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Experts como promotores de notícias: oportunidades e riscos evidenciados 

por Claudine Friedrich



O jornalismo pós-industrial que emergiu com a sociedade em rede trouxe consigo novas dinâmicas para a profissão em decorrência das transformações geradas pelos meios digitais, e a onipresença das mídias sociais tornou-se fator de intervenção em diversos segmentos. Diante disso, organizações ou indivíduos produtores de conteúdo abandonam os métodos tradicionais de difusão e, por meio das plataformas digitais, passam a fornecer seus produtos e serviços, havendo uma adaptação da produção jornalística às lógicas de funcionamento dessas plataformas (KALSING, 2021). É a chamada plataformização do jornalismo –  fenômeno que, segundo Pagoto e Longhi (2021), propicia a desintermediação das fontes jornalísticas, deslocando os veículos de seu papel de mediadores da informação. Nesse contexto, o jornalismo que trabalha com a divulgação da ciência, de forma específica, começa a lidar com a presença cada vez mais constante de cientistas/experts que, ao apropriarem-se  de forma estratégica das ferramentas disponibilizadas pela internet, tornam-se super atuantes nas mídias, produzindo os próprios conteúdos para divulgar seus estudos e informar os cidadãos, e recebendo, muitas vezes, destaque e credibilidade (ROBALINHO, BORGES E PÁDUA, 2020). Neste universo, mediado por algoritmos e métricas, oportunidades e riscos são evidenciados.

Nessa relação de poder, a fonte se coloca como sujeito promotor de notícias, interferindo de forma qualificada e profissional no trabalho dos jornalistas
(MASCARELO E GENTILLI, 2019, p. 13). 

Estudos brasileiros vêm analisando, de forma crítica, este cenário nos últimos anos. A pesquisadora Thaiane Oliveira (2022) avalia que, na atualidade, o impacto social da ciência pode ser medido pela influência da produção científica nas políticas públicas, mas também pela presença de experts nos meios de comunicação e nas plataformas digitais e sites de redes sociais. Ela aponta que esses estudiosos ficam cada vez mais dependentes da atenção da mídia para propagar seus estudos ao terem que lidar com o desfinanciamento das pesquisas e a escassez de incentivo governamental para a divulgação científica. Robalinho, Borges e Pádua (2020), em um artigo que analisa a atuação de canais do YouTube de influenciadores digitais como fontes de informação na pandemia, apontam que os experts, mesmo sem dominarem o processo de produção da notícia, por não fazerem parte do campo jornalístico, conseguem construir uma narrativa com clareza, semelhante às dos repórteres de veículos tradicionais. Esse contexto faz com que as fronteiras entre produtores e consumidores de informações acabem sendo flexibilizadas, num processo impulsionado pela internet, e as fontes, que se tornam cada vez mais qualificadas profissionalmente, interferem no processo jornalístico de modo que aconteça uma naturalização, principalmente em decorrência das dificuldades do trabalho, da pressão e do imediatismo na produção de matérias (ROBALINHO, BORGES E PÁDUA, 2020).

“Os news promoters, portanto, não são necessariamente digital influencers, pois não possuem como trabalho primário a comunicação, porém usam de ferramentas comunicacionais (muitas vezes através de assessorias) para propagarem informações de interesse público das quais possuem conhecimento científico sobre”
(MASCARELO E GENTILLI, 2020, p. 14, grifos dos autores).

Canal do divulgador científico Atila Iamarino | Divulgação do YouTube.

Ao mesmo tempo em que o jornalismo e a ciência conseguem, com essa relação de interdependência, expandir a visibilidade pública de estudos e descobertas científicas – oferecendo à sociedade informações mais diversificadas sobre o conhecimento que é produzido dentro de escolas, universidades e institutos de pesquisa e atuando de forma propositiva contra a desinformação e o negacionismo -, também acabam sendo condicionados às dinâmicas impostas pelas plataformas. Oliveira (2002) pontua que, ao publicarem na internet, os experts são impulsionados por imperativos de marketing e ficam sujeitos à mediação dos algoritmos que, supostamente, aprimoram o conteúdo de acordo com as preferências do consumidor, fazendo com que apenas informações parciais cheguem aos usuários, o que abre espaço para que o impacto social da ciência fique à deriva da relação com a mídia ou de métricas de circulação em redes sociais. E, assim, inevitavelmente, questionamentos sobre este panorama complexo acabam ganhando espaço: A forma como o expert se projeta nas mídias sociais tem relação com a credibilidade conferida às suas pesquisas? Isso pode ter impacto no financiamento público e privado dos estudos? E como a segmentação na entrega dos conteúdos na internet pode afetar a divulgação científica no que concerne ao atendimento do interesse público? São perguntas que alimentam nosso anseio de seguir pesquisando sobre este assunto para enriquecer discussões posteriores. 

Referências

KALSING, Janaína. Jornalistas metrificados e a plataformização do jornalismo. Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Comunicação, pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2021. 

MASCARELO, Thalita; GENTILLI, Victor. As fontes de notícias enquanto promotores de notícias: como a estrutura fluida pós-industrial do trabalho jornalístico permitiu que isso acontecesse. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Vitória – ES, 2019.

OLIVEIRA, Thaiane. Scientific Disinformation in Times of Epistemic Crisis: Circulation of Conspiracy Theories on Social Media Platforms. Online Media and Global Communication, v. 1, p. 1-15, 2022.

ROBALINHO, Marcelo; BORGES, Sheila; PÁDUA, Adriano. Dráuzio Varella e Atila Iamarino: uma análise dos canais do YouTube dos influenciadores digitais como fontes de informação na pandemia da Covid-19. Comunicação & Inovação, vol. 21, n. 47, p. 22-38. São Caetano do Sul, SP, 2020. 

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