keeper’: A Case Study In The Selection of News” escrito por David Manning White inaugurou uma discussão que tornou-se central para o campo de estudos em Jornalismo: o processo de seleção das notícias. White foi o primeiro pesquisador a aplicar a  Teoria do Gatekeeping, que tem sua origem no campo da Psicologia, ao contexto comunicacional. O artigo publicado em uma revista norte-americana tornou-se um clássico e deu início a uma ampla corrente de estudos  que caracteriza-se pelo interesse na compreensão das rotinas e processos de produção da notícia – o newsmaking.

O estudo realizado com o editor de um jornal matinal nos Estados Unidos –  que recebeu o pseudônimo de “Mr. Gates” – delineou um modelo que busca demonstrar a forma como ocorre a seleção dos itens noticiosos. Embora seja considerado limitado por diversas razões,  especialmente por não prever a possibilidade de múltiplos gatekeepers atuando ao longo do processo da seleção, o trabalho de White é um marco importante para os estudos em Jornalismo. Shoemaker e Vos (2011, p.230) endossam que “a metáfora do gatekeeper ofereceu aos primeiros pesquisadores em comunicação um modelo para avaliar a maneira como ocorre a seleção e a razão pela qual alguns itens são escolhidos e outros rejeitados”.

Desde a publicação do trabalho de White, passaram-se mais de 70 anos. Ele escreveu em um contexto sócio-histórico completamente diferente do que temos hoje e, então, a pergunta é: o que faz uma teoria se manter relevante mesmo tanto tempo depois? Para Karl Popper, importante filósofo da ciência, uma teoria deve ser sempre colocada à prova, em situações cruciais, para ver se essa resiste. Enquanto resistir, a teoria se mantém válida até o momento em que um acontecimento decisivo, que não possa ser contornado, a refute. No caso da Teoria do Gatekeeping, nos parece que é justamente isso que acontece: ela é capaz de se remodelar para dar conta de novos contextos sociais, comunicacionais e tecnológicos e, por isso, continua funcionando para explicar as rotinas de seleção da notícia – o que prova sua consistência enquanto teoria.  

É evidente que nesse período de tempo a abordagem foi revisitada  e atualizada.  À medida que os processos jornalísticos foram se complexificando, a Teoria do Gatekeeping também foi incorporando novos conceitos e refinando suas abordagens para aprimorar a compreensão do processo de seleção de notícias. Se em um primeiro momento acreditava-se que o processo de seleção de notícias ocorria apenas em um nível individual e altamente subjetivo, aos poucos, os pesquisadores foram percebendo a existência de outros ‘portões’ que exercem influência sobre o produto final –  como o nível organizacional, por exemplo.  Da mesma forma, quando o antigo monopólio do gatekeeping mantido pela mídia de massa é desafiado pelas dinâmicas do ambiente digital, novamente, vemos a teoria se atualizar para dar conta de novos contextos. Podemos perceber esse movimento através da formulação do conceito de gatewatching desenvolvido pelo pesquisador australiano Axel Bruns em 2005, por exemplo. 

Essa capacidade de oxigenação, além de atestar sua consistência enquanto teoria, nos permite traçar sua historicidade. Por isso, quando olhamos de modo transversal para a história da  Teoria do Gatekeeping e suas respectivas atualizações, conseguimos traçar um percurso que acompanha as transformações enfrentadas pelo campo do Jornalismo. No Brasil, infelizmente, especialmente no campo da comunicação, não é comum encontrarmos pesquisas que buscam revisitar teorias clássicas. Mas, tendo em vista a relevância que uma teoria tem para a compreensão da realidade, isso pode ser bem interessante, não acham? Pois bem, é isso que estou tentando fazer com meu trabalho de dissertação! Com esse ~spoiler~ me despeço e até a próxima!

Referências:
LIPPMANN, Walter. Opinião Pública. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

SHOEMAKER, Pamela J.; VOS, Tim P. Teoria do Gatekeeping: construção e seleção da notícia. Porto Alegre: Penso, 2011.

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